- Sônia Apolinário
Cinema brasileiro ganha Mostra em Portugal
Com 16 filmes na programação, a 2ª Mostra de Cinema do Brasil em Lisboa será realizada de amanhã (terça-feira, 25) a domingo, no Cinema São Jorge. A sessão de abertura será com o longa “O Beijo no Asfalto”, estreia na direção do ator brasileiro Murilo Benício.
Ano passado, o evento atraiu um público de duas mil pessoas. Desta vez, a programação também inclui uma sessão dedicada a alguns dos mais recentes e premiados curtas-metragens brasileiros, além de uma exposição fotográfica. A Mostra é organizada pela Embaixada do Brasil em Lisboa, em parceria com o Cinema São Jorge e a Linhas Produções Culturais.
“O sucesso da primeira edição deixou a percepção inequívoca de que há uma grande demanda do público português pelo cinema brasileiro. Ganham os portugueses, que têm a oportunidade de ver nossas mais recentes e premiadas produções, e ganham os brasileiros que aqui moram e que querem sempre estar atualizados com o melhor do nosso cinema”, afirma Igor Trabuco, chefe da seção cultural da Embaixada do Brasil em Portugal.
Abertura
Filmado em preto e branco, “O Beijo no Asfalto” é baseado na peça homônima do dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues (1912-1980), escrita no começo dos anos 60.
Ao presenciar um atropelamento, Arandir (Lázaro Ramos), um bancário recém-casado, tenta socorrer a vítima, mas o homem, quase morto, só tem tempo de realizar um último pedido: um beijo. Arandir beija o homem, mas seu ato é flagrado por seu sogro Aprígio (Stenio Garcia) e fotografado por Amado Ribeiro (Otávio Müller), um repórter policial sensacionalista. Faz parte do elenco a atriz Fernanda Montenegro, no papel de D.Matilde, vizinha de Selminha (Débora Falabella), mulher de Arandir. Detalhe: Fernanda Interpretou Selminha na montagem original de “O Beijo no Asfalto” para o teatro, em 1960.
A sessão será aberta em coquetel para convidados às 19h30, seguida da exibição do longa às 20h30. Na foto à direita, Fernanda Montenegro (centro) e Débora Falabella (esquerda)
Convidadas brasileiras
A Mostra terá entre suas convidadas a atriz Marjorie Estiano (foto à esquerda), protagonista do longa “As Boas Maneiras”, de Juliana Rojas e Marcos Dutra. O filme conta a história de Ana (Marjorie Estiano) que contrata Clara (Isabél Zuaa), uma solitária enfermeira moradora da periferia de São Paulo, para ser babá de seu filho ainda não nascido. Conforme a gravidez vai avançando, Ana começa a apresentar comportamentos cada vez mais estranhos e sinistros hábitos noturnos que afetam Clara diretamente.
Atriz premiada tanto no teatro como no cinema, Marjorie, atualmente, é protagonista de “Sob Pressão”, da Rede Globo, que lhe rendeu o prêmio APCA de melhor atriz.
Lúcia Veríssimo também estará presente ao evento. Seu documentário “Eu, meu pai e Os Cariocas” também faz parte da programação. A obra mostra a história do Grupo Os Cariocas, formado em 1942, e que representa um marco da música popular brasileira, do samba-canção à bossa nova. O grupo começou a impressionar o mundo com seu estilo único de arranjos vocais.
Filha do maestro Severino Filho, membro que mais tempo ficou no conjunto, Lúcia Veríssimo (direita) narra, com a contribuição de inúmeros artistas e pesquisadores, a história do grupo. Ela e Marjorie participarão de debates com o público, após exibição dos seus filmes.
Programação
A música brasileira é destaque em outros dois títulos que fazem parte da programação. O documentário “Damas do Samba” traz uma retrospectiva da trajetória do samba ao longo da história, com destaque para a participação feminina. O longa de ficção “Todas as Canções de Amor” é um romance com Marina Ruy Barbosa, Bruno Gagliasso, Julio Andrade e Luiza Mariani, no elenco. No filme, uma fita K7 gravada há décadas com um repertório de músicas românticas brasileiras das últimas décadas dá o tom para as histórias dos casais.
