Way Beer cria IPA Loka com a planta do absinto
Uma cerveja feita com Artemisia absinthium é o mais recente lançamento da paranaense Way Beer. Garrafas de IPA Loka chegarão ao mercado até o final do mês. O ingrediente especial é a planta com a qual se faz o mítico destilado absinto.
A fama da bebida não é das melhores. O auge do seu consumo foi nos anos 1910, quando, somente a França, produziu 22 milhões de litros de absinto, em apenas um ano. No mesmo período, a criminalidade no país explodiu. Reza a lenda que, sob efeito do destilado, o poeta Paulo Verlaine atirou no seu amante, o também poeta Arthur Rimbaud; e o pintor Van Gogh, em crise de depressão, cortou parte de uma de suas orelhas. Foi uma época muito louca.
“O marketing da cervejaria apresentou o nome IPA Loka e eu deveria criar uma receita que fizesse jus a esse nome. De cara, me lembrei dessa época que foi muito louca. Na França, havia o horário verde: das 17h às 19h, quase todos paravam para beber absinto. A planta levou a má fama, mas o problema é que o destilado feito naquela época tinha 80% de teor alcoólico. O que as pessoas bebiam era metanol”, explica o curitibano Alessandro Oliveira, um dos sócios da cervejaria e responsável pelo desenvolvimento de produtos e produção da Way Beer.
Outro “detalhe” que levou o cervejeiro a experimentar o uso da Artemisia na receita é o fato dela ter um paladar amargo, como o lúpulo.
O médico ortomolecular, beer sommelier e homebrewing Bruno Teixeira informa que a planta - que é apenas um dos componentes do absinto - em baixas doses, tem efeitos desde vermífugo a afrodisíaco. Porém, alerta, em altas doses, tem efeitos psicoativos, “motivo pelo qual há risco de intoxicação caso haja abuso”.
“A Artemisia tem um composto ativo chamado Tujona que é tóxico e é parcialmente
inativado pela infusão. Porém, tem efeito acumulativo no organismo, o que contraindica consumo de altas doses e por períodos prolongados. Usar a planta para fazer uma cerveja, acho legal. Qualquer inovação neste sentido, acho válido e me atrai. Confesso que já tinha pensado em usar Artemisia em uma das minhas produções caseiras. Lembro, porém, que não pode abusar do volume e frequência do consumo, por causa dos riscos dos efeitos tóxicos”, comenta Bruno, também sócio da 2Hop BrewShop, em Niterói (RJ).
A IPA Loka chega ao mercado com 6,6% de teor alcoólico e 68 IBU. O cervejeiro fez vários testes para chegar à receita que considerou ideal. Segundo ele, a Artemisia tem aroma herbal, “meio camomila”. Como se tratava de uma IPA, “não podia tirar o protagonismo do lúpulo”. Assim, ele fez uma infusão da planta desidratada que foi adicionada à cerveja na fase de maturação. Os lúpulos que, na sua avaliação, melhor combinaram com a planta foram para o dry hopping: Equinox e Mosaic.
A Artemisia foi comprada de um produtor da região próxima à fábrica da cervejaria, que fica em Pinhais (região metropolitana de Curitiba), e fornece regularmente para a indústria de chá.
Na cerveja, o aroma do absinto pode ser percebido. Não esperem, porém, uma bebida verde. Sim, Alessandro admite que seria “bacana” se a Loka ficasse com a cor característica do absinto. Ele conta que só conseguiu chegar na cor verde quando, em um dos seus testes, fez uma infusão com álcool a 80%.
“Tive que quebrar a cabeça para lançar uma cerveja totalmente dentro da lei”, comenta ele lembrando que o absinto é uma bebida liberada em todo o mundo, Brasil inclusive.
Fundada em 2010 (comemora 9 anos em outubro), a Way Beer é conhecida por sempre inovar nas suas receitas. A todo momento, a cervejaria lança novos rótulos. Alessandro afirma que tem mais ideias de receitas do que consegue colocar em prática. Em junho, vai rolar um verdadeiro derrame de novidades por conta da festa Way and Friends, quando serão apresentadas 20 cervejas colaborativas que já se encontram em desenvolvimento.
Na opinião de Alessandro, é com novidade que se fideliza um consumidor de cerveja artesanal:
“Quem bebe cerveja artesanal gosta de descobrir coisas novas. No Brasil, a cerveja é uma bebida cara, então, é preciso se diferenciar de alguma forma para atrair o consumidor, que não é fiel a um estilo. Ele não gosta de repetir rótulos, então, para a marca fidelizar esse cliente, tem que estar sempre oferecendo cerveja diferente”, comenta o cervejeiro.
Com produção de 60 mil litros por mês, a Way Beer pode ser enquadrada como de médio porte, dentro do critério usado recentemente pelo Festival Brasileiro da Cerveja, realizado em Blumenau. Foi lá que a cervejaria se apresentou para o mercado. Porém, Alessandro não quer mais saber do evento.
“Eles se perderam. Esse festival e o Mondial de la Bière não deveriam existir. Eles só atrapalham a nossa cultura cervejeira artesanal. Eles não estão preocupados com as cervejarias, mas em ganhar dinheiro. Não há diálogo e é caríssimo para participar. Eles enchem a burra de dinheiro e todo o seu conceito é equivocado. No Festival de Blumenau, tem cervejaria que chega a gastar 30 mil para inscrever cervejas no concurso. Tudo é dinheiro e zero cultura cervejeira”, afirma Alessandro.
Ele conta que deixou de participar do evento de Blumenau há dois anos. Na última edição, foi até lá por conta da feira de equipamentos e achou o festival propriamente dito “decadente”.
Na sua opinião, falta um órgão regulador, no país, que ajude a organizar o crescimento do setor.
“Em três anos, na nossa região, surgiram cinco cervejarias. Porém, o mercado não cresceu com essa mesma velocidade. É o modismo que faz isso acontecer. Esse movimento é aproveitado por empresas que estão por traz dos festivais. Gastar R$ 30 mil, R$ 40 mil para participar desses eventos só para ter visibilidade? Não é possível”, afirma Alessandro.
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