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Azeite de abacate é a novidade que vem do sul de Minas Gerais

Já ouviu falar em azeite de abacate? Pois é, ele existe - e é de excelente qualidade. Em São Sebastião do Paraíso, sul de Minas Gerais, o engenheiro agrônomo José Carlos Gonçalves - que este ano completa 80 anos - e sua família resolveram, há três décadas, consorciar a fruta abacate entre os pés de café da fazenda, para aproveitar o espaço. E acabaram investindo na fruta. Ao longo do tempo, após se dedicarem a estudos em conjunto com universidades e órgãos oficiais de pesquisa, os primeiros vidros de azeite de abacate viraram realidade, há seis anos.


Em 2014, em parceria com a Epamig (Empresa de Pesquisas Agropecuária de Minas Gerais), foram feitas as primeiras extrações de azeite de abacate para testes. Foram 100 litros, que serviram também para testar o maquinário da então fazenda, que acabou virando uma indústria.


“Hoje o projeto, que decolou no ano seguinte, está em pleno funcionamento, produzindo um fino azeite extravirgem”, ressalta Gonçalves.


O produtor é, atualmente, pioneiro na produção deste tipo de azeite no Brasil. E transformou-se no maior produtor brasileiro da variedade breda da fruta. Somando experiência no manejo de seis propriedades, cinco delas no sul de Minas Gerais – localizadas nos municípios de São Sebastião do Paraíso, Jacuí, Cássia, São Tomás de Aquino e Ibiraci – além de uma em Cajuru, no interior de São Paulo -, a colheita de abacates representa mais de quatro mil toneladas anuais, isso sem falar de outras colheitas, como milho, soja e café, além da criação de gado de corte.


A Paraíso Verde produz duas variedades de abacate, dentre as mais de 500 existentes no mundo: o margarida e o breda, que têm frutos e árvores bem distintos. O margarida possui formato arredondado, cor verde-escura, casca rugosa, caroço menor e sua árvore cresce para os lados. Já o breda possui cor verde-claro, formato comprido, como uma pera; sua casca é lisa, seu caroço é maior e mais arredondado e a árvore cresce para cima - e pode alcançar até 12 metros de altura.


A fruta, na variedade margarida, é mais conhecida dos habitantes do norte e do nordeste do Brasil, onde são comercializadas pela Fazenda Paraíso Verde. Já o breda é o preferido dos sulistas e moradores da região sudeste. Segundo a Associação dos Produtores de Abacates do Brasil, para este ano, a produção nacional deve bater a casa das 500 mil toneladas de frutas colhidas.


O aproveitamento do abacate nas Fazendas Paraíso Verde é quase total. Desde a polpa, da semente e das cascas - além do próprio pé da fruta, que faz sombra para os cafezais da fazenda -, tudo é aproveitável.


“Ambas as plantas se protegem, já que o pé de abacate é alto e as copas protegem os cafezais embaixo, imunizando contra pragas, doenças naturais e também facilita no manejo diário”, diz Gonçalves.


Para cada quatro mil pés de café, há cem pés de abacate.


"O café paga o abacate e este custeia o café”, brinca Carlos Alberto Gonçalves, filho de José Carlos e também agrônomo.


Normalmente, a colheita do café vai de junho a setembro, enquanto a dos abacates vai de agosto a dezembro. Desta forma, as duas plantações fazem as fazendas trabalharem quase o ano todo.


Como a comercialização do abacate é rigorosa, o Ceasa exige que cada fruta esteja visualmente perfeita, sem manchas ou queimaduras de sol. O que fazer com os abacates que não estão tão “bonitos” assim? Foi daí que veio a ideia, aprofundada com muitos estudos e pesquisas, de produzir o azeite com o descarte da comercialização.


Hoje, 20% da produção no campo vai para a produção de azeite e também de produtos farmacêuticos e dermocosméticos. Sim, a manteiga de cacau está sendo substituída por manteiga de abacate para fazer batons, cremes hidratantes, sabonetes, shampoos e condicionadores. Só de batons, a fazenda paulista produz, diariamente, 15 mil produtos labiais, tendo como matéria- prima o abacate. O caroço está em fase de análise na Anvisa, para virar isca contra formigas: um inseticida natural. O óleo da fruta está sendo estudado para se transformar em um tipo de biocombustível. A farinha está em fase de teste, produzida a partir do aproveitamento do resíduo sólido da extração do azeite e destinada à alimentação animal.


Com a variedade margarida, especificamente, há estudos para a criação do azeite de abacate.


“A polpa fresca foi seca em estufa e posteriormente moída, para a obtenção de um farelo. O óleo obtido do farelo foi extraído e caracterizado. Os resultados mostraram que os processos de extração e de refino do óleo a partir da variedade margarida são tecnicamente viáveis, o que o torna excelente matéria-prima para a indústria alimentícia. Além disso, possui um perfil de ácidos graxos e de esteróis muito semelhante ao perfil do azeite de oliva. Dessa forma, pode substituir o óleo de soja e ser utilizado, juntamente com o azeite de oliva, nos óleos mistos, oferecendo ao consumidor brasileiro um produto de qualidade superior e com menor custo", segundo análise dos pesquisadores Jocelem Mastrodi Salgado, Flávia Danieli, Marisa Aparecida Bismara Regitano-D'arce, Andrea Frias e Débora Niero Mansi, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP.


Pesquisas internacionais (Canadá e Estados Unidos) já provaram os benefícios da fruta e do azeite de abacate. Auxilia do combate à leucemia, câncer de próstata e no controle do diabetes.


“Uma vez que o abacate possui substâncias anti-inflamatórias, o azeite é muito útil na luta contra o osso enfraquecido de pessoas idosas”, frisa Carlos Alberto Gonçalves.


O azeite de abacate, apesar de ainda pouco conhecido, é considerado de qualidade superior ao azeite de oliva.


“Eu digo que produzo a azeitona tropical”, brinca José Carlos, o agrônomo-pai.


Quanto mais baixa a acidez, melhor o óleo. Em altas temperaturas, o azeite extravirgem é estável e resiste a até 271 graus - sem sofrer alterações em suas propriedades, e sem fazer fumaça, em contraponto aos óleos de oliva e de coco, que se degradam a partir de 100 a 170 graus.


De coloração verde-escura e gosto suave, porém marcante, o azeite de abacate é encorpado e pode ser consumido puro. É ideal para molhos, temperar saladas, regar hortaliças - e, em pratos quentes, não lembra, no sabor, nem o óleo e nem o azeite de oliva. Rico em Ômega 3, 6, 9 e 11 e sem colesterol, o abacate é também uma excelente sobremesa. A cada cem litros de azeite, 70% são constituídos da polpa da fruta, misturados a 30% de água. Dessa mistura, após ser batida em um grande liquidificador durante uma hora, sai o óleo.


“A diferença para a azeitona é que, para se fazer o azeite, é necessário deixar o fruto curtir por vários meses. Já com o abacate, basta deixar amadurecer por até cinco dias”, explicam os produtores.


O vidro esverdeado de azeite extravirgem, de 250 ml, pode ser encontrado em supermercados e empórios das capitais e do interior dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais - ou pedidos pelo site da fazenda Paraíso Verde. Para restaurantes e bares há, ainda, sachês de 300 ml. O próximo passo da família Gonçalves é a exportação do azeite de abacate.


“Estamos firmando contatos com os Estados Unidos e com o Japão, dentre outros mercados internacionais”, anunciou o agrônomo Carlos Alberto.


Reportagem publicada originalmente na Revista Plurale 77 de autoria de Maria Augusta de Carvalho, de Poços de Caldas (MG)

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