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  • Sônia Apolinário

Entrevista: executivos do Mondial de la Bière Rio falam sobre os 10 anos do evento




O ano é 2013; o local, Terreirão do Samba, na Praça Onze; o evento: primeira edição do Mondial de La Bière no Rio de Janeiro. O maior festival de cerveja realizado no país comemora 10 anos, em 2023.


Este ano, o evento retorna para o Pier Mauá, entre os dias 11 e 15 de outubro, após duas edições na Marina da Glória. Será a terceira edição após a pandemia do Coronavírus.


Notícias da época da estreia do festival dão conta que o evento atraiu um público de 23 mil pessoas que teve à disposição 650 rótulos de cerca de cinquenta cervejarias.


Ano passado, de acordo com os organizadores, o público do evento foi de 35 mil. Teve uma oferta de cerca de 1.500 rótulos, mas praticamente o mesmo número de cervejarias do primeiro ano. Para 2023, já estão confirmadas cerca de 60 marcas. O número total de cervejarias participantes, porém, tende a ser maior porque muitas estarão em estandes coletivos como se fossem bares.



Do primeiro (foto acima) ao décimo ano, muitas cervejarias surgiram, mas muitas que participaram dos primeiros anos do evento já não estão mais no mercado. Para fazer um balanço desses dez anos de festival, Lupulinário conversou, por e-mail, com Gabriel Pulcino, Gerente de Negócios do Mondial de La Bière, e Laura Harvey, Coordenadora de Marketing do evento.


Confira:


Como um festival realizado no Canadá e na França veio parar no Brasil?

Gabriel Pulcino: Há algum tempo já realizamos a Brasil Brau (evento focado na indústria da cerveja) e analisávamos o crescimento do mercado de cervejas artesanais no país. Tivemos a oportunidade de conhecer o evento em Montreal e não tínhamos dúvidas que o público do país iria aderir ao festival de uma forma única.


Por que foi realizado no Terreirão do Samba?

GP: O Terreirão foi, na verdade, um acaso. O evento iria acontecer no espaço Ação e Cidadania, no bairro da Saúde. Porém, a demolição do viaduto da Perimetral impossibilitou a realização do evento, dias antes do inicio do festival. Em conjunto com a Prefeitura da cidade, encontramos a solução de mover o evento para o Terreirão do Samba, que foi nossa casa nos anos de 2013 e 2014.


Como era o público que foi na primeira edição do evento?

GP: Eu participei das edições no Terreirão. Desde sempre, o Mondial de la Bière teve um público diversificado. É claro que, naquele momento, a grande maioria era de pessoas que já tinham acesso e algum conhecimento sobre a cerveja artesanal, mas ali já tínhamos também muitas pessoas descobrindo o universo da cerveja artesanal.


Quais as principais diferenças entre o público do festival do Canadá, França e Brasil naquela época e hoje?

GP: O público em outros países já possuí acesso à cerveja artesanal há mais tempo. Os canadenses já convivem com produtos artesanais em bares e restaurantes, empórios, assim como os franceses. Essa é a maior diferença, entre o perfil de consumo. Já na atmosfera do festival, o público brasileiro é totalmente diferente; os momentos de diversão, o coro feito com bom humor cada vez que um copo cai no chão é único.


O Mondial foi entendendo o público ou moldando o público ?

GP: Os dois. O Mondial trouxe ao público a orientação do “beba menos, beba melhor”, a experiência de degustar diversos rótulos (alguns bem alcoólicos), mas sugerindo a hidratação e oferecendo uma ampla gastronomia para que o visitante esteja sempre em condições de degustar mais rótulos de uma forma consciente. Em contraponto, o público foi deixando claro que o festival precisaria ter mais entretenimento. As cervejarias apresentam mais que apenas cervejas, mas experiencias que proporcionam memórias sensoriais e emotivas durante o festival.


Qual o maior desafio de produzir o evento atualmente?

GP: Acompanhar as demandas de um público cada vez mais exigente e de um mercado que evolui muito rápido.


Na época da primeira edição, o movimento cervejeiro do Rio estava começando. As marcas aderiram de cara, foi fácil conquistá-las?

GP: Na realidade foi um trabalho de confiança das cervejarias, que se tornaram grandes parceiras nessa história. Existia a necessidade de eventos que apresentassem o mercado ao público e as poucas marcas locais aderiram por entenderem essa lógica.


De lá para cá, muitas marcas surgiram, mas muitas também saíram de cena. Que época o Mondial fez a edição mais pujante?

GP: Assim como em outros mercados, negócios estão sujeitos ao sistema. Sempre existem negócios que irão perpetuar e outros não. O Mondial sempre é grandioso, as primeiras edições marcaram o Rio de Janeiro no mapa da cerveja artesanal. Nos anos seguintes, o festival se consolidou como a maior vitrine de cerveja artesanal no país e, nos últimos anos, demonstrou a força do mercado nesse momento de retomada e como esse é um mercado que sempre terá o carinho do público.


O concurso que premia cervejarias que participam do evento foi instituído desde a primeira edição. Acredita que por terem vencido os concursos do Mondial marcas se firmaram no mercado carioca?

