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  • Sônia Apolinário

Peça encenada no Zoom fala sobre pessoas que trabalham 24h por dia em videoconferência

Uma realidade distópica em que uma empresa, em busca de maior produtividade, faz com que seus funcionários passem a trabalhar 24h por dia, confinados em suas casas, por meio de uma videochamada eterna. Sem falar que os dias nunca se tornam noite porque uma cadeia de satélites reflete a luz solar ininterruptamente sobre a cidade. Esse é o mote em torno do qual gira a peça “Os Fins do Sono”, que estreia na sexta-feira, dia 19, às 20h. A apresentação, ao vivo, será pela plataforma Zoom. O ingresso é gratuito, mas precisa ser retirado para receber o link que dará acesso à vídeo-encenação.



Em cena, o Coletivo Cardume que adaptou para tempos pandêmicos uma peça homônima, encenada pelo grupo em 2015. O ponto de partida do trabalho é o livro “24/7: Capitalismo tardio e os fins do sono”, publicado em 2013 pelo ensaísta norte-americano Jonathan Crary. Se na primeira versão, a peça reproduzia um escritório no palco, agora, a crítica ao trabalho corporativo leva os atores para o home office – literalmente.


Juliana Valente, Marô Zamaro e Pedro Massuela atuam diretamente de suas casas, respectivamente, nas cidades de São Paulo, Ilhabela (SP) e São Bernardo (SP). Há uma quarta pessoa em cena, mas só suas mãos serão vistas: o artista plástico Roberto Zink. Ao vivo, de Juiz de Fora (MG), ele ilustra temas e cenas retratados pela peça e interfere diretamente na encenação. Roberto também fez parte da montagem original, quando seus desenhos eram projetados no palco.



“Estávamos parados e queríamos criar. Estávamos confinados em casa, fazendo trabalhos e ‘encontrando’ as pessoas de forma remota. Várias questões relacionadas com a peça original foram surgindo. Decidimos que faríamos uma nova montagem toda de forma remota também. Na prática, estávamos - e ainda estamos, vivendo dentro do Zoom. Então, imaginamos as pessoas assistindo uma videochamada da empresa”, comenta o diretor Francisco Turbiani, que também participou da montagem original.


No novo texto adaptado por Luis Felipe Labaki, um dos desafios é fazer o público esquecer que está vendo a peça à noite. Porque os funcionários vivem um dia eterno. E foi justamente por conta desse jogo de dia-noite que o diretor fez questão que a peça fosse encenada ao vivo. Na sua opinião, a exibição de uma apresentação gravada perderia força dramatúrgica.


Sendo uma encenação a ser transmitida dentro de uma plataforma de videoconferência, a parte técnica quase se torna um co-autor. Falas e situações foram definidas para ‘cobrir’ várias possibilidades de problemas que venham a acontecer como as famosas “travadas de imagem” ou mesmo a queda da conexão. É possível que o público não perceba se uma eventual falha é real ou faz parte da encenação.


Andar pela casa; abrir e fechar câmera e microfone; acender e apagar luzes; pegar objetos, tudo isso faz parte da movimentação dos atores. Segundo o diretor, houve um primeiro momento de estranhamento pelos atores, quando se deram conta que iriam interpretar olhando para si próprios, pela tela do computador.


“Todos estão em videochamada, então, todos estão olhando para o computador, que é onde está a câmera. Atuar vendo a própria imagem é algo sedutor. Foi preciso se descolar disso para conseguir se relacionar uns com os outros”, conta Labaki.


Nem tudo o que será visto em cena pertencia ao próprio ator ou fazia parte da sua casa. Há cenário e figurino envolvidos e tudo feito de forma remota, com entrega de objetos via Correios ou transportadora.


A peça foi realizada com incentivo da Lei Aldir Blanc, do Governo do Estado de São Paulo. Assim, o ingresso é gratuito, mas precisa ser “retirado” pelo site Sympla para obter o link de acesso ao Zoom. A plataforma tem capacidade para receber 299 pessoas, por vez. Quem chegar será recebido pelo diretor, que estará na cidade de São Paulo. Ele dará orientações técnicas para que as câmeras e microfones do público fiquem desligados. Durante a exibição, trechos serão exibidos também pelas redes sociais do grupo teatral.


“Desde o início, estava claro que precisávamos pensar em uma obra que fizesse sentido nessa plataforma de videoconferência. E não é só ligar uma câmera e atuar. Precisamos achar o cenário dentro da casa de cada ator. Existem ângulos específicos para espaços específicos. Não sabemos ainda que linguagem é essa, mas estamos buscando e descobrindo. Está sendo bem interessante essa descoberta", afirma Labaki.


Serviço


Os Fins do Sono, do Coletivo Cardume de Teatro

Espetáculo transmitido pela plataforma Zoom

De 19 de março a 09 de abril

Às sextas, sábados e domingos, às 20h

Ingressos: gratuitos e por contribuição livre, aqui

Classificação etária: 12 anos



O Coletivo Cardume é formado pela reunião de artistas, alunos e ex-alunos da Escola de Comunicação e Artes da USP (ECA-USP). Foi criado em 2012 tendo como peça de estreia “O Balneário”, uma adaptação do texto “Um Inimigo do Povo”, de Herink Ibsen, com direção de Francisco Turbiani, para o contexto litorâneo paulista. O trabalho inaugural foi contemplado pelo ProAC – Primeiras Obras do Estado de São Paulo e circulou naquele ano pelas cidades de São Paulo, Cubatão, Mongaguá, São Vicente e São Sebastião.


Nova temporada


Quem também já readaptou uma peça apresentada em teatro para exibição online foi o Núcleo Teatro de Imersão. A peça “As Palavras da Nossa Casa” retorna em cartaz no Zoom no próximo dia 22 de março para uma temporada até o dia 27 de março. Ingressos, aqui










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