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'Um Lobo Entre os Cisnes': bailarino e ator que o interpreta falam sobre suas experiências na cinebiografia

  • Foto do escritor: Sônia Apolinário
    Sônia Apolinário
  • 23 de jul.
  • 9 min de leitura


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A trajetória do bailarino Thiago Soares - do hip hop dançado nas ruas do Rio até se tornar o primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres – é o tema do filme “Um Lobo Entre os Cisnes”, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (24). Em Niterói, poderá ser visto no Cine Arte UFF.

 

Em entrevistas, o bailarino e o ator que o interpreta, Matheus Abreu, falam sobre emoções, desafios e preparações para a realização dessa cinebiografia, um projeto que levou sete anos para ser executado pelos diretores Marcos Schechtman e Helena Varvaki.

 

- A rua é uma grande educação social – afirma Thiago Soares (à direita na foto)


- Espero que o público saia das salas de cinema com vontade de soltar o corpo, de dançar, de se expressar e alcançar sua maior potência – disse Matheus Abreu.


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Confira as entrevistas

 


Thiago Soares

 


Thiago Soares (E), Dario Grandinetti e Matheus Abreu (D)
Thiago Soares (E), Dario Grandinetti e Matheus Abreu (D)

Como você recebeu a notícia de que fariam um filme inspirado na sua vida?

O diretor Marcos Schechtman e a Tv Zero me fizeram uma proposta. Marcos disse que ficou muito emocionado com uma entrevista minha. Conversamos em São Paulo e ele ficou muito

sensibilizado e sentiu uma vontade muito grande de contar a minha história. Ele disse que acreditava que a minha jornada tem uma força muito grande e, obviamente, eu fiquei tocado e emocionado quando ele me falou isso pela primeira vez. Eu fui incluído em alguns momentos-chave, pude falar sobre o que acreditava que era importante, mas o filme é do Marcos e da Helena. Eles têm um olhar muito específico sobre o que eles querem do filme e eu não quis atrapalhar isso.

 

Qual a emoção de ver a história da sua vida estreando nos cinemas?

É uma emoção muito grande. Eu nunca imaginei que a minha jornada tivesse a força de conduzir uma equipe tão grande, tantas pessoas querendo contar essa história e levá-la para

os cinemas, para que outros possam assistir. Acho que é muito maior do que a gente sonha, é realmente uma emoção gigante. Tenho aproveitado esse momento e vou aproveitar ainda

mais quando o filme estiver em cartaz.

 

Como foi sua relação com o Matheus Abreu, que te interpretou?

Foi uma grande alegria conhecer o Matheus, conhecer a arte dele de perto. Ele é um jovem artista dedicado e determinado, é um artista que tem uma forma especial de trabalhar. Foi muito bonito ver de perto ele mergulhar de cabeça na vida de um artista e no corpo de um bailarino, é um ato de muita coragem. Eu tive o privilégio de poder trocar um pouco com ele, sobre o meu DNA, já que sou um artista que vem das danças urbanas e fiz uma fusão

para dançar a dança clássica erudita. Tentei dividir com ele o que foi esse caminho, um caminho muito único, e também um pouco da minha forma de dialogar com a dança.Tivemos alguns momentos de troca, até treinamos um pouquinho juntos. Acho que temos uma alegria muito grande de termos nos conhecido e somado nossas histórias e nossas vidas.

 

A sua história com a dança mostra o papel que a arte tem em transformar e tocar vidas. Como você avalia a importância da dança na sua vida?

A dança é uma arte poderosa. É uma arte do corpo, da alma e do público. É uma arte que conversa diretamente com quem está assistindo, não só com palavras, mas também com gestos e com sensações. É uma arte que tem um código próprio. A dança transcende essa comunicação comum do que a gente entende, ela faz a gente sentir coisas e isso é muito especial. A dança tem sido a minha vida, é a minha forma de trabalhar, de ir ao meu ofício, mas também a minha forma de me informar, de me comunicar comigo mesmo, então, é um modo de vida para mim, é um formato de expressão e que, por acaso, é também a minha forma de trabalhar, de me sustentar e de proporcionar possibilidades para outros. A dança é minha vida.

 

Sua relação com a dança começou com o hip hop, no Viaduto de Madureira. Qual a importância da dança de rua para a sua formação enquanto bailarino?

