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  • Sônia Apolinário

Primeira cervejaria a produzir sem glúten, a gaúcha Farrapos se firma como opção no varejo

Na segunda matéria da série de reportagens sobre cervejas funcionais, o foco vai para a cervejaria gaúcha Farrapos, uma das primeiras no país a produzir cerveja sem glúten. Na verdade, foi a primeira fábrica a produzir sem glúten, mas para uma marca cigana que atendia. Atualmente, essa linha representa 40% do total produzido pela cervejaria. Em outubro, a Farrapos completa 10 anos, sendo o último deles sob novo comando. Foi justamente a experiência com a produção sem glúten e o mercado já conquistado para esse tipo de cerveja pela marca que animou os novos donos a iniciar o negócio, em plena pandemia.

A experiência da Farrapos com a produção sem glúten começou dois anos depois da inauguração da cervejaria, em Passo Fundo. Foi para atender o pedido da sua então cigana Lake Side. Em 2016, com a mudança do proprietário para Curitiba, a marca passou a ciganar, na Germânia.


A Farrapos, então, passou a ter sua própria linha sem glúten. Porém, não abriu mão dos rótulos “convencionais”. Ou seja, em uma mesma planta, as duas linhas são feitas.


“Fazemos uma limpeza ainda mais rigorosa nos equipamentos para poder produzir sem glúten”, afirma Tales Roberto Gehrke dos Santos.


É o laboratório para onde amostras da produção é enviada que atesta que a cerveja é, de fato, sem glúten. No Brasil (e também a Food and Drug Administration) considera que uma bebida é sem glúten quando tem até 20 p.p.m (parte por milhão). Tales informa que as cerveja da Farrapo têm abaixo de 5 p.p.m.


“Foi a experiência da Farrapos com o processo para a produção sem glúten e seu foco no varejo que nos animou a comprar a cervejaria, ano passado”, comenta Tales que entrou no negócio junto com o irmão Tiago e o pai Paulo Roberto.


Voltando um pouco no tempo. O atual dono da cervejaria também já foi um cigano da Farrapos com a marca Titãs. A família Gehrke dos Santos mora em Tapejara, distante 50 Km de Passo Fundo. Tales conta que já tinham se decidido a construir uma cervejaria, na própria cidade natal (com cerca de 20 mil habitantes) quando a Farrapos foi colocada à venda. O antigo dono, de procedência italiana, tinha vários negócios na cidade. Quando a pandemia se instalou, ele vendeu tudo e se mudou para a Itália.


Como diz Tales, a cervejaria foi comprada na base da “porteira fechada”. Ou seja, o mestre cervejeiro e todos os funcionários foram mantidos e a produção não sofreu interrupções. O dinheiro que a família estava juntando para construir uma cervejaria foi usado no negócio. Em um ano, R$ 1 milhão já foi investido na Farrapos pelos novos donos - a maior parte, em compra de equipamentos.


A cervejaria tem 2 mil metros de área construída e fica em um terreno de 8 mil metros quadrados. A fábrica passou de uma capacidade de produção de 35 mil litros por mês para 50 mil litros por mês. Desse total, a linha sem glúten representa 40%. Também em um ano, essa linha ganhou dois novos estilos: Porter e Red Ale que se juntaram a Pilsen (best-seller), APA (medalha de bronze CBC 2019) e Malzbier.


A marca Titãs continua a ser produzida na Farrapos, mas também em outras fábricas, em diferentes estados. Tales acredita que, nesse caso, a produção cigana é conveniente para que a marca fique próxima de mercados diferentes.


“A linha sem glúten da Farrapos acabou se tornando uma referência. Temos uma grande demanda, principalmente do Mercosul, mas não temos condição de atender. Gostaríamos de ter uma planta somente para a linha sem glúten, mas isso vai exigir um investimento que ainda não podemos fazer. Desde a época da Lake Side que a Farrapos vinha aprimorando seu processo de quebra da enzima do glúten. Hoje, o processo está muito mais rápido e nossa cerveja sem glúten tem o mesmo perfil sensorial das cervejas convencionais”, afirma Tales que é beer sommelier e técnico cervejeiro.



Atualmente, a Farrapos está presente em dez estados e pode ser encontrada em várias redes de supermercados. E foram as garrafas da sem glúten que registraram aumento de vendas, nesses locais, ao longo da pandemia.


Segundo Tales (na foto à direita, ao lado do irmão), os planos a curto prazo incluem iniciar o processo de franquia dos bares da Farrapos. Até o final do ano, ele espera inaugurar o primeiro, em Porto Alegre, a capital gaúcha. Ele quer ter uma rede de bares para escoar a produção da cervejaria. E sabe que terá que investir justamente para conseguir aumentar a produção. Assim, estima um investimento de R$ 2 milhões no próximo ano.


“Não é possível deixar de produzir a cerveja convencional, mas quero aumentar nossa produção sem glúten. Nossos bares terão como grande diferencial torneiras com chope sem glúten de vários estilos. Dessa forma, nosso maior desafio é aumentar nossa capacidade produtiva porque temos demanda do mercado. Também temos vontade de desenvolver uma linha sem álcool”, afirma Tales.


E quando ele falou sobre a “compra de porteira fechada” da cervejaria, isso incluiu os quatro cachorros adotados pela Farrapos, ao longo dos anos. Todos vira-latas abandonados por lá. O antigo dono criou até um rótulo em homenagem a um deles, o Chico, que ilustra a Pilsen Guaipeca.


“Todo mundo que vem na cervejaria tira foto com o Chico”, comenta Tales que dará continuidade à “tradição” com um novo rótulo estrelado por outro cachorro da cervejaria, a Pretinha - a mais velha da turma, com oito anos de idade, que foi abandonada após ser atropelada.


A cachorrinha vai estampar a Russian Imperial Stout comemorativa dos 10 anos da Farrapos. A cerveja terá 10% de teor alcoólico e está sendo maturada em uma barrica que, durante dez anos, guardou cachaça. E será lançada em outubro, o décimo mês do ano.

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