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  • Sônia Apolinário

Robô ajuda a fiscalizar gastos de parlamentares com dinheiro público

No último mês de maio, Rosie abriu uma conta no Twitter. Até o momento, já reuniu 18,4 mil seguidores. Ela posta várias mensagens por dia, com textos praticamente iguais. É muito comum deputados responderem para ela. Muitos, inclusive, batem boca com ela. Rosie, porém, não se abala. Afinal, ela é uma robô e seu “trabalho” é monitorar como parlamentares usam a verba de gabinete. Rosie é uma “integrante” da Operação Serenata de Amor. Ela foi apresentada hoje, (quinta-feira, dia 16 do novembro), durante o VII Fórum da Internet no Brasil, que acontece até amanhã, no Rio de Janeiro.

No painel “De olho no legislativo: controle social e Internet no Congresso Nacional”, o “colega” de Rosie, o hacker e jornalista de dados Pedro Vilanova apresentou a Operação Serenata de Amor. Trata-se de um projeto de inteligência artificial para análise de gastos públicos, no Brasil.

Na verdade, a iniciativa foca nos pedidos de reembolso feitos por parlamentares, para justificar o uso da verba de gabinete a que têm direito, que pode chegar a R$ 46 mil por mês – salários à parte.

“O Brasil é o sétimo país, em todo o mundo, com mais dados públicos disponíveis. A questão é como analisar e saber o que fazer com tanta informação”, observa Pedro.

Essa torrente de dados ficou disponível a partir de 2011, quando a Lei de Acesso à Informação foi homologada, no Brasil, dando à sociedade civil o direito de obter informações de interesse público. A partir desse momento, tudo que não fosse segredo de segurança nacional, se tornou disponível à qualquer brasileiro.

Monitorar como a verba parlamentar dos deputados federais estava sendo gasta foi ideia de um grupo de amigos hackers, moradores de diversas cidades do país. Pedro, por exemplo, é um carioca que mora em Brasília. Essa verba é para “ajudar” o parlamentar na compra de comida, passagens de avião ou combustível para seus veículos, por exemplo.

Quando o grupo descobriu que os deputados emitem 1.500 notas fiscais de justificativa de gastos, por dia, perceberam que iriam precisar de ajuda. Em janeiro, Rosie “nasceu” e foi para a “escola”: ela aprendeu todas as normas que regulamentam a utilização da verba de gabinete, além de parâmetros que permitissem identificar conceitos como “caro” e “barato”.

Em poucos meses, Rosie detectou cerca de 8 mil suspeitas de mau uso da verba parlamentar. Isso resultou no envio, pela Operação Serenata de Amor, de 600 e-mails para a Câmara dos Deputados com pedidos de esclarecimentos. Nesse momento, as denúncias questionaram cerca de R$ 400 mil reais gastos por 216 deputados. Rosie “encontrou”, por exemplo, nota de R$ 6 mil para uma única refeição e outra com valor parecido em compra de gasolina, que se repete todo mês.

“Em uma semana, eles receberam um volume de denúncia que costumam receber durante um ano inteiro. Percebemos que teriam dificuldade para nos responder. Foi por isso que resolvemos ir para o Twitter”, conta Pedro.

Na conta @RosieDaSerenata, as mensagens são sempre iguais. O que muda é o nome do parlamentar. Rosie não emite opiniões. Apenas informa ter detectado um “gasto suspeito”. Há cerca de 40 dias, ela passou a analisar, também, os pedidos de reembolso dos senadores.

Pedro avisa que não adianta enviar denúncias para Rosie porque ela “não trabalha sob demanda”. Ele admite que há um “esforço” da equipe, formada por 11 pessoas, de não transformar a política e, principalmente, a conta de Rosie em um “caça às bruxas”. A taxa de retorno dos parlamentares às denúncias, atualmente, está em torno de 11%.

Print da conta no Twitter @RosieDaSerenata feito no dia 16 de novembro de 2017, às 19h05

“Nosso objetivo é fazer o deputado responder e, se for o caso, devolver dinheiro, como já aconteceu. O principal de tudo é trazer o parlamentar para conversar com o cidadão comum. Até agora, de uma maneira geral, as pessoas estão conduzindo bem os debates”, conta Pedro que se diz “preocupado” de como a inteligência artificial pode vir a atuar nas próximas eleições.

A Operação Serenata de Amor nasceu, propositalmente, em um dia 7 de setembro. O ano foi 2016.

Financiamentos coletivos realizados de forma recorrente têm sustentado esse trabalho.

Cerca de 700 pessoas atuam como voluntárias para o funcionamento do projeto.

Esse projeto foi batizado como Operação Serenata de Amor em referência a um escândalo ocorrido nos anos 90 na Suécia, conhecido como “Caso Toblerone”: a então vice-ministra sueca perdeu o cargo por ter usado dinheiro público com gastos pessoais, no caso, a compra de um chocolate da marca Toblerone.

Sucesso nos anos 1960, o desenho animado "Os Jetsons" inspirou o nome da robô auditora. Rosie é o nome da robô doméstica da família futurista.

Saiba como contribuir com o Projeto Serenata de Amor

Sobre o VII Fórum da Internet no Brasil, aqui

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