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  • Sônia Apolinário

Como vai você, Overhop? Rodrigo Baruffaldi responde


Recentemente, circulou pelo “mercado” cervejeiro que a marca carioca Overhop ia fechar as portas do seu brewpub, em Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro. Depois, a história mudou para: o Brewteco comprou a Overhop. No final, nem uma coisa, nem outra.


A “cereja do bolo” do frisson do mercado foi o fato de que, pela primeira vez, a Overhop não iria participar do Mondial de la Bière, festival que consagrou a marca, assim que foi lançada, tendo se tornado uma das “queridinhas” do evento.


Para saber o que, de fato, estava acontecendo, Lupulinário conversou com Rodrigo Baruffaldi, um dos sócios da Overhop e quem mais “emprestou” seu rosto, literalmente, para a marca.


Foi um papo de mais de uma hora via meet. Antes, porém, de contar o que Barufa (como Rodrigo é chamado pelo “mercado”) falou, um pequeno resumo sobre a trajetória da Overhop.


A origem de tudo está na produção de cervejas em casa, em 2013, e o sucesso das receitas que fez o hobby virar negócio.


Rodrigo chamou para sócio o irmão Flávio e o amigo-irmão Rodrigo Barroso. Começaram como ciganos, como várias marcas cariocas. O ano era 2016 e, segundo uma revista especializada em negócios, o investimento inicial dos sócios foi de R$ 110 mil.


Fazer cervejas bem lupuladas e “diferentes” para atrair um público mais jovem, foi o foco inicial que motivou a criação da OverHop. Três meses depois do lançamento, a Overhop participou do Mondial de La Bière. Rótulos da então nova marca ganharam medalhas no concurso do evento e explodiram nos holofotes do “mercado”.


Um ano depois, já tinha faturado R$1,4 milhão, segundo a mesma revista de negócios. Naquele 2017, a Overhop se tornou sócia da Mistura Clássica, cervejaria de Volta Redonda (RJ) que, à época, se reposicionava com a construção de uma fábrica em Angra dos Reis (RJ). Essa parceria durou até 2018.


Também em 2017 foi criada a Overhop Canadá, com sócios brasileiros, que ainda segue no mercado de lá.


O ano é 2019 e ninguém poderia imaginar que uma pandemia estava chegando. Naquela época, a Overhop estudava caminhos que passavam pela possibilidade de expandir produzindo como cigano, em diferentes estados, e /ou desenvolver um projeto de franquias de brewpubs.


Corta para 2023 e a nossa conversa


Afinal, o que está acontecendo com a Overhop que gerou tantos boatos?

Rodrigo Baruffaldi: Seis meses depois de abrirmos o brewpub, ganhamos várias medalhas, de ouro e platina, no Mondial de la Bière. Então, era um bom momento. O festival, ano passado, foi no início de dezembro. Perto do Réveillon, tivemos eu, meu irmão e Barroso, uma reunião emblemática. Concluímos que íamos precisar dedicar mais tempo e mais investimento financeiro no negócio. E pensamos: e se a partir daqui vendêssemos a Overhop? Mas não era para ser feito algo de forma desesperada. Não era uma crise, não precisávamos fechar. Foi uma possibilidade que nos colocamos. Estamos construindo essa ideia de forma saudável.


A negociação com o Brewteco foi fato ou boato?

RB: Pintou uma possibilidade de negócio com o Rafael (Thomaz, proprietário do Brewteco). Eles estão em crescimento de marca. A ideia era para comprar o espaço e não a marca. Pegariam o nosso ponto, mas o local é pequeno para eles. Não daria para fabricar para todos os bares deles, como era o plano. A Marmota tem um espaço maior. Tivemos uma conversa e pintou a Marmota.


E agora?

RB: Vamos seguir nosso plano para atração de novos públicos, com ações para furar a “bolha” do consumidor de cerveja artesanal e conquistar o público do bairro. Porém, como empresário, não estou fechado à possibilidade de vender. Fechar é que não está nos planos.


A pandemia atrapalhou?

RB: Em 2019, tínhamos uma consultoria nos orientando para a montagem da fábrica que planejávamos construir. A ideia era ter uma fábrica com capacidade para 20 mil litros. Veio a pandemia e mudamos os planos do negócio para uma escala menor, que não tivesse necessidade de venda externa.


Quanto investiram para montar o brewpub?

RB: Investimos R$ 1 milhão para montar o brewpub. A obra durou 6 meses.


Acredita que deram um passo maior do que as pernas?

RB: Ao contrário, demos um passo menor. Diminuímos o tamanho da Overhop. Viramos um conceito de marca. Saímos praticamente de todas as lojas e deixamos de mandar cerveja para fora do estado. É exatamente o modelo beba local que vem funcionando nos Estados Unidos, que é a cervejaria do bairro. Hoje, nossa venda é direta para o cliente. Para bares, só alguns, que são parceiros antigos e ajudam no posicionamento da nossa marca como próprio Brewteco e o Boteco do Raoni.