O bullying cometido na adolescência com a divulgação de fotos nuas de parceiros e até mesmo a pedofilia são tratados em outros dois filmes: “Ferrugem”, de Aly Muritiba, e “Aos Teus Olhos”, de Carolina Jabor.
Completam a Mostra os longas “Divinas Divas” (documentário), de Leandra Leal; “Temporada” (drama), de André Novais Oliveira; “Talvez Uma História de Amor” (comédia romântica), de Rodrigo Bernardo; “O Animal Cordial” (thriller | suspense), de Gabriela Amaral Almeida; “Intimidade entre Estranhos” (drama), de José Alvarenga Jr; “Cinderela Pop” (fantasia | comédia), de Bruno Garotti; “Rasga Coração” (drama), de Jorge Furtado; “Irmão do Jorel” (animação), de Juliano Enrico; e “Mulheres Alteradas” (comédia), de Luis Pinheiro.
“O interesse dos portugueses pelo cinema brasileiro é grande e natural, dada nossa identidade linguística e nossa proximidade cultural. O número de produções brasileiras, nos principais festivais de cinema de Lisboa, evidencia que já era momento de uma Mostra somente de filmes nacionais”, afirma Luiz Alberto Figueiredo Machado, Embaixador do Brasil em Portugal.
Na opinião de Fernanda Bulhões, diretora da Linhas Produções Culturais, o cinema brasileiro vive hoje um dos seus principais momentos de projeção internacional. Ela se refere às premiações recentes em Cannes dos filmes “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, de Karim Aïonuz (vencedor da Mostra Um Certo Olhar), e “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho, Prêmio do Júri da competição principal:
“Há sempre uma grande expectativa pelos filmes brasileiros nos festivais do exterior. Com as recentes premiações, mais que a expectativa também se espera muita qualidade. A Mostra deste ano, além de maior que a do ano passado, também se destaca pela diversidade, pela pluralidade de temas e gêneros, sempre com um olhar que procura guiar o público para além da tela do cinema”, afirma.
Curtas
Alguns dos mais recentes e premiados curtas-metragens brasileiros também ganham uma sessão exclusiva no festival deste ano. Fazem parte da Mostra “O Órfão”, de Carolina Marcowicz (Queer Palm em Cannes/2018); “Eu, Minha Mãe e Wallace”, de Eduardo Carvalho e Marcos Carvalho (Melhor Curta pelo Público no Festival de Brasilia/2018); “Guaxuma”, de Nara Normande (Melhor Curta no Festival de Gramado/2018); “Mesmo com Tanta Agonia”, de Alice Andrade Drummond (Melhor Filme no Festival Lugar de Mulher é no Cinema/2019) e “A Volta para Casa”, de Diego Freitas, que acaba de ser lançado no Brasil e conta com Lima Duarte no papel principal.
Exposição fotográfica
Durante a 2ª Mostra de Cinema do Brasil em Lisboa, o Cine São Jorge vai abrigar uma exposição do fotógrafo brasileiro Daryan Dornelles. São mais de 100 imagens de alguns dos mais consagrados artistas brasileiros como Chico Buarque de Holanda, Fernanda Montenegro, Gilberto Gil, Wagner Moura e Maria Bethânia.
Formado em Cinema e Jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF), sócio do estúdio Fotonauta, ele é um dos três profissionais brasileiros que mais publicaram retratos até hoje - cerca de 2.000. Suas fotografias já se transformaram em mais de 150 capas de discos e estampam diversas revistas nacionais e estrangeiras, entre elas Esquire, GQ, Rolling Stone e Vogue.
Cinema São Jorge
O Cinema de São Jorge é um dos mais prestigiados de Portugal. Foi inaugurado em fevereiro
de 1950, na Avenida da Liberdade n.º 175, em Lisboa, capital do país. Possui três salas, com capacidade que varia entre 100 a 827 pessoas. Nas suas instalações, além de cinema, abriga espetáculos de dança e teatro.
Desde a sua abertura, o Cinema São Jorge é referência cultural em Lisboa. Nos últimos anos, passou a apostar em na realização de co-produções de festivais, tornando-se a sede da maioria deles.
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