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  • Sônia Apolinário

Onze pessoas da Backer são indiciadas por contaminação de cerveja em Belo Horizonte

No dia 8 de junho, a Polícia Civil de Minas Gerais deu o Caso Backer por encerrado. Foi comprovada a existência de um vazamento em um dos tanques da fábrica e a conclusão da investigação é que houve negligência e imperícia por parte da cervejaria. Ao todo, 11 pessoas ligadas à empresa foram indiciadas.

Três pertencem ao grupo societário; 6 são do grupo gestor e responsáveis técnicos; o chefe da manutenção e uma pessoa por falso testemunho.

A Backer chegou a apresentar para a polícia um vídeo que mostraria uma suposta ação de sabotagem dentro da fábrica.

Dentre os crimes que a cervejaria terá que responder estão lesão corporal, contaminação de produto alimentício e homicídio. O inquérito chegou a considerar 42 vítimas, mas foi concluído com 29, tendo sido registrados sete óbitos.

No mesmo dia, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento divulgou uma nota oficial para informar que análises feitas pelo Mapa indicaram a presença dos contaminantes dietilenoglicol e etilenoglicol em cervejas produzidas pela Backer desde janeiro de 2019. De acordo com a nota do Mapa, até o momento, os rótulos contaminados são: Belorizontina, Capixaba, Capitão Senra, Backer Pilsen Export, Corleone, Três Lobos Pilsen, Layback D2 e Bravo. A observar que a Belorizontina e a Capixaba são a mesma cerveja, apenas com rótulos diferentes. A Layback é uma marca de Florianópolis e a D2 foi feita em homenagem ao cantor Marcelo D2. A Backer produzia e distribuía outros dois rótulos da LayBack, uma APA e uma Session IPA.

A Backer solicitou a reabertura e a liberação da sua fábrica e, segundo o Ministério da Agricultura, o pedido será atendido “somente após a cervejaria cumprir as exigências feitas pelo Mapa e ser capaz de garantir a segurança da produção futura”.

No final de abril, o Mapa autorizou a Backer a utilizar cerveja que ficou parada em tanques interditados para transformar em álcool 70%. Até a presente data, não há informação que essa produção tenha sido feita.

Por intermédio de advogados, a Backer contestou o resultado do inquérito. De acordo com o representante da empresa, a cervejaria não teve culpa pela contaminação. Alegaram que a Backer utilizava etilenoglicol e que as contaminações foram por dietilenoglicol. Além disso, alegaram que só houve um vazamento porque um equipamento novo apresentou defeito, ou seja, a culpa é do fabricante.

Íntegra do comunicado da Polícia Civil de Minas Gerais distribuído para a imprensa sobre a conclusão do Caso Backer:

"A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) concluiu, no dia 8 de junho as investigações acerca do caso da síndrome nefroneural provocada por contaminação de cerveja. O inquérito policial acumula cerca de quatro mil páginas e 11 pessoas foram indiciadas em crimes como lesão corporal, homicídio e intoxicação de produto alimentício.

O Chefe da PCMG, Wagner Pinto, destaca que essa investigação foi algo diferente do que a Polícia Judiciária trabalha no dia a dia e contou com uma equipe multiprofissional.

“Trata-se de uma investigação extremamente complexa, em que a prova técnica é imprescindível para se desencadear a investigação e, consequentemente, a definição do que ocorreu, como ocorreu e quem são os responsáveis pela ação”, ressaltou.

As investigações tiveram início no dia 5 de janeiro deste ano e, após análises com mais de 100 perícias e 70 pessoas prestarem depoimentos, foi constatado que a contaminação foi ocasionada no local da produção da cerveja por monoetilenoglicol e dietilenoglicol, líquidos refrigerantes que não poderiam entrar em contato com nenhum tipo de produto alimentício. O Superintendente de Polícia Técnico-Científica, Médico-Legista Thales Bittencourt, explica que “ambas as substâncias são tóxicas”:

“É verdade que o dietilenoglicol tem o nível de toxicidade maior que o mono, mas ambos são igualmente tóxicos e causam a síndrome nefroneural”, ressaltou.

O Delegado Flávio Grossi, responsável pelas investigações, explicou que, no inquérito, até o momento, 29 vítimas foram confirmadas, sendo sete fatais e 22 sobreviventes com lesões corporais.

“Fechamos com 29 vítimas efetivas, o que não quer dizer que não existam outras vítimas porque ainda têm 30 vítimas que já reclamaram de uma possível intoxicação/contaminação, que serão averiguadas”, detalhou.

O inquérito policial conclui que houve contaminação culposa. O Delegado Flávio Grossi confirma que “agiram de forma culposa nos hábitos produtivos, sem intenção, por perícia ou imprudência. Eles (responsáveis pela cervejaria Backer) agiram de forma negligente na atuação que deveriam agir como garantidores da produção cervejeira”, afirmou.

Grossi ainda explica que havia vazamentos em tanques de cerveja.

“O vazamento fisicamente ocorreu porque havia furos nos tanques, no alinhamento da solda. Mas a questão a se destacar não é a ocorrência do vazamento, é o uso de uma substância tóxica dentro de uma planta fabril destinada à alimentação. Ela não poderia ocorrer, por uma simples análise de elementos técnicos nos equipamentos usados. Bastaria uma simples análise, uma simples leitura de três linhas para saber que aqueles equipamentos deveriam funcionar com anticongelantes não tóxicos”, ressaltou.

Os indiciados foram uma testemunha, que responderá por extorsão e falso testemunho; o chefe da manutenção, que responderá por homicídio culposo, lesão corporal culposa e contaminação de produto alimentício culposa; seis responsáveis ligados diretamente à produção cervejeira, que responderão por homicídio culposo, lesão corporal culposa e contaminação de produto alimentício dolosa; e três pessoas da gestão da empresa, que responderão por ato pós-produção devido ao descumprimento de normas administrativas.

As investigações foram concluídas por meio de trabalho conjunto com outros órgãos.

“Agradeço ao Ministério Público do Estado de Minas Gerais; Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear, autarquia federal que nos auxiliou; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Polícia Militar de Minas Gerais; Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais; Polícia Civil do Distrito Federal e as Secretarias do Estado de Saúde”, finalizou o Chefe da PCMG".

Veja a coletiva de imprensa promovida pela Polícia Civil MG sobre o encerramento do Caso Backer

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