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  • Sônia Apolinário

Cervejaria incubada pela prefeitura de Santa Rita do Sapucaí lança seus rótulos


Uma nanocervejaria incubada por uma prefeitura coloca seus rótulos na rua. Trata-se da Cerveja Pós-Doc cuja sede fica no prédio da Incubadora Municipal de Empresas de Santa Rita do Sapucaí. A cidade mineira é conhecida como o “Vale do Silício brasileiro” ou o “Vale da Eletrônica”. O programa de incubação da cidade completou 20 anos em 2019. Pela primeira vez, contemplou uma cervejaria. No sábado (19), na praça central, a Pós-Doc marca presença no Beer Day, ao lado de outras nanocervejarias da região do sul de Minas Gerais.

A Pós-Doc é o sonho tornado realidade do casal Francisco Eduardo e Luciana Guimarães. O nome da cervejaria deve-se ao fato de que essa história cervejeira começou por conta de um pós-doutorado que ele, biólogo e professor universitário, estava fazendo. As pesquisas eram sobre a produção de etanol a partir de resíduos da indústria como sabugo de milho, casca de arroz, casca de café, bagaço de cana. Um trabalho envolvendo testes com leveduras despertou sua curiosidade sobre produção de bebidas. Chegou na cerveja artesanal e ficou. E pensar que o casal não gostava de beber cerveja até começar a produzir a bebida.

Quem “botou pilha” para criarem uma cervejaria foi Luciana. Pesquisa de lá, pesquisa de cá, esbarraram no custo do investimento. Antes de bater o desânimo, bateram na porta da prefeitura da cidade vizinha. Eles moravam em Pouso Alegre e foram conhecer de perto o projeto de incubação de Santa Rita do Sapucaí (onde moram atualmente), voltado para nano, pequenos e médios empreendedores. Eles se inscreveram e torceram para serem chamados. Nesse meio tempo, o foco do programa, até então, voltado somente para empresas de tecnologia, abriu também para o setor de Economia Criativa. A Pós-Doc acabou contemplada.

“Recebemos suporte que evitam que um negócio naufrague como assessoria empresarial, contabilística, financeira e jurídica e capacitações para aproveitar oportunidades de negócios, além de acesso a linhas de crédito”, explica Luciana que cuida da parte administrativa da cervejaria. A tarefa de mestre cervejeiro é do marido, que não largou o magistério e dá aulas de biossegurança, bioquímicas, biomateriais e bioestatística.

A sede da Pos-Doc é uma sala de 38 metros quadrados em um prédio da prefeitura onde funcionam outras 13 empresas de diferentes segmentos. Lá, estão instalados a cozinha da cervejaria e três tanques (um de 250 litros e dois de 180 litros). Pagam R$ 500,00 pelo aluguel e podem usar a copa, vestiários e auditório, que são áreas de uso comum - Luciana está desenvolvendo uma programação de cursos e palestras cerejeiras para ocupar o auditório.

Há uma ano, o casal trabalha na “construção” da cervejaria, brindada com o MAPA há dois meses. Até agora, o investimento foi de R$ 80 mil. A Pós-Doc terá uma produção de mil litros por mês e abrirá espaço para ciganos que queiram produzir em pequena quantidade, ou seja, 250 litros. Luciana conta que já tem uma fila de dez interessados à espera da abertura da fábrica para os ciganos.

A produção caseira, iniciada por Francisco em 2016, se tornou a base das receitas da marca. A principal característica é o uso de ingredientes locais como tomate, café, marmelo, goiaba, jabuticaba e abóbora. A primeira “brincadeira” resultou em uma Saison com Capim limão.

Os primeiros três rótulos da marca são: uma Kölsch; uma Witbier com óleo essencial de laranja, sementes de coentro e pimenta rosa; e uma Irish Rede Ale. Já produziram uma Vanilla Milk Stout, várias fruit beers e uma Black IPA. Ao todo, a marca tem 16 receitas desenvolvidas.

A Witbier foi batizada como Santa Rita de Cássia. Especialmente para o evento de lançamento da marca, dois rótulos foram criados para homenagear outras duas mulheres importantes para a cidade: Sinhá Moreira (trouxe para o Brasil, há 60 anos, a primeira escola de eletrônica da América Latina e aplicou pela primeira vez o conceito de financiamento imobiliário ao ajudar os operários da construção da escola) e Maria Bonita (uma senhora negra que dominava a alquimia da culinária, transitava entre as casas mais ricas e mais pobres da cidade, que fundou uma associação para valorização da cultura negra, além e um bloco de carnaval). Sinhá Moreira ganhou uma Stout Café e Lactose, enquanto Maria Bonita ficou com o “Pão Cheio”, nome de um pão com linguiça que é patrimônio da cidade, que ganhou uma versão líquida na forma de uma cerveja de trigo com toques de malte defumado.

O período de incubação das empresas em Santa Rita do Sapucaí é de 24 meses, prorrogáveis por 48, mediante apresentação de resultados. A Pós-Doc já pediu “rematrícula”. Na cidade de 40 mil habitantes, funciona um brewpub. Pertinho de lá, estão as cervejarias 3 Orelhas e Zalaz.

A Pós-Doc já ostenta o selo Eu Reciclo, que indica que a cervejaria promove 100% de compensação das garrafas colocadas no mercado. O bagaço de malte começa a adubar canteiros da cidade, mas, em breve chegará a hortas de ONGs e cozinhas de creches. Luciana conta que a cervejaria, em parceria com a diretoria da incubadora, está desenvolvendo o projeto de construção de uma cozinha colaborativa, no espaço. A ideia, segundo ela, é capacitar merendeiras para utilização não apenas de bagaço de malte, mas dos principais produtos da região.

“Queremos contribuir, ao máximo, para a divulgação da cultura da nossa cidade que é muito rica”, afirma Luciana.

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