#exclusivo: Como vai você, Three Monkeys?
- Sônia Apolinário

- 17 de out.
- 6 min de leitura

O mascote Sylva com os principais rótulos da Three Monkeys
Menos de um mês depois de desfeita a parceria entre a Three Monkeys e o brewpub Narreal, Lupulinário conversou com Bernardo Costa e Silva e Gabriel Rocha, respectivamente, fundador e sommelier da marca carioca – uma das poucas sobreviventes do boom de cervejarias artesanais que explodiu no mercado do Rio de Janeiro há menos de dez anos.
Guiada pelo mascote Sylva, lá se foram 12 anos de história. A Three Monkeys já foi anfitriã de festivais icônicos na cidade, como o BFF (Brewing Friends Festival) e o Monkey's Music Festival. Por um bom tempo, a cervejaria dividiu o posto de queridinha dos cariocas com marcas atualmente extintas como 2cabeças, 3Cariocas e OverHop (atualmente, controlada pelo Brewteco). Também reinou em prateleiras de supermercado e ganhou visibilidade em todo o país.
Agora, com o pé não tão fundo no acelerador, refaz rotas. E mira o mercado do bem-estar para trilhar o caminho da produção de cervejas funcionais, em um futuro bem próximo.
Em julho, a Three Monkeys lançou a Classic IPA Free. Inspirado na receita da Classic IPA, a best-seller da cervejaria, o rótulo é o primeiro sem álcool da marca. Foi desenvolvido por Gabriel, que se debruçou no projeto a partir de 2023.
Atualmente, ele está às voltas com a criação de uma cerveja funcional, para ser consumida até em pós treinos, com previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2026.
Já para o próximo verão, os planos incluem o lançamento de uma Session IPA da linha Clássica e a criação de uma corrida de rua tendo o rótulo Classic IPA Free como anfitrião.
Bernardo é um dos Three Monkeys originais da cervejaria. Os outros foram Felipe Oliveira e Léo Gil que já se desligaram da empresa. Os três eram amigos de colégio, passaram pela experiência de produzir cerveja caseira e tinham menos de 30 anos quando lançaram a marca comercialmente.
- No boom de 2015-2016, muitas cervejarias entraram no mercado quase como um hobby. Nós, porém, sempre nos dedicamos 100% para a cerveja. Isso fez o diferencial – mesma coisa que acontece com a Hocus Pocus, que também ainda está aí. A gente se profissionalizou. Estou há mais de dez anos focado só na cerveja. A empresa é minha vida – afirmou Bernardo, cervejeiro da marca, engenheiro civil por formação.
Supermercado
Quando a Three Monkeys tinha cerca de cinco anos e surfava na onda hype artesanal do Rio, os sócios se viram diante de um dilema: entrar ou não para o varejo? Decidiram entrar. Como consequência, cresceram e apareceram para todo o país. Porém, não há crescimento sem dor, como contou Bernardo:
- O mercado local expande de maneira mais lenta e os pedidos são pequenos. É um mercado onde se investe mais em chope, que é onde a cervejaria artesanal ganha mais espaço em relação às grandes marcas. Porém, atender bares exige mais braços. Foi difícil fazer a escolha, mas optamos por entrar para o varejo. Fomos uma das primeiras marcas a entrar no Zona Sul, uma rede local, no Rio de Janeiro. É um mercado mais elitizado e a parceria deu certo.
Quando chegamos no Pão de Açúcar, demos uma guinada na nossa história em termos de volume e faturamento. Em 2018, o supermercado fez um concurso entre micro cervejarias e nós fomos a mais votada do público.
Começamos uma jornada para atender o Brasil inteiro. Era um volume grande de pedido e isso não é fácil de atender. É preciso muito fluxo de caixa. Tínhamos oito produtos de linha no Pão de Açúcar. E os pedidos não seguem uma programação exata e é preciso atender e não perder a entrega.
O supermercado exige muitas ações. Um deles é um trabalho forte de gôndola. É um nicho difícil de trabalhar, que exige aumento de volume de produção e amplia a exposição da marca.
Foram cerca de dois anos envolvidos mais fortemente com as demandas do varejo. Os eventos, que a marca costumava frequentar desde o seu início, foram sendo deixados de lado. E chegou a pandemia. E junto, dívidas.
Pandemia
Segundo Bernardo, estar no supermercado foi o que salvou a marca. Ele lembrou que, no primeiro semestre de 2020, a cervejaria ficou três meses sem produzir porque ninguém fazia pedidos. O que restou à empresa foi administrar os estoques.
Foi nessa época que os sócios resolveram abrir mão de ter um escritório, que funcionava em Botafogo.
- A gente veio de um 2019 forte, ganhando prêmios importantes. Em 2020, fizemos o BFF duas semanas antes da pandemia ser oficializada. Tínhamos vários projetos de produções colaborativas com cervejarias da Europa. Estávamos em um momento de grande ascendência. Apesar das dificuldades da pandemia, em 2021, nosso faturamento foi de R$ 7 milhões. Foram os supermercados que deram sobrevida pra gente. Ficamos felizes por termos sobrevivido à pandemia, mas no pós-pandemia, teve uma reestruturação – disse Bernardo.

