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  • Sônia Apolinário

Débora Falabella enfrenta os demônios da ansiedade e provoca risos e reflexões no cinema

No dia em que participou da coletiva de imprensa virtual para o lançamento do filme “Depois a Louca Sou Eu”, na semana passada, a atriz Débora Falabella estava completando 42 anos. O jeito de menina inocente se mantém presente. Porém, quem acompanha seus trabalhos, seja no teatro, cinema ou TV, sabe das transformações de que a atriz é capaz.

No momento, por exemplo, ela pode ser vista na televisão como a vilã Irene, na novela “A Força do Querer”, de 2017, em reprise pela rede Globo. No cinema, começa a "trajetória" de Dani, a protagonista de “Depois a Louca Sou Eu”. Entre crises de pânico e ansiedade, a personagem faz rir ao mesmo tempo em que provoca reflexão e, em alguns momentos, um pouco também de falta de ar.


Em entrevista, a atriz fala, entre outras coisas, que ficou muito à vontade no set. E um dos motivos foi por estar rodeada de amigos. No filme, ela contracena com Yara de Novaes. Há 13 anos, as duas atrizes fundaram a companhia Grupo 3 de Teatro, ainda em atividade. Já o namorado de Dani, o psicanalista também ansioso Gilberto, foi interpretado por Gustavo Vaz, ex-namorado da atriz, na “vida real”, até o ano passado.

O filme, que chegou aos cinemas na última quinta-feira, é baseado no livro homônimo de Tati Bernardi, lançado em 2016. Foi adaptado para o cinema por Gustavo Lipstzein. No elenco também estão Duda Batista (Dani na infância), Rômulo Arantes Neto, Evandro Mesquita, Cristina Pereira, Debora Lamm e Beatriz Oblasser (Dani na adolescência). A história gira em torno das crises de ansiedade da protagonista e o coquetel de drogas legais que usa como medicação.


Débora, que faz análise há dez anos, admite que sim, já passou sufoco por conta de ansiedade, mas, quem nunca?


Confira a entrevista



Quem é a Dani?

DF: Minha personagem é baseada no livro da Tati Bernardi, que escreveu suas experiências pessoais com ansiedade e pânico. A história dessa mulher é contada desde criança, quando ela começou a convier com esses sentimentos que assolam tanta gente, mas a maioria tem vergonha de falar. Dani é uma mulher contemporânea, com forte relação com a família. Acho que o mais interessante do filme é mostrar como isso foi acontecendo, como os medos da família e da mãe foram passados para ela e que todo mundo passa por isso na vida, não precisa ser um tabu. Eu costumo dizer que, hoje em dia, é quase impossível a gente passar por essa vida e viver no mundo em que a gente vive sem ter ansiedade e melancolia. Acredito que, hoje em dia, quem está muito bem, aí sim, