#resenha: 'Vinhos' de açaí e cupuaçu do Amapá
- Sônia Apolinário

- há 44 minutos
- 3 min de leitura

Por conta da matéria que fiz sobre os fermentados de açaí e cupuaçu, no Amapá, recebi em casa garrafas dos seguintes rótulos: Curiaú (açaí, meio seco, 12%), Brilho de Fogo (açaí, seco, 12%), Curupira (açaí, seco, 12%) e The Spirit of Amazon (cupuaçu, suave, 10%). Todos produzidos pela açaícola Flor da Samaúma.
Convoquei alguns amigos, sommeliers e apreciadores de vinho (nível hard) para conhecerem as bebidas comigo.
A curiosidade era grande. No final, todos ficamos muito bem surpreendidos. Ao beber, comparar essas bebidas com vinho é quase que instintivo porque, sim, os fermentados de açaí e cupuaçu se parecem muito com os fermentados de uva (que, tecnicamente, são os únicos fermentados que podem ser chamados de vinho).

Estava um pouco apreensiva com o Curiaú (nome de rio e terra quilombola no Amapá) porque não gosto de bebidas que tendem para o doce. Porém, o rótulo não tinha o dulçor que eu imaginava, então, foi o primeiro ponto positivo.
Aroma terroso e um sabor que causou certo estranhamento. Tadeu, que é sommelier, disse que remetia a jenipapo – fruta com a qual não tenho a menor intimidade. O grupo avaliou que esse rótulo tinha acidez alta e pouco tanino. Na comparação com o vinho, remeteu a um vinho de mesa (não fino).
Sobre ele, o que diz o produtor:
“Salivação gostosa com notas de açaí e maracujá, aromas presentes de frutas e flores roxas;
Na boca a intensidade com leve toque doce mantém a presença desta bebida envolvendo o sensorial fazendo ambiente próprio para uso de alimentos condimentados;
A harmonização se dá com alimentos temperados intensos como pimentas, tucupi, sal e coentro, além de ser uma boa combinação com pratos gordurosos.”

Sobre o Brilho de Fogo, a primeira informação que o rótulo nos dá: é o nome do maior e um dos mais bonitos beija-flores brasileiros. É encontrado na região da Serra no Navio, no Amapá.
Esse rótulo é totalmente diferente do Curiaú e agradou bastante. Em um primeiro momento, o aroma é forte de manteiga, mas volatiza muito rápido. Na boca, deu para perceber bem o açaí. Notas de nozes foram detectadas. Ane, também sommeliere, afirmou que lembrava vinho feito com Pinot Noir.
Sobre ele, o que diz o produtor:
“Com bastante salivação esta bebida tem forte referência às frutas cítricas como limão, laranja e açaí;
Seu toque verde no aroma e gosto lembram sensações de leguminosas com tons de flor roxa;
Sua harmonização encaixa muito bem com carnes magras e frutos do mar com cocção de longo prazo, dando toques defumados e salgados.”

O Curupira (que o produtor informou ter sido servido em um jantar, na COP 30) deu um show de aromas e sabores. A bebida é maturada com lascas de carvalho francês.
O aroma é frutado e o sabor surpreende com notas de chocolate /cacau e pimenta. No retrogosto, mais especiarias, ainda com destaque para pimenta. No grupo, detectaram um mentolado no sabor e gole final (bem seco) herbáceo. Acidez pungente.

The Spirit of Amazon era o fermentado que mais me “preocupava” por ser “suave”. Talvez tenha sido o rótulo que mais surpreendeu a todos. O aroma é bem frutado. Na boca, o dulçor não é elevado. No fundo do gole, Tadeu identificou um leve amargor.
O cupuaçu é uma fruta que mistura notas cítricas, adocicadas com leve toque ácido. Na região sudeste, onde estamos, é comum ser usada como recheio de bombom de chocolate e sua presença, equilibra o doce.
The Spirit of Amazon reproduz essa alquimia e o resultado é uma bebida refrescante, com dulçor sutil.
A degustação foi feita na Ocre Pizza Bar (Rua Pres. João Pessoa, 319, no Jardim Icaraí, em Niterói, RJ). As bebidas foram escoltadas por pizzas de diversos sabores e o pão da casa com Stracciatella. Ficamos devendo para o fermentado de cupuaçu uma harmonização com algum doce.
































Comentários