GP: O concurso é único no mundo, desafia o mercado como um todo. As cervejarias não sabem com quais cervejas irão competir, quais estilos serão os preferidos dos jurados. Enquanto isso, os jurados são colocados à prova, precisando criar seus próprios parâmetros de avaliação e linhas de corte. Acredito que o que define a relevância de uma cervejaria está muito além dos prêmios. Claramente, ser reconhecido por ter produtos vencedores, que agradam profissionais capacitados, é um diferencial. Porém, a forma como trabalhar esses méritos é o que solidifica um negócio.


Como avalia a experiência do evento em São Paulo?

GP: O mercado de São Paulo tem suas peculiaridades, assim como o comportamento do público. Os eventos realizados em São Paulo estavam a cada edição se adaptando mais ao perfil da cidade.


Quais as diferenças entre o público de São Paulo e do Rio, do Mondial?

GP: O carioca tem um comportamento diferente, não tem melhor ou pior, são níveis de exigência distintos. Mas ambos são apaixonados por cerveja artesanal, gastronomia e entretenimento


Por que a edição de São Paulo terminou?

GP: No retorno da pandemia priorizamos o projeto do Rio de Janeiro, logo, o evento em São Paulo não terminou. Estamos analisando o melhor momento para retornar com uma grande experiência em São Paulo.


Há planos de ter uma edição fora do Rio de Janeiro sem ser São Paulo?

GP: Estamos sempre atentos a oportunidades de levar a experiência Mondial de la Bière a outras praças.


Pandemia do Coronavírus: deixou traumas?

GP: Não ficam traumas, ficam aprendizados, e o sentimento de saber que temos a capacidade de nos reciclar em momentos desafiadores como foi a pandemia.


Como foi fazer a primeira edição do festival no pós pandemia?

GP: Um grande desafio, pois o cenário ainda era incerto e tivemos que realizar o retorno em tempo recorde. Com tudo, foi muito satisfatório entregar o evento que estava sendo tão esperado pelo público.


A Marina da Glória como sede do evento foi uma crítica quase que unânime, como avalia isso?

GP: As criticas são comuns àqueles que alcançam o sucesso. O evento precisou apresentar algumas mudanças pela distribuição do espaço, que é também privilegiado (como o Píer Mauá). O evento criou uma identidade com o Píer Mauá e o público sempre cria uma resistência a mudanças, entretanto, muitas pessoas elogiaram a adaptação do evento na Marina da Glória.


Por que vocês saíram do Pier Mauá e por que estão voltando ?

GP: O Píer é um grande parceiro, assim como a Marina, contudo, o Píer tem como principal função receber os navios e o calendário pós pandemia impossibilitou o evento nos dois últimos anos.


As atrações musicais estão se tornando cada vez mais estratégicas para o Mondial?

GP: A atração principal sempre será a cerveja artesanal no Mondial de la Bière, porém o objetivo de criar uma atmosfera mais atrativa para uma permanência maior faz com que tenhamos uma atenção maior na escolha das demais experiências do evento.


Só a cerveja não deveria ser o suficiente para entreter o público em um festival de cerveja?

GP: Cerveja é entretenimento, cerveja é celebração, e cada vez mais o público está em busca de experiências, não só no paladar, mas experiências que ativem vários sentidos e tornem o momento memorável.


Nessa volta para o Pier, quais as novidades da edição?

GP: O retorno de cervejarias que fazem parte da história do festival e o retorno tão pedido pelo público ao Píer Mauá. As demais ficam a cargo dos mestre cervejeiros e suas criações sempre surpreendentes.


Uma crítica que tem sido feita ao evento é que ele está cada vez mais “ambevizando” ou seja, se tornando evento das cervejarias gigantes. Como avalia isso?

GP: As grandes cervejarias estão sempre acompanhando o movimento, muito por experiência com o mercado norte-americano. As primeiras aquisições no Brasil vão fazer 10 anos, mas é curioso ter uma afirmação onde as cervejarias de pequeno porte estão cada vez mais presentes na lista de medalhistas e entre os maiores faturamentos do evento. O Mondial sempre será um evento democrático, onde quem irá direcionar a atenção para as cervejarias “preferidas” será o público, e o mercado está em constante mudança.


Qual o maior erro e o maior acerto já cometidos pelo Mondial?

Laura Harvey: Nenhum evento desse porte está livre de erros e é claro que sempre tivemos um ou outro ponto a melhorar em cada edição, mas nunca um erro que fosse repetido a ponto de marcar a história do festival. O acerto é justamente esse, a capacidade de aprender com os erros e melhorar.


Qual tendência, em termos de mercado, o Mondial aponta, neste momento?

L.H: Como tendência acreditamos que o Mondial siga sendo a vitrine do mercado, não só para as maiores cervejarias, mas também para as estreantes, que começam com uma torneira no evento, ganham visibilidade e se tornam uma cervejaria de renome.


Primeira edição Edição 2022


A edição de 2017 do Mondial foi marcada por uma crise. Pela primeira vez, o formato do copo do evento fora modificado.

O resultado: os novos modelos foram produzidos com erro na medição das doses. A marcação de 125ml correspondia, na verdade, a 100 ml. O copo com erro virou item de colecionador.



Momentos da primeira edição do Mondial de la Bière


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