top of page

"Itaipu corre risco histórico, ambiental e arqueológico", diz autor de livro que conta a história do bairro de Niterói

  • Foto do escritor: Sônia Apolinário
    Sônia Apolinário
  • há 1 hora
  • 3 min de leitura

Atualizado: há 3 minutos


ree

Praia de Itaipu, 1943. Acervo do Centro de Memória Fluminense


Era uma vez, um bairro de Niterói. Que por um tempo, passou a pertencer a um município vizinho. De volta ao seu “CEP” de origem, foi dividido em dois, tendo ficado com a menor parte. Tanto ontem quanto hoje, é sua beleza que atrai tanta cobiça e, com ela, ameaças de vários tipos. Resumidamente, é isso o que nos conta “Praia de Itaipu — histórias de um paraíso errante”, de Victor Andrade de Melo (Sophia Editora).

 

Trata-se do quarto livro sobre Niterói lançado pelo professor de didática da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – o segundo somente este ano. Os outros são: “A vida esportiva de Niterói (séc. XIX–1919)” e “A Sevilha Fluminense”, sobre as touradas que eram realizadas na cidade.

 

Em junho, ele lançou “As seis vidas de Niterói – uma biografia”. Agora, voltou sua atenção para Itaipu, na Região Oceânica da cidade. Na nova obra, Melo traça um panorama da vida social, econômica, política e cultural do bairro, desde os tempos coloniais até o fim da década de 1970. Independente da época, uma coisa sempre se manteve: trata-se de um território em constante disputa. 


ree

- Niterói passa por uma nova onda de crescimento imobiliário. Uma Lei Urbanística foi aprovada recentemente que, no mínimo, traz riscos para o sistema lagunar-marítimo de Itaipu. Na região, há indícios arqueológicos de população de litoral mais antiga que se tem notícia, de seis mil anos. Acredito que Itaipu corre risco histórico, ambiental e arqueológico. Por isso quis contar a história da região – disse o professor que mediou o painel “Niterói e suas Histórias”, na abertura da Festa Literária Internacional de Niterói, recém-realizada.

 

No livro, ele conta a história de Itaipu de forma cronológica. O marco zero volta ao tempo em que, no local, só existiam fazendas nas mãos, principalmente, de duas famílias: Frias (antepassados do militar e político Miguel de Frias - 1805 /1859 – que batiza rua em Icaraí) e Cruz (antepassados de Francisco da Cruz Nunes - 1898 /1962 - que batiza a principal via que leva a Itaipu).

 

Com a emancipação de São Gonçalo, de Niterói, em 1892, outras duas então freguesias niteroienses mudaram de município: Cordeiro e Itaipu.

 

Levou 51 anos para Itaipu voltar a pertencer a Niterói. Agradeçam Amaral Peixoto por isso. 


ree

- Na época, ele era o governador não eleito, portanto, interventor. E decidiu fazer uma reorganização dos municípios do estado e colocou Itaipu de volta para Niterói. Nessa volta, o bairro já estava concebido para passar por um desenvolvimento imobiliário e turístico – contou Melo.

 

Na obra, o autor enumera alguns marcos da região como a instalação da Igreja de São Sebastião (local da foto do autor e ponto de vista da foto da capa do livro), cuja construção teve início no século XVII. Com a conclusão em 1716, teve papel central para elevar a região à condição de freguesia de São Sebastião de Itaipu, em 1755.

 

É citado também o funcionamento do Recolhimento Feminino de Santa Tereza, fundado em 1764, e posteriormente convertido no Museu de Arqueologia de Itaipu.

 

O livro termina em 1979, data da abertura do canal de Itaipu, que divide a praia em duas e cria Camboinhas - bairro onde o carioca Melo mora há cinco anos.

 

Essa divisão, na opinião do professor, foi uma grande agressão pela qual a região passou – se não for a maior delas. O canal foi obra da Veplan Engenharia que, em 1973, adquiriu a Companhia Territorial de Itaipu. A Companhia, nos anos 1940, já tinha projetado o loteamento Cidade Balneário de Itaipu. Por resistência de parte da população, os projetos da Veplan foram parar na Justiça – mas isso é história para um novo livro.

 

No capítulo 5 de “Praia de Itaipu — histórias de um paraíso errante”, Melo lista todas as agressões sofridas pelo bairro, desde o século 18, o que inclui desde restrições ao direito da pesca até posses que não foram respeitadas.

 

- Quem fundou a ideia de Itaipu como paraíso veio de fora da região. O turismo é que vende essa ideia de paraíso. Quem vivia na região não vivia, de fato, um paraíso. Por exemplo, o canal mudou a salinidade da lagoa e os camarões sumiram. Não por acaso, atualmente, a profissão de pescador está em risco. De certa forma, a região é uma expressão de resistência. É um indicativo, também, de como o progresso passa por cima de tudo – afirmou o professor.



Comentários


Destaques
Últimas

© Todos os direitos reservados Comunic Sônia Apolinário 

bottom of page