Por que a Overhop não vai participar do Mondial de la Biere?

RB: Ano passado foi o primeiro depois que abrimos o brewpub. Terminamos o festival quase sem cereveja pra vender no brewpub. Para este ano, não conseguimos produzir uma quantidade que desse para abastecer nossos taps e levar para o evento. Para fazer o Mondial a meia boca, preferi não participar. Eu lamento. Ano passado, ainda fizemos duas cervejas na Mad Brew para participar do Mondial e tínhamos cervejas guardadas. Esse ano não tínhamos essa carta na manga. Com planejamento e mais tempo, dá para participar ano que vem. Este ano, vou participar apenas como jurado do concurso do Mondial.


Será que você vai reconhecer as cervejas dos “colegas” no concurso?

RB: Que nada. Eu bebo pouco. Não sou beer geek. Nunca gastei dinheiro nessas latas caras, não sou consumidor de cervejas extremas. Gosto de cervejinha leve. Eu adoro a Hell de Janeiro, da Motim.


Como é esse negócio de franquias de brewpub que tinham idealizado?

RB: A franquia que pensamos é uma que é possível de ser replicada em espaços pequenos de 150, 200 m2. O franqueado montaria uma filial da empresa que está há sete anos no mercado. O nosso brewpub tem capacidade para 5 mil litros. Hoje, acredito em um modelo de licenciamento de marca, mas isso é para quem já tem uma marca consolidada. Não descartamos esse modelo de negócio. Estamos em busca de um parceiro para escalar isso.


Como avalia, agora, ser cigano?

RB: O modelo cigano veio com muita força, no início. Em 2016, tinha mais cervejaria no Rio do que tem hoje, por conta desse modelo cigano. Quando estivemos à frente da Mistura Clássica, atendemos 12 ciganos. Nenhuma dessas marcas existe mais. A última delas foi a Marmota que abriu seu brewpub. Quem quis prosperar teve que investir. Eu tive um sócio investidor para montar o brewpub.


Então, agora, fabricando a própria cerveja, você consegue ter uma margem de lucro maior, não?

RB: O custo do modelo cigano é alto, gera margem de lucro pequena. Agora tenho produção própria e tenho uma margem melhor. Mas não baixei preço porque quando se faz isso, a sensação que passa para o público é de desvalorização do produto. Então, preferimos fazer promoções. Terça e quarta-feira, por exemplo, é dia de dose dupla sempre de seis tipos de cerveja, não é só de Pilsen. Ou seja, metade das nossas torneiras. Quinta-feira tem rodízio de chope. Sai por R$ 99 ou R$ 139 para quem quiser beber também New England e RIS (Russian Imperial Stout).


Você falou que naquela reunião perto do Réveillon, vocês detectaram que era preciso investir ainda mais tempo no negócio. Isso não estava nos seus planos?

RB: Não. Há dois, três anos, fiz uma mudança de vida. Passei a cuidar mais da saúde e da família. Durante cinco anos, me dediquei muito, me arrisquei muito e botei de lado coisas importantes. Agora, só vou na Overhop uma vez por semana, na terça-feira. Naquela batida antiga, você bebe mais e eu preferi mudar um pouco o foco. Sempre fomos uma empresa familiar e temos outros negócios também. Por exemplo, o Barroso é dentista; eu e meu irmão somos sócios em outros negócios, temos, há 20 anos, uma marmoaria. E a cerveja toma muito tempo.


Você ainda faz as cervejas?

RB: Acho que meu auge como cervejeiro foi com justamente com o brewpub, modelo que permite fazer a produção com mais qualidade. As receitas continuam sendo minhas, mas o cervejeiro do dia-a- dia é o João Sabback da CCZS (Confraria dos Cervejeiros da Zona Sul). Na gerência está a Fernanda Requião. Ela é quem manda na Overhop, agora (risos).


Você sempre foi a “cara” da Overhop. Isso vai mudar?

RB: Começamos como franco atiradores. Em 2016 estouramos. Eu era cervejeiro caseiro e conhecia muitas pessoas, acabei virando o porta-voz da marca. Não foi premeditado. Era uma necessidade da empresa e, agora, eu me afastei um pouco disso. Era muita exposição, muita invasão. Eu me coloquei, agora, como mais reservado. Eu também fazia a rede social de forma empírica. Hoje estou estudando e vou conseguir buscar soluções com propriedade.


O que está estudando?

RB: Estou cursando o terceiro período de marketing da UniCesumar. Quando você se reduz ao seu ponto e perde penetração de mercado, entendi que é preciso investir muito em marketing. Antes do brewpub, produzíamos 12 mil litros por mês e vendíamos em vários lugares. Agora, o desafio é atrair o público do bairro, atrair pessoas que ainda não bebem cerveja artesanal. Vamos fazer algumas ações com esse objetivo. Uma delas será a volta da visitação à fábrica e, sempre, orientar quem chega para que ninguém se sinta perdido diante das 12 torneiras.


O brewpub da Overhop fica na Rua Dezenove de Fevereiro, 190, em Botafogo.

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