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'No Céu da Pátria Nesse Instante': um papo com a diretora Sandra Kogut

  • Foto do escritor: Sônia Apolinário
    Sônia Apolinário
  • há 2 dias
  • 4 min de leitura

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Nas eleições de 2022, se ao invés de Luiz Inácio Lula da Silva ter sido eleito, o então presidente da República tivesse sido reeleito, o evento que aconteceu na sexta-feira (15) à noite no Cine Arte UFF, em Niterói, poderia ter sido realizado?

 

O evento em questão foi um debate, após a exibição do documentário “No Céu da Pátria Nesse Instante”, com a presença da diretora Sandra Kogut. Contou com a participação de cerca de cem pessoas e teve mediação do historiador e professor Alex Côrtes.

 

- Se o resultado da eleição fosse outro, não sei se eu ia estar aqui. Tudo podia acontecer, inclusive, não ter filme e se tivesse, tenho certeza que eu não teria lançado ainda – afirmou Sandra.

 

Comparar a obra com o também documentário Apocalipse nos trópicos, da diretora Petra Costa, também lançado este ano, é inevitável. Ambos se debruçam sobre os acontecimentos relacionados com as eleições de 2022 e terminam da “mesma forma” – com a tentativa de golpe dada no dia 8 de janeiro de 2023 quando “patriotas” invadiram e depredaram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal.

 

O “resultado” dessa comparação é perceber que os dois longas são complementares.

 

- Não queria fazer um filme com as pessoas habituais da política. O filme é todo nesse lugar do anônimo. A câmera também está sob o ponto de vista das pessoas. Não tem imagem de arquivo. Eu falo pouco e isso foi muito pensado – explicou.

 

Sandra contou que seu ponto de partida foi o desejo de mostrar o cidadão comum, que faz a democracia do país acontecer. Em um momento em que os nervos dos brasileiros estavam à flor da pele, não bastava uma ideia na cabeça e uma câmera na mão. Como captar as imagens, as falas, as verdades de cada um se tornou um desafio, o que transformou o filme, nas palavras de Sandra, em “uma experiência”.

 

A solução que a diretora encontrou foi, primeiro, convidar pessoas dos dois lados para registrarem, com seus próprios celulares, uma espécie de diário. Dessa forma, ela construiu uma rede de colaboradores voluntários. E acabou por mostrar os verdadeiros heróis anônimos das eleições de 2022 – na verdade, de todas as eleições: a quantidade gigante de pessoas que a Justiça Eleitoral mobiliza para que o voto de cada brasileiro seja registrado na urna eletrônica em todos os cantos do país.

 

No filme, essa parte pouco vista das eleições, da preparação da urna eletrônica até sua chegada ao local de votação; a votação propriamente dita e a transmissão dos dados está representada por fiscais eleitorais que atuaram em Anajás, cidade distante 36 horas de barco de Belém (PA).

 

- O tempo todo tive que pensar e repensar como fazer o filme e inventar soluções enquanto o filme acontecia. Várias pessoas iniciaram os diários e desistiram no meio do caminho. Foi mais de um ano de gravações desse tipo e isso ajudou muito. Quando os diários passaram a ser insuficientes, busquei ter equipes em locais diferentes para filmar dias-chave. Em um dos acampamentos,  tivemos uma pessoa infiltrada. Ele se fantasiou de verde e amarelo e foi para o local. E ficou surpreso com a organização. Voltou um segundo dia, mas foi identificado e teve que engolir o cartão da câmera – contou Sandra.

 

A ideia inicial era terminar o filme após o resultado oficial da eleição ser anunciado. Havia uma expectativa que tudo se resolveria no primeiro turno, mas teve um segundo. Depois, rondaram muitas especulações relacionadas com a (não) posse do presidente Lula. E o trabalho seguiu. Quando tudo parecia, finalmente, ter terminado, veio o 8 de janeiro.

 

E o filme é lançado no momento em que o mesmo grupo derrotado nas urnas ainda tenta retomar o poder a partir de um país estrangeiro, no caso os Estados Unidos.

 

Seu filme acabou mesmo? Perguntou Alex Côrtes, ao que #ComuniC complementou a pergunta: se o resultado fosse outro, teria seguido com o projeto e terminado o filme?

 

- Esse filme eu terminei, mas parecia que o filme nunca acabava. Se o resultado da eleição fosse outro, não sei se eu ia estar aqui. Tudo podia acontecer, inclusive, não ter filme e se tivesse, tenho certeza que eu não teria lançado ainda.


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Disse Sandra:

 

- O 8 de janeiro foi forte. Materializou o medo que passamos meses sentindo e me fez repensar o filme inteiro. Desde o início, fui clara com as pessoas que convidei para participar. Falei que eu tinha um genuíno interesse em saber como pensavam. E as pessoas que toparam participar me mandavam o material que recebiam. Os amarelinhos, essas pessoas estão em uma espécie de realidade paralela. É impressionante a máquina de ódio. É avassaladora a quantidade de material que produziam e tudo muito bem feito. Tinha resposta para todas as questões. Quando comecei, pensei em fazer um arquivo do presente, mas tudo acontecia muito rápido, não tinha como prever o que vinha pela frente e as notícias que chegavam eram inacreditáveis. Era difícil entender a linha do presente. Seja como for, eu quis dar humanidade a todos os personagens. Esse momento em que o filme foi lançado não poderia ter me deixado mais feliz. Acredito que o filme vai ser uma ferramenta de reflexão. O filme lança um olhar pelo bem comum que é o que está sendo esmagado pela extrema direita. Os voluntários que trabalham nas eleições, trabalham pelo bem comum. Nosso processo eleitoral é único e está sendo atacado. Poder mostrar isso, nesse momento, é muito bom.  

 

 

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