Meu primeiro acesso à dança foi através das danças urbanas, aquela dança que a gente chama de hip hop, de dança de rua, e foi um privilégio. Os eventos na rua, as festas que acabam virando eventos são espaços que reúnem artistas que vão entrando para o campo profissional e acabam fazendo projetos e trabalhos da cultura pop, televisivos e de shows. Comecei nesse caminho e, eventualmente, fiz a minha transformação para um artista

clássico. Me sinto privilegiado porque tive acesso à ginga e ao “corre” das danças urbanas, isso cria uma dimensão realística de um artista. O artista não vive só da mágica dos personagens, mas ele também vive o personagem dele mesmo, sua própria vida, em que tem que correr para pegar um ônibus ou ficar ligado nas ruas onde anda. A rua é uma grande educação social. Ali você entende o que é respeito. Através da arte e da música desses espaços, como o Viaduto de Madureira, muitas pessoas podem celebrar a dança. Fico muito feliz que hoje o viaduto é um lugar  internacional, é um lugar do luxo e da elite, a elite de quem vem do urbano.

 

O balé e o hip hop são estilos de dança totalmente diferentes, sendo percebidos pelo público de forma contrastante. Qual a sua relação com os dois gêneros? E como acha que os dois estilos conversam?

As danças fazem parte de um mesmo coletivo, que é a arte de fazer poesia com corpo. Claro que a dança urbana é outro tipo de técnica, exige outro tipo de preparação física, extremamente difícil e específica. E o balé é uma das artes que consideram mais difíceis pelo grau de concentração e de pontos técnicos que o artista precisa ter em um só movimento. São duas artes lindas que têm seus espaços. Hoje em dia, a cultura do entretenimento e o

show business trazem mais dançarinos, mais danças humanas, e na arte clássica temos os grandes teatros, que foi a carreira que eu tive o privilégio de ter, ser astro desses grandes teatros como o Royal Opera House, o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o Scala de Milão. Essa carreira dentro dos grandes teatros ilustres catapulta a sua imagem, você ganha um lugar de excelência porque tem toda uma estrutura e uma projeção muito grande. São

duas artes maravilhosas, duas formas de se expressar incríveis. Hoje eu me encontro nesse lugar clássico, mas considero brilhantes essas duas formas de dançar, que possibilitam carreiras maravilhosas.

 

Sua carreira é extensa, com inúmeros prêmios e apresentações no Brasil e fora do país. Tem algum momento que tenha te marcado de forma especial?

Tive muitas emoções e momentos incríveis na minha jornada e sinto que estou embarcando em uma nova fase onde tudo recomeça de uma forma muito linda. Quando eu penso

rapidamente, lembro de momentos marcantes: a primeira medalha em Paris, na Champs-Élysées, que determinou muito do que aconteceria no meu futuro, e essa é a medalha que está retratada ali no filme; quando ganhei a medalha de ouro no Bolshoi, em

tempos que a gente não tinha escolas do Bolshoi no Brasil. Dentro da minha biografia, o Bolshoi foi um acontecimento histórico, não só para mim mas também para o nosso país. Minha trajetória no Royal Ballet também é bastante emocionante, entrei como artista do corpo de baile e alcancei o sonho de ser um astro da companhia. Esses três momentos me marcaram muito, mas também estou emocionado com a minha nova etapa como coreógrafo e diretor.

 

Quais os seus próximos projetos?

Hoje eu sou diretor artístico, trabalho com companhias que me convidam para determinados projetos. Também tenho meu estúdio de dança, um espaço que recebe jovens bailarinos talentosos, temos um grupo e nos apresentamos com coreografias criadas por mim. Hoje eu sou um coreógrafo, com obras de médio e grande porte realizadas em Londres, México, Estados Unidos e Brasil, com críticas bem positivas. Então estou vivendo esse momento de criar os meus passos, acho que muitos de nós bailarinos passamos parte da nossa carreira dançando os passos de outras pessoas, quando nos colocamos no lugar de criar os passos dos outros, é algo muito legal. Sinto que é como se eu tivesse começado a desenhar as linhas dos meu próprio destino, da minha nova etapa.


Matheus Abreu 



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Como você conheceu a história de Thiago Soares?

Conheci a história do Thiago quando o roteiro chegou até mim e percebi que seria um projeto diferente de tudo que já tinha vivido, que seria uma responsabilidade enorme. A vontade de viver e contar essa história foi o meu norte.

 

Como você se preparou para interpretar o Thiago? Já tinha alguma familiaridade com dança clássica ou hip hop?

