top of page
  • Sônia Apolinário

Ab InBev mergulha no universo NFT

A cerveja chegou ao universo NFT. Essa sigla, em português, significa tokens não-fungíveis. Na prática, trata-se de um registro digital cuja validade é garantida pela tecnologia blockchain. Transformar objetos em NFTs é o “must have to do” das empresas, no momento. Se é modismo, esnobismo, bolha ou pura especulação, só o tempo dirá. O fato é que a Goose Island transformou a safra de 2020 da sua anual Bourbon County Stout em NFT.


No Brasil, cem garrafas foram colocadas à venda ao preço unitário de R$ 180,00. A compra tinha que ser feita em um marketplace de NFT onde se usa criptomoedas para fazer as transações. A cerveja evaporou em menos de 24 horas. Quem levou, não ficou apenas com uma garrafa de Imperial Stout maturada em barris de whisky bourbon com 14,7% de teor alcoólico e 60 IBU, mas se tornou proprietário do rótulo.


Quando recebi o release da Ambev (grupo cervejeiro que detém a marca Goose Island), tive muitas dúvidas, enviei algumas perguntas, mas não obtive resposta – algo bem comum. Assim, tirei várias dessas dúvidas com o empresário Dalmo Marcolino, que fez a primeira venda de cerveja com Bitcoin, no Rio de Janeiro.


Para começar, é preciso explicar o que significa “tokens não-fungíveis” : uma nota de R$ 10,00 tem o mesmo valor para qualquer pessoa (é algo fungível). Se eu tenho uma nota de R$ 10,00 autografada por um atleta campeão olímpico, ela passa a ter um valor diferente para mim, o que torna a nota algo não fungível.


Assim, um NFT é um comprovante de direito sobre algo que não pode ser trocado ou substituído por outro de igual qualidade ou valor. Atualmente, qualquer pessoa pode transformar qualquer coisa em NFT e, quem sabe, lucrar.


Nesse mundo, vale o “minha NFT, minhas regras”. Ou seja, o criador da NFT decide se a pessoa vai adquirir algo físico e também virtual, só virtual, se vai se tornar “sócio” de uma marca ou produto.


De acordo com o release sobre o lançamento, enviado para a imprensa, “além de garantir a sua cerveja, o consumidor ainda vai ter a propriedade do rótulo transformado em NFT, uma tecnologia que permite ao comprador ser o proprietário dos direitos de uma obra digital. A iniciativa ainda é nova no Brasil, ainda mais dentro do universo das cervejas”.


“A chegada da Bourbon County é sempre muito esperada anualmente. Então, queremos anunciar esse momento de maneira especial. Os NFTs têm gerado cada vez mais interesse nas pessoas em um período que o digital se une cada vez mais com o real. Com essa iniciativa, levamos para os amantes dessa cerveja toda a experiência que ele já conhece ao poder degustá-la e ainda somamos esse momento com uma inovação dentro do universo cervejeiro no país tornando-a definitivamente em um artigo digno de colecionador”, afirmou Guilherme de Almeida Aguiar, gerente de marketing de Goose Island, no release.


Qual a vantagem para o consumidor adquirir uma cerveja NFT? Quem responde é Dalmo Marcolino:


“Por que uma pessoa compra uma obra de arte, por exemplo? Por status, esnobismo, mas também como forma de investimento. O NFT agrega um valor diferente do valor de consumo a um produto. Não sei os termos da NFT da Bourbon County. Quando falam que o proprietário passa a ter os direitos de uma obra digital, receberão percentual de vendas? Ou é possível pensar como uma pessoa que coleciona figurinhas e consegue uma mais especial que pode vir a ser valorizada, pelo mercado e, portanto, passível de gerar lucro em uma negociação futura? Seja como for, o NFT é um ativo digital, uma reserva de valor dentro do mundo virtual”.


Dentre as minhas dúvidas não respondidas pela empresa estava a tecnologia blockchain utilizada. A ETH (Ethereum) tem sido a criptomoeda mais citada quando se fala em NFT.


A Bourbon County é produzida apenas uma vez por ano, o que já confere um certo ar de exclusividade para o rótulo. São itens exclusivos dentro do seu portfólio (ou até mesmo especialmente criados) que as empresas estão escolhendo para transformar em NFT – uma “brincadeira” iniciada na produção de memes e artes plásticas que está se espalhando para todo tipo de produto. Em termos de marketing, ao tornar algo NFT o que se busca é “acrescentar” status ao produto, a partir do uso de uma tecnologia.


“Neste momento, as empresas estão loucas para entrar nesse universo para garantir seu lugar em um negócio que não se sabe, ainda, aonde vai chegar, mas com potencial de ir muito longe. Quando falam que qualquer um pode criar um NFT, é verdade. Da mesma forma como qualquer pessoa pode criar uma conta de Instagram ou Tik Tok. Mas fazer o seu perfil nessas redes bombar, é que são elas. É a mesma coisa com um NFT”, comenta Dalmo.


Assim, de acordo com o site Cointimes, Ab InBev já contratou uma agência de comunicação especializada para prestar consultoria estratégica no universo NFT.


Profissional de TI por formação, Dalmo tentou levar esse “mundo” para o ambiente cervejeiro, quando criou a marca Bierteria. Estudioso da tecnologia blockchain, vendeu um de seus rótulos, em 2017, recebendo bitcoins como pagamento. No ano seguinte, no seu bar, o The Drunk Trunk, criptomoedas também eram aceitas.



Em relação ao lançamento da Bourbon County Dalmo observou que o rótulo foi vendido em um marketplace “genérico” e ficou se perguntando se a Ambev estaria desenvolvendo seu marketplace de NFT com foco em cervejas. No caso da Bourbon County, a bebida “dividiu prateleira” com 424 de obras de arte com valores que iam de R$26.250.000,00 (uma homenagem ao ator Paulo Gustavo feito por uma criança de 10 anos) a R$1,00. Após encerrar as vendas, a cerveja não pode mais ser localizada no marketplace.



De acordo com a revista Exame, a Budweiser, também marca da Ab InBev, comprou uma arte digital em blockchain e adquiriu o domínio Beer.eth. Ao todo, foram US$ 122 mil dólares (R$ 635 mil) investidos nas operações. Só o domínio custou 30 ETH ou quase US$ 96 mil.


“NFT é a nova queridinha dentro do universo de criptomoedas. É certo que tem um coisa muito louca acontecendo nesse mercado que é preciso ser olhado com cuidado e carinho. Quando a Internet surgiu, também era algo louco acontecendo. O e-mail também já foi algo louco acontecendo. Será que a NFT é uma bolha? Há 12 anos dizem que o bitcoin é uma bolha e ele está aí. No momento, NFT é tendência, é uma nova corrida do ouro”.

Destaques
Últimas
bottom of page