Choperia Cotovelo vai reunir as cervejarias Búzios e Tio Ruy com o dono de restaurantes Raphael Vidal na revitalização da Rua da Carioca, no Rio
Uma choperia temática que vai reproduzir o ambiente do Rio de Janeiro do início do século 20 será uma das atrações da futura Rua da Cerveja – projeto que tem como missão revitalizar a tradicional Rua da Carioca, no centro do Rio. Na foto, como era a rua no início do século passado.
O empreendimento vai reunir as cervejarias Búzios e Tio Ruy e o empresário Raphael Vidal que, com três restaurantes, deu um “sacode” de animação em outra área tradicional da cidade: o Largo de São Francisco da Prainha, na Zona Portuária.
Aliás, é dele a ideia do nome (Choperia Cotovelo) e da ambientação do novo espaço. A proposta é criar um ambiente charmoso e descontraído, com uma gafieira ou casa de samba no segundo andar.
Rua da Cerveja
Partiu da prefeitura do Rio de Janeiro a iniciativa de usar a cerveja para revitalizar uma área formada por prédios tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) que está, atualmente, com metade dos imóveis vazios.
O projeto foi lançado em setembro do ano passado. Principal exigência: produzir as cervejas no local, fosse a quantidade que fosse. Aderiram as marcas Búzios, Tio Ruy, Sundog, Vírus Bier, Jourdan, Kranz, Hoperários, Brew de Janeiro, Candanga e Piedade. De lá para cá, o edital sofreu algumas mudanças e o resultado é que uma destilaria de cachaça (Cachaça da Quinta, do município de Carmo) e uma marca de kombucha (Cultura Viva) se juntaram às cervejarias.
O anúncio da nova fase do projeto será feito na próxima quarta-feira (27), às 18h, na própria rua Carioca, no número 74. No evento é esperada a presença do prefeito Eduardo Paes, além do secretário de Desenvolvimento Urbano e Econômico, Chicão Bulhões, e do Diretor-presidente da Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (CCPar), Gustavo Guerrante. Na ocasião, os primeiros contratos do Reviver Rua da Cerveja serão assinados.
Choperia
Na época em que o projeto foi lançado, Luiz Rogério Rodrigues, cervejeiro e sócio da Búzios, estava desenvolvendo receitas de cerveja, a pedido de Vidal, para serem exclusivas de seus restaurantes: Bafo da Prainha, Casa Porto e Dois de Fevereiro.
A ideia de abrir um brewpub no centro do Rio não passou pela cabeça de Luiz Rogério. Quem primeiro lhe chamou a atenção para o edital da prefeitura foram pessoas ligadas ao Opportunity – o banco de investimentos é dono de vários imóveis na rua da Carioca.
- Temos uma fábrica relativamente nova em Búzios. Somos envolvidos com indústria. Não temos expertise nem braços para encarar uma operação de bar que um brewpub também exige. Já apanhamos bastante tocando o restaurante que temos na nossa fábrica. Quando o Vidal topou entrar e assumir a operação, foi que parei, de fato, para pensar no negócio, que envolve muitos riscos – contou Luiz Rogério.
A primeira coisa que fez, então, foi visitar todos os imóveis disponíveis para o projeto. Quase desistiu de continuar diante da quantidade de obra que todos iriam necessitar. Nesse meio tempo, a cervejaria Tio Ruy, parceira da Búzios em vários projetos, se mostrou interessada em aderir à Rua da Cerveja. Caminharem juntos foi uma decisão quase que “natural”.
Como cada marca só poderia alugar um imóvel, Búzios e Tio Ruy escolheram um prédio do lado do outro, cada um com 220 metros quadrados. No futuro, ninguém vai perceber que eram dois imóveis, pelo lado de dentro da choperia, porque não haverá paredes separando os espaços. Fábrica, cozinha e banheiros serão comuns. O local vai servir chope das duas marcas com menu de comidas típicas de botecos do Rio criado por Vidal.
A missão de Luiz Rogério, agora, é iniciar a instalação da fábrica. Ele vai levar para lá a cervejaria experimental da sua marca, que tem pequena capacidade de produção: 2 mil litros. É nessa fábrica, que fica no Rio, que ele faz testes para a Búzios. Na Rua da Carioca, ela continuará tendo um caráter de produção experimental. O volume necessário para o funcionamento do local virá das respectivas cervejarias que, no caso da Tio Ruy, fica no Mercado de Produtores Uptown, na Barra da Tijuca.
Luiz Rogério dá a dimensão do desafio que será a instalação da fábrica:
- Na rua da Carioca há limitações de gás e luz. Também estamos estudando como será a questão do descarte de efluentes que não é regulamentado somente por leis municipais, mas também estaduais e federais. Além disso, temos que obter o registro (Mapa) para começar a funcionar. As marcas que aderiram estão atuando em conjunto para resolver essas questões. O ministério da Agricultura e Pecuária, responsável pelo Mapa, se comprometeu a dar o registro em dois meses. Cada cervejaria dará entrada conforme for terminando suas instalações. No caso da Choperia Cotovelo, nossa estimativa é inaugurar em setembro. Uma estimativa positiva. Temos que passar pelo crivo do Mapa, do patrimônio histórico e de legislação em todas as esferas.
Rua da Carioca
A história da rua começa no século XVII (1697), segundo o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac). Já o nome atual remonta do ano 1848, pois a rua ficava no caminho do Chafariz da Carioca. A decadência do local tem sido atribuída, em grande parte, à pandemia do Coronavírus. Porém, os problemas da rua começaram há cerca de dez anos.
A Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência se considerava dona de vários imóveis e começou a vendê-los para o Opportunity Fundo de Investimento Imobiliário. O negócio, porém, foi travado pelo governo do estado sob a alegação de que os imóveis tinham sido desapropriados, em 1940, pela prefeitura e, desde então, pertenciam ao estado.
Apesar da briga jurídica, os preços dos aluguéis sempre se mantiveram em alta, mesmo quando a rua já estava em baixa. E mesmo quando os estabelecimentos tiveram que fechar durante a pandemia do Coronavírus. Esse quadro resultou no fechamento em definitivo das lojas e o estado atual de abandono da rua, que já foi famosa por concentrar tradicionais lojas de instrumentos musicais, bares e restaurantes.
A imagem mostra o Largo da Carioca, com o Chafariz da Carioca na frente e o Convento de Santo Antônio ao fundo.
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