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  • Sônia Apolinário

Livro mostra uma eterna má vontade da crítica especializada com a obra de Roberto Carlo

No próximo dia 19 de abril, o cantor Roberto Carlos completa 80 anos de idade. De presente, ele “ganhou” um livro. “Querem acabar comigo” (Máquina de Livros), de Tito Guedes, passa longe de uma biografia. A obra conta a trajetória do Rei do ponto de vista das críticas musicais, feitas por especialistas, ao longo dos tempos. O título é o mesmo de uma música que o artista compôs em 1966 - uma resposta indireta de quem, no ano anterior, chegou a ser tachado de “debilóide”.


Naquela época, Roberto Carlos era a “cara” da Jovem Guarda, um movimento cultural que mesclava música, comportamento e moda, que “explodiu” junto com o sucesso da televisão brasileira. Isso porque, em 1965, a TV Record, de São Paulo, estreou o programa “Jovem Guarda”, apresentado por ele, Erasmo Carlos e Wanderléa.


“Na década de 60, a crítica levava muito em conta o posicionamento político do artista e Roberto, como toda a Jovem Guarda, era visto como alienado, por conta da ditadura em que o país estava metido”, comenta Tito.


“Querem acabar comigo

Nem eu mesmo sei porque

Enquanto eu tiver você aqui

Ninguém poderá me destruir”


Foram esses versos que Roberto cantou, sem rebater diretamente as críticas. O “você” que o tornaria indestrutível, como prega a letra, foi entendido, muito tempo depois: era o público do artista, que se tornaria seu norte.


Tito observa que, de alienado, Roberto “se tornou” brega, oportunista, comercial e repetitivo, de acordo com a opinião dos críticos, nas diferentes épocas. E eis que chega a década de 90 e Roberto ganha sua primeira “medalha”, quando é chamado de gênio, justamente por conta das canções da Jovem Guarda. Porém, ainda assim, não houve “trégua”.


“Ao mesmo tempo em que revisavam e passavam a cultuar o trabalho da década de 60, os críticos dos anos 90 continuavam a torcer o nariz para o trabalho contemporâneo do cantor”, observa Tito.


Foram os chamados “medalhões” da MPB os primeiros a reverenciar a obra de Roberto Carlos. Caetano Veloso fez isso ainda na época da Tropicália. Depois foi a vez de Nara Leão que, nos anos 70, fez um disco todo com músicas do Rei. Mais tarde, Maria Bethânia também gravaria Roberto Carlos. Em tempos mais recentes, Marisa Monte e Nado Reis se renderam ao repertório do cantor.


Aos 23 anos, Tito “herdou” da família o gosto por Roberto Carlos. Ele conta que as músicas do Rei sempre estiveram presentes na casa dos seus pais, sem contar o tradicional especial de Natal, exibido pela Rede Globo. Imperdível para ele e toda a família.


A origem do livro está no seu trabalho de conclusão da graduação em Estudos de Mídia, na Universidade Federal Fluminense. O então estudo universitário foi aprofundado em mais dois anos e meio de pesquisas. Atualmente, o autor trabalha no Instituto Memória Musical Brasileira, um acervo digital da MPB voltado para pesquisadores.


Ao longo das 144 páginas do livro, Tito fala das diferentes fases da carreira de Roberto Carlos e reproduz dezenas de críticas publicadas nos principais veículos de comunicação do país.


Tito comenta que não se preocupou em julgar os críticos, se estavam certos ou errados nas suas avaliações. Na sua opinião, esses profissionais “não souberam dimensionar a complexidade” da obra de Roberto Carlos.


“Ele tem uma riqueza de produção enorme. De 1965 até 1996, Roberto Carlos lançou um disco por ano, todos com canções inéditas. É difícil em uma produção desse porte, tudo ser primoroso. Porém, ele manteve sua força de expressão junto ao público o tempo todo”, afirma Tito.


O autor observa que o Roberto da Jovem Guarda para o Roberto tido como romântico foi fruto de uma transição lenta. Músicas de amor, o artista já fazia desde a sua época de “alienado”. Segundo Tito, a imagem que acabou por consolidar o cantor (das roupas à forma como interage com o público, passando até pelo tipo de microfone que adotou) surgiu a partir do lançamento de “Detalhes”, em 1971.


“Uma vez, em uma entrevista, Roberto Carlos se defendeu das críticas dizendo que ele se identificava como sendo um cantor romântico, que esse era o estilo dele e se manteria fiel a isso. E que ele era mais preocupado com a opinião do público em relação ao seu trabalho do que com a opinião da crítica”, conta Tito.


Quando Roberto Carlos recebeu a coroa de Rei, ninguém sabe ao certo. O fato é que nunca mais lhe foi tirada. O autor observa que, hoje, às vésperas dos 80 anos do artista, a crítica que o odiava praticamente não existe mais. Na verdade, praticamente não existe mais crítica musical. Os discos de Roberto Carlos, porém, seguem tocando e embalando novas gerações de fãs.


Ouça Querem Acabar Comigo






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