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Sônia Apolinário

Uma resenha de duas versões da Petroleum

Páscoa se aproximando, vou queimar a largada já falando de uma cerveja chocolatuda. Experimentei, em chope, duas versões da icônica Petroleum, da DUM Cervejaria (Curitiba, PR): Carvalho Francês e Saison.


A Petroleum, de acordo com a marca, é uma Cocoa Imperial Oatmeal Stout cuja história se confunde com a história da criação do movimento cervejeiro, no sul do país – e já foi contada pela marca, detalhadamente, em um documentário.


Lançada em 2012, recebeu medalha de ouro e prata no Concurso Brasileiro de Cervejas, respectivamente, em 2016 e 2014, nas categorias British Imperial Stout e American Imperial Stout.


Como diz Murilo Foltran, um dos sócios da cervejaria DUM, por lá, ninguém gosta de ficar “dentro da caixa”. Assim, nada mais normal do que experimentar variações de receitas da Petroleum.


Faz parte do portfólio da marca três versões em madeira produzidas a partir da receita original: Amburana, Carvalho Francês e Castanheira. Para criar essa linha, os cervejeiros contaram com a colaboração de Agenor Maccari Junior, professor da Universidade Federal do Paraná, um estudioso das madeiras brasileiras. A Petroleum Castanheira ganhou medalha de prata no South Beer Cup – Copa Libertadores de Cerveza 2015.


Também no portfólio estão as versões Baunilha e Chipote cuja produção contou com a colaboração de Saulo Calliari, dono da Cipria Ervas e Especiarias, em Curitiba. Todas as versões mantiveram os mesmos 12% de teor alcoólico e 96 IBU da receita original.


Por conta do evento DUM Day, que a cervejaria costumava promover, vários “experimentos” foram feitos a partir da primeira receita. Um deles resultou na Petroleum Saison, ou seja, uma então Cocoa Imperial Oatmeal Stout feita com fermento normalmente usado para criar o clássico estilo belga. Reza a lenda que restava apenas um barril dessa cerveja, que foi parar em Niterói, em uma das torneiras do bar Fina Cerva, “por acaso”, perto da minha casa.


A Carvalho Francês é preta, opaca, com espuma marrom de formação regular e média persistência que deixa rastros pelo copo. No aroma, senti um chocolate caramelado, amadeirado e tantinho de canela. Na boca, o dulçor achocolatado é seguido por um amargor que, primeiro, equilibra os sabores, mas, depois, permanece (na descrição sensorial da marca consta “doce de leite”). Final licoroso, corpo alto com algum aquecimento alcoólico.


A Saison (12,3% ABV e 110 IBU) é ainda mais negra e aparência mais oleosa. Espuma marrom escura de formação irregular e baixa persistência. No aroma, o chocolate (mais para o amargo) chega primeiro, mas passa para uma espécie de segunda camada, quando sobe um aroma terroso, herbal. Na boca, o chocolate se apresenta com um amargor ao fundo e aquecimento alcoólico. Resumindo, na boca fica um amargor alcoólico achocolatado, com um final menos licoroso do que sua aparência dá a entender.


Amigos perceberam um defumado nessa cerveja.



A receita da Petroleum começou a ser desenvolvida em 2010. Foi lançada em 2012 pela Wäls, fruto de uma parceria entre as cervejarias. O acordo seguia tranquilo e vitorioso até que a marca mineira foi vendida para a Ambev, que levou, de quebra, a receita da Petroleum. Desde 2015, a DUM briga na justiça para que a Ambev não possa produzir o rótulo. Até o momento, a cervejaria de Curitiba obteve uma vitória em primeira instância.


“Quando a Wäls fez negócio com a Ambev, ficamos de cara, mas paciência. A cervejaria é deles, fazem o negócio que quiserem. Só não podiam vender junto a nossa receita, sem a nossa autorização, que foi o que aconteceu. Eles já mudaram a receita e nós não podemos fazer nada. Sei que nós estamos fazendo história e, no mais, estamos cuidando da nossa vida”, comenta Murilo.


Segundo ele, já foram feitas dez versões da Petroleum. Sua preferida é a Castanheira. Com a pandemia, a cervejaria passou a vender no Mercado Livre, para ampliar mercado fora do estado do Paraná, e por delivery, coisas que até então não faziam. Há seis anos, eles tinham direcionado as vendas para serem feitas por uma distribuidora interna que estavam estruturando. Há três anos, porém, quando Murilo sofreu um acidente, ao descer de um muro, os projetos passaram a andar bem mais devagar.


No caso do cervejeiro, nem isso. Ele quebrou a perna e ficou quatro meses na cama. Precisou fazer várias operações e voltar a andar foi um processo doloroso. Agora, ele comemora o fato de já conseguir dirigir carros. Sem perfil de vendedor, como o próprio Murilo admite, os negócios se ressentiram, mas a distribuidora ainda se mantém em atividade. Com os bares fechados, a produção da DUM, segundo ele, não chega, no momento, a um terço do que já foi.


A marca produz seus rótulos na Gauden Bier também de Curitiba. E nem só de Petroleum vive a DUM. O que mais deixa Murilo satisfeito é quando eles estão fazendo “as doideiras” que gostam. Como ele não gosta de cerveja azeda, não há planos de fazer esse tipo de cerveja por lá.


Foi graças à distribuidora que rótulos DUM chegaram em Niterói, em chope e em garrafa, nesse caso, toda a linha Petroleum. Assim, a próxima que vou experimentar será a Castanheira, que já está na mão – me dei de presente de Páscoa.

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