A preparação começou no teste. Foi meu primeiro contato com a dança clássica; com o hip hop eu arrisquei uns passinhos e movimentos da capoeira. Mas, tive contato real com os

dois estilos quando começamos a trabalhar. Realizamos uma preparação física de sete meses. Minha rotina deu lugar à rotina do personagem, tive pessoas incríveis ao meu lado com aulas diárias de balé solo, em grupo, aulas de hip hop e de gyrotonic (tipo de treino com aparelhos que lembra o pilates, mas vai além) que foi primordial para conquistar um corpo disponível e preparado para viver essa maratona.

 

Ao longo do filme, Thiago passa por várias fases da vida e, aos poucos, vai adquirindo disciplina e maturidade em cima dos palcos e em sua vida pessoal. Você se identifica de alguma forma com isso?

O filme acompanha a vida de Thiago sendo transformada pelo balé. Ele percebe que a vida dele, a partir dali, lhe pediria muita entrega, mas também o entregaria o que ele não poderia

nem imaginar. Sinto que o poder de mudança que a arte teve na vida dele foi bem parecida com a que eu tive. O sentido identitário que a vida ganhou quando eu conheci o teatro é

bem similar à quando o Thiago conhece o ballet. É um encontro com nossa essência e os lugares que ela pode nos levar.


O filme tem locações no Rio de Janeiro e em Paris. Como foi filmar em espaços tão icônicos da nossa cidade, como o Theatro Municipal e a Escadaria da Penha? E como foi a experiência das filmagens em Paris?

Antes de filmar, eu vivenciei muito o centro do Rio, a Lapa, os locais de treino de break dance e ter o Theatro Municipal como escritório diário é uma vivência que nunca imaginei

ser possível para mim. Paris é, assim como no filme, o ápice de toda a trajetória da minha preparação. Vemos na tela um Thiago fascinado ao entrar pela primeira vez no Theatro Municipal, que é inspirado na Ópera Garnier e, depois, vemos o mesmo Thiago conhecendo a obra original. O espanto é ainda maior e a minha reação foi a mesma. Através deste filme pude conhecer esses lugares de maneira tão única e fiquei assombrado com a beleza de

todo o teatro, mas principalmente pelo Grand Foyer da Ópera Garnier.

 

A trajetória profissional do Thiago é totalmente perpassada por sua relação com o mentor, Dino Carrera. Como você e o Dario Grandinetti se prepararam para levar aos cinemas a história desses dois grandes nomes da dança mundial?

A última etapa da preparação começou em maio de 2022, para começarmos a filmar em janeiro de 2023. Porém, eu e Darío estamos no projeto há muito mais tempo. Em 2018, quando passei no teste, já falávamos em Darío ser nosso Dino Carrera. Foram anos de pesquisa da vida dos dois pra enfim nos encontrarmos e todas as memórias que construímos separadamente ganharam o olhar do outro. Já admirava muito o trabalho dele e, quando finalmente nos encontramos, vi que essa admiração não era à toa. Darío é de um talento admirável e um parceiro de cena que todos que são verdadeiramente apaixonados pelo nosso ofício mereciam ter.

 

Como foi trabalhar com os diretores Marcos Schechtman e Helena Varvaki?

Foi maravilhoso! Marcos e Helena são as pessoas com quem mais construí, troquei inspirações, ideias e caminhos nesses sete anos em que estive junto ao projeto. O trabalho do Marcos na trajetória do Thiago e na construção do nosso enredo foi de uma profundidade imensa. Tinha certeza que tudo que estava ali fora minuciosamente preparado. E Helena é o mais belo encontro que tive no meu caminho com “Um Lobo Entre os Cisnes”. A sensibilidade dela e a forma de condução e acesso à artesania do trabalho do ator é algo que não consigo, mas também nem busco, explicar em palavras.

 

Contar uma história real no cinema tem um grande peso emocional. Para você, qual foi o momento mais emocionante durante a gravação do filme?

Sem dúvidas foi a filmagem de “O Corsário” num dos teatros mais antigos de Paris. O filme narra o encontro do Thiago com seus mentores no balé e toda a preparação para apresentar

este espetáculo no prêmio de Paris em 1998. Foram anos de processo de preparação, para construir o meu Thiago e, enfim, fazer esta cena específica. Quando esse momento chegou,

a emoção foi arrebatadora.

 

O que o público pode esperar do filme?

Espero que o público saia das salas de cinema com vontade de soltar o corpo, de dançar, de se expressar e alcançar sua maior potência.

 

Veja o trailer aqui

 


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