Bloco Alegria sem Ressaca comemora 15 carnavais "limpo" e sem recaĆda
- SƓnia ApolinƔrio
- 26 de jan. de 2018
- 3 min de leitura
Se Ć© verdade que cerveja rima com carnaval, em pelo menos um bloco, no Rio de Janeiro, Ć© muito remota a possibilidade de se encontrar alguĆ©m sambando com uma lata da bebida na mĆ£o. No Alegria Sem Ressaca, que sai domingo (28), Ć s 9h, em Copacabana, os integrantes sĆ£o dependentes quĆmicos em recuperação, seus familiares e profissionais da saĆŗde. Em 2018, o bloco comemora 15 carnavais ālimpoā.

Foi o psiquiatra Jorge Jaber quem teve a iniciativa de criar o bloco. Especializado em dependĆŖncia quĆmica em Harvard (EUA) e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, ele conta que a ideia surgiu em conversas com profissionais de saĆŗde e pessoas interessadas em mostrar que Ć© possĆvel haver recuperação para o uso abusivo de Ć”lcool e drogas.
āO carnaval Ć© um perĆodo em que hĆ” um certo abuso. Na verdade, Ć© uma festa caracterizada por excessos de uma maneira geral. Nesse perĆodo, hĆ” um alto Ćndice de acidentes por conta do consumo elevado de Ć”lcool e drogas. HĆ” 15 anos, quando tivemos a ideia do bloco, o objetivo era chamar a atenção para o excesso de consumo de substĆ¢ncias quĆmicasā, conta Jaber, ex-presidente da Associação Brasileira de Alcoolismo e Drogas.
Ano passado, o Alegria sem Ressaca reuniu trĆŖs mil pessoas. O bloco nĆ£o desfila, apenas se concentra na Avenida AtlĆ¢ntica, esquina com a Rua RepĆŗblica do Peru, onde mĆŗsicos da velha guarda da escola de samba Unidos de Vila Isabel animam os foliƵes. Um dos convidados deste ano Ć© MendonƧa, ex-jogador do Botafogo, que viveu um perĆodo de internação para se livrar do consumo de drogas. TambĆ©m estarĆ£o presentes 17 integrantes da Pelada Rubro-Negra.
Jaber avisa que nĆ£o se trata de um ābloco flamenguistaā. A participação dos rubro-negros deve-se ao fato de existir, no clube da GĆ”vea, um grupo ligado a aƧƵes de prevenção a uso de drogas, com atuação social nas comunidades de Manguinhos e JacarĆ©.

CaberÔ a Ellen de Lima o posto de madrinha do bloco deste ano. Não, ela não teve problema com drogas, segundo Jaber. Ele explica que o motivo do convite para a eterna rainha do rÔdio participar do "desfile" é prestar-lhe uma homenagem por conta dos seus 80 anos.
O psiquiatra afirma que os ambulantes costumam respeitar o bloco. Quem fica por lĆ”, oferece Ć”gua e refrigerante para os foliƵes. PorĆ©m, pessoas com latinhas de cerveja na mĆ£o jĆ” se chegaram para sambar no Alegria sem Ressaca. Jaber afirma que ninguĆ©m Ć© expulso, que o bloco Ć© ādemocrĆ”ticoā.
āQuem sai na rua nesta Ć©poca, Ć© impossĆvel nĆ£o se deparar com pessoas bebendo. No carnaval, hĆ” um apelo muito forte para o consumo de bebida alcoólica. No bloco, estĆ£o pessoas que fazem tratamento juntas. HĆ” uma equipe de apoio, entĆ£o, essas pessoas se sentem mais seguras para participar do carnavalā, afirma Jaber.
Em relação Ć cerveja sem Ć”lcool, ele observa que, primeiro, nenhuma delas Ć© completamente sem Ć”lcool. Em segundo lugar, quem estĆ” em tratamento deve evitar o chamado āhĆ”bito da ativaā. Beber cerveja sem Ć”lcool, explica o psiquiatra, aproxima a pessoa da bebida, āo que pode provocar uma recaĆdaā.
E por incrĆvel que pareƧa, o Alegria sem Ressaca jĆ” foi procurado por uma cervejaria que se propĆ“s a patrocinar o bloco.
āNós fazemos um encontro simples, sem grandes produƧƵes. Durante duas horas, as pessoas se divertem, se alegram e fazem uma atividade fĆsica. E nós levamos a mensagem que o excesso nĆ£o Ć© bom. Admito que muitas pessoas que consomem Ć”lcool nĆ£o sofrem problema algum. PorĆ©m, nesta Ć©poca, o apelo Ć© muito forte para os que sofrem influĆŖncias negativas pelo consumo de Ć”lcool. As cervejarias poderiam agir com mais responsabilidade social. Poderiam alertar para os riscos do consumo da bebida e oferecer endereƧo e telefone de grupos do AA (Alcoólicos AnĆ“nimos)ā, sugere Jaber que, este ano, deixarĆ” a tarefa de āanimadorā do bloco para o jornalista Cadu Freitas.

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