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  • Sônia Apolinário

Oktoberfest no Brasil é chance de promover cervejas no pouco explorado estilo alemão

Falar em Oktoberfest é falar em Oktoberfestbier. Mas qual é o estilo dessa cerveja? Se a tradicional festa alemã é uma desculpa para as marcas brasileiras fazerem eventos e lançamentos, algumas aproveitam para colocar em evidência o pouco (por aqui) explorado estilo alemão.

Para início de conversa, pelos regulamentos da Alemanha e União Europeia, Oktoberfestbier é uma denominação protegida da cerveja produzida pelas grandes cervejarias de Munique para consumo durante a Oktoberfest. O titular dessa denominação é a Associação das Cervejarias de Munique. A mesma bebida, feita em outro lugar, deverá ser chamada de Festbier. Onde quer que seja produzida, seu estilo deverá ser Märzen.

O nome desse estilo foi criado por ser uma cerveja feita no mês de março (primavera), armazenada para ser bebida durante os meses quentes, período em que era proibido, por lei, fazer cerveja. O que sobrava dessas cervejas, era enviado para a Oktoberfest. Os produtores precisavam que fossem consumidas para terem os barris liberados e também abrirem espaço nas suas adegas para as novas produções.

Märzen é uma cerveja de fermentação Lager. Nos primórdios da Oktoberfest, tinha cor castanho-escuro. Com o passar do tempo, se tornou a cerveja dourada brilhante consumida, atualmente, no evento. As mudanças foram tornando a cerveja mais leve, “menos saciadora” para que as pessoas pudessem consumir mais. A primeira versão dourada da Oktoberfest é atribuída à Paulaner, criada na década de 1970.

Märzen é um estilo maltado, com baixo amargor (de 18 a 24 IBU). Sua graduação alcoólica fica entre 5,8% e 6,3%. Essas mesmas características, com pequenas variações de cor, amargor e álcool, descrevem vários estilos alemães que, no senso geral, acaba se passando como a onipresente Pilsen, ou melhor Pils – porque só pode ser chamada de Pilsen as cervejas produzidas na cidade tcheca de mesmo nome.

De acordo com o Beer Sommelier e Mestre em Estilos Marcio Melo, a Märzen é a “avó” do estilo Vienna Lager, desenvolvido na Áustria. Nos Estados Unidos, o tradicional estilo alemão assume uma cor mais avermelhada.

“Conforme a Oktoberfest foi se tornando popular, foi crescendo o apelo por cervejas mais claras e leves, como já eram feitas em outros países. O público começou a torcer o nariz para as Märzen tradicionais. O mais importante de tudo isso é que ter cervejas claras foi uma decisão comercial para popularizar ainda mais a Oktoberfest. A Paulaner inventou essa cerveja, como quem inventa um estilo. Depois, todo mundo passou a fazer também. São todas muito próximas e muito boas”, explica Marcio.

Sócio do bar Fina Cerva (Niterói, RJ) e o responsável pela escolha das cervejas que vão abastecer os taps, ele comenta que não percebeu, neste ano, grande movimento das marcas nacionais para investir no estilo alemão, para aproveitar o “gancho” da Oktoberfest. Teve lançamentos, mas, também relançamentos de rótulos pelas cervejarias que já celebram esse estilo.

A cigana carioca Latido Ale House fez as duas coisas. Por conta da Oktoberfest, lançou a Argos (Hopfenweisse Weizenbock - 6.5% ABV; 32 IBU) e relançou a Schroeder (Doppelsticke – 8% ABV; 60 IBU).

Dos seis rótulos de linha da Latido, quatro são de estilos alemães. Os outros dois são Pata (Kolsch – 5% ABV; 24 IBU) e Dorso (Sticke Alt, uma variação do estilo Altbier – 6% ABV; 50 IBU).

A Hopfenweisse Weizenbock é uma versão mais lupulada da tradicional cerveja de trigo. Já a Doppelsticke apresenta amargor limpo, notas florais e frutadas, sendo que o trigo vem torrado. O resultado é uma “cerveja profunda com notas de amêndoas”, segundo descrição de Fernando Rocha, cervejeiro e dono da Latido.

“A escola alemã acabou ficando em segundo plano porque ficou associada à cerveja leve, Pilsen, ou de trigo. Mas é um estilo que tem Ales incríveis, sendo que as de trigo são um mundo à parte. No momento, no mercado, a escola americana predomina a cena artesanal. Fazer só essa escola seria mais fácil comercialmente”, comenta Fernando.

Segundo ele, o tradicionalismo no modo de fazer cerveja, na Alemanha, não torna o trabalho do cervejeiro, por aqui, mais difícil ou fácil. Para ele, o mais difícil é explicar, para o público, o perfil sensorial de um estilo com o qual não está acostumado, como é o caso da maioria dos estilos da escola alemã.

Outra cigana carioca, a Kumpel, também aproveitou a Oktoberfest para lançar a sua sazonal Festbier. Trata-se de uma German Lager (5.8% ABV; 25 IBU). De cor dourada alaranjada, tem como perfil sensorial, de acordo com a cervejaria, notas de pão e biscoito do malte e floral do lúpulo, com equilíbrio entre dulçor e amargor.

Ainda no Rio de Janeiro, a Masterpiece, de Niterói, lançou a Hallo Blumenau, medalha de prata no Concurso Brasileiro de Cervejas de 2020 na categoria American Oktoberfest (uma Märzen feita com lúpulos norte-americanos). De coloração âmbar brilhante, tem 5.1% ABV e 21 IBU. O nome da cerveja é uma homenagem à música “Hallo Blumenau”, da Helmut Hogl Band, criada especialmente para a primeira edição da Oktoberfest catarinense, em 1984. Já o rótulo traz uma pintura do Rei Ludwig. Foi a celebração do seu casamento que deu origem à Oktoberfest.

A Masterpiece lançou também uma Germain Pils, estilo criado na Alemanha, nos idos de 1870. No aroma, tem caráter maltado, mas, no sabor, o que se destaca é o lúpulo. Tem 4.7% ABV e 33 IBU.

No Brasil, a cervejaria que se dedica integralmente à produção de cervejas em estilo alemão é a Bamberg, de Votorantim (SP). Todo ano, quando começa a Oktoberfest em Munique, a cervejaria brasileira lança, aqui, a sazonal Die Wiesn (apelido como o alemão chama a própria Oktoberfest). Trata-se de uma Märzen com 5,7% ABV e 25 IBU.

Em Santa Catarina, a cidade de Blumenau é onde acontece a Oktoberfest mais tradicional do Brasil. A festa tem 37 anos de tradição. Este ano, o evento por lá também foi cancelado. Porém, a Cerveja Blumenau fez questão de lançar um rótulo em homenagem à data. A Cerveja Blumenau Oktoberfestbier é uma Märzen com 5% ABV e 23 IBU. De acordo com o cervejeiro da marca, Marcos Guerra, foram usados lúpulos alemães para “fazer uma conexão entre a Oktoberfest de Blumenau e a de Munique”. O rótulo mostra o momento em que a festa alemã começa, com a abertura do primeiro barril.

No Rio Grande do Sul, a Zapata, de Viamão, lançou a Oktoberfest Mandarina Märzen (5,5% ABV; 23 IBU). Foi feita com cinco tipos de malte de cevada, malte de trigo e lúpulos alemães das variedades Hallertau Blanc, Mandarina Bavaria e Saphir, além de leveduras German Lager.

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