Reestruturação
Esse processo incluiu ir ao mercado em busca de captação e reduzir de 15 para 8 o número de funcionários. Bernardo admitiu que bateu desânimo, nessa época. Tanto que dois dos amigos-sócios saíram do negócio. Mas ele se recusou a fechar a empresa.
Em 2022, o ano do novo normal, eram duas as palavras de ordem na Three Monkeys: reinvenção (da marca) e pagamento (de dívidas). A cervejaria ainda deve R$ 2 milhões, uma dívida basicamente tributária. Bernardo se orgulha de ter quitado tudo o que devia junto a fornecedores e seus antigos funcionários.
E chega 2023, quando deveria ser celebrado os dez anos da cervejaria. Ao invés de festa, novas decisões precisaram ser tomadas. Como uma espécie de volta ao início, a Three Monkeys retornou para os eventos.
Também repensou sua participação no varejo, como explicou Gabriel:
- Voltamos para o Pão de Açúcar, mas só com três rótulos, para não repetir os mesmos erros de antes. Também entramos na Amazon com a cerveja sem álcool.
A terceira "decisão do aniversário" foi dizer “sim” para a proposta de parceria com o Narreal. O “casamento” durou dois anos e, na opinião de Bernardo, foi uma “experiência legal”.
Three Monkeys House
O que ele contou sobre esse período:
- Ter um brewpub é uma vontade que eu tinha e continuo tendo. Porque permite produções menores, permite experiências. Nesse período, fizemos vários experimentos. Além disso, tivemos a oportunidade de interagir mais com o público, mostrar melhor a nossa cara, propor harmonizações. Exploramos tudo isso ao máximo e também melhoramos vários pontos estruturais da casa. Foi uma experiência positiva.
O Narreal funcionava há seis anos. É um lugar muito grande, também encarou a pandemia. Também se endividaram. Eu era o gerente da casa, que tinha seis sócios, mas faltava investimento. E os sócios decidiram que seria melhor encerrar a casa. Saí da operação no final de fevereiro.
Voltar a ter um bar da marca até está nos planos. Porém, não para já, como disse Bernardo:
- Eu acredito no formato do brewpub como negócio. Acho que é por aí que passa a cerveja artesanal. Um bar comum, onde você só vende cerveja está perdendo espaço. As pessoas voltam a um lugar pela experiência e boas cervejas existem em vários lugares. Tenho vontade de empreender nessa área. Tudo é uma questão de localização, mas temos que fazer no nosso tempo – ou contar com um investidor. O brewpub tem a facilidade de permitir a produção de lotes experimentais. Produzimos em Guapimirim, onde a produção mínima é de 2 mil litros. Então, o brewpub tem a vantagem da experimentação e de ajudar a preencher um número maior de torneiras de um estabelecimento.
Uma coisa Bernardo dá como certa: um possível bar próprio não envolveria só cerveja, mas outras bebidas como vinho, por exemplo. Mas como ele diz, "tudo isso é um sonho que ainda está no papel".
I'm Sour
Em 2017, quando a marca tinha quatro anos, fazer cervejas “diferentes” era rotina na Three Monkeys. Foi nessa época fervilhante para a empresa que surgiu um rótulo que nasceu como patinho feio, mas que, depois, se mostrou um cisne.
Estamos falando da I’m Sour, uma Sour com goiaba e pitaya, que viria a ser a primeira de uma linha. As outras são I’m so Sour (morando e pitaya), I’m F#cking Sour (pitaya, framboesa e limão) e I’m Damn Sour (pitaya e maracujá).
Patinho feio porque, como lembrou Bernardo, esse estilo de cerveja ácida ainda não era bem aceito pelos consumidores, na época do seu lançamento.
- Ainda hoje, meu pai não considera como cerveja nenhum rótulo da linha, porém, a I’m Sour virou referência do estilo. É nosso segundo rótulo mais vendido. O carro-chefe é a Classic IPA – comentou.
Free

No momento, quem começa a disputar a preferência do consumidor dentre as produções da Three Monkeys é a Classic IPA Free. O rótulo, segundo Gabriel, “tem feito um sucesso tremendo”. Ele acrescentou:
- Cerveja sem álcool é uma tendência que veio para ficar. O mercado dos produtos que fazem bem só cresce. Inclusive, tem bebidas sem álcool, mas que simulam o efeito positivo do álcool, que liga o gatilho, mas que a pessoa não está, de fato, ingerindo álcool. As pessoas estão indo por esse lado. São bebidas que simulam o efeito o álcool, mas sem a ressaca. Isso é algo que estamos pesquisando.
Os projetos da Three Monkeys incluem promover uma corrida de rua no início de 2026, além do lançamento de uma Session IPA da linha clássica.
Mais para o meio do primeiro semestre, está previsto um segundo lançamento: uma cerveja funcional, a partir da base da Classic IPA Free. O projeto está sendo desenvolvido por Gabriel junto com um grupo nutricional.
Como será o amanhã da Three Monkeys?
Bernardo respondeu:
- Buscamos mais equilíbrio, ter uma certa liberdade para criar, mas com um crescimento saudável.
































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