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Pesquisadores usam reportagens para analisar o cotidiano da cidade do Rio de Janeiro no período da ditadura militar

  • Foto do escritor: Sônia Apolinário
    Sônia Apolinário
  • 26 de jun.
  • 3 min de leitura

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Na canção “Notícia de Jornal”, o compositor Chico Buarque “afirma” que “A dor da gente não sai no jornal”. Verdade ou fake news, o fato é que a cobertura feita pela imprensa dos acontecimentos do Rio de Janeiro, entre os anos de 1964 e 1985, ajudou a criar um mosaico sobre a vida cotidiana da cidade, durante o período da ditadura militar.

 

Diferentes peças que fazem parte desse mosaico foram analisadas por 15 pesquisadores no livro “O Rio de Janeiro nos Jornais: ideologias, culturas políticas e conflitos sociais (1964-1985)”, lançado nesta quinta-feira (26), em Niterói, pela Editora Igualdade.


A obra, de 268 páginas, foi organizada pelos professores do Instituto de História da Universidade Federal Fluminense Jorge Ferreira e Renato Coutinho. Trata-se do quarto volume da coleção “Deu no Jornal”.

 

As três publicações anteriores abordam a Primeira República (1889–1930);  os governos Vargas (1930–1945) e a experiência liberal-democrática brasileira (1946–1964) — todas organizadas por Jorge Ferreira.


 


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A construção do Sambódromo (foto), o Fla X Flu, a remoção de favelas, o “chaguismo”, o movimento estudantil, o (proibido) futebol feminino, o projeto Rondon, a eleição do indígena Xavante Mario Juruna, as intervenções urbanas, o surgimento da facção criminosa Comando Vermelho são algumas das peças do mosaico estudadas pelos pesquisadores.

 

Logo no primeiro dos 12 capítulos, “Pelas páginas do Jornal do Brasil: o golpe de 1964 e o cotidiano da cidade do Rio de Janeiro”, Thiago Machado de Lima - Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da UFF – “situa” o Rio da época do golpe de 64: uma cidade que depois de quase dois séculos não era mais a capital do país, mas ainda mantinha grande parte da máquina pública:

 

“No fim das contas, as grandes decisões políticas do país ainda passavam pelos círculos cariocas. Os acontecimentos do mês março de 1964 foram representativos dessa permanência do Rio de Janeiro como centro político brasileiro naquele tempo. Foi o caso da realização do comício da Central do Brasil, da Revolta dos Marinheiros e do desfecho do golpe civil-militar que depôs o governo do presidente João Goulart e abriu caminho para a instauração da ditadura”, escreveu.

 

Nesse caso, o pesquisador se concentrou “na dor da gente” que saiu no Jornal do Brasil. Porém, reportagens de O Dia, O Globo, O Fluminense, Jornal dos Sports, Tribuna da Imprensa, Revista Manchete, Correio da Manhã, entre outros, serviram de fonte de pesquisa para a publicação.

 

Como observou Renato Coutinho,  “a associação dos termos 'ditadura militar' e 'imprensa' desperta a incômoda sensação de que tudo nessa relação pode ser explicado por uma única chave interpretativa: a censura". Porém, diz ele:

 

- Sem dúvida, a partir da Lei da Imprensa, de 1967, todos os periódicos passaram a sofrer intervenções governamentais, a fim de controlar o teor das suas publicações. Mas uma ressalva importante precisa ser feita. Estudar imprensa e ditadura, ou investigar a ditadura através da imprensa, não se resume a descrever o conflito entre o censor-limitado versus o jornalista-inteligente, tampouco reproduzir o binômio sociedade-vítima contra o Estado-perverso. Especialmente a partir dos anos 1990, os estudos sobre memória e regimes autoritários no Brasil, problematizaram a construção de uma memória da resistência por parte das sociedades nas ditaduras. Entre o papel de vítima do Estado, ou de herói da resistência, havia um múltiplo campo de possibilidades, de estratégias cotidianas de vida adotadas por sujeitos que podiam combinar adesão, negação, indiferença e crítica ao autoritarismo, sem que isso significasse uma postura linear de elogio ou enfrentamento à ditadura.

 

Ou seja, “a dor da gente” estava, sim, nos jornais. E foi devidamente “lida” pelos pesquisadores. Será que vem aí um quinto livro para a série? Renato Coutinho informa que ainda não foi iniciado um projeto nesse sentido. Mas, se vier a ser feito, será sobre o processo de redemocratização nos anos 1980 e a Nova República.

 

E a cereja do bolo dessa iniciativa é que o livro está disponível totalmente grátis, na internet.

 

Para baixar, clique aqui

 

 

 

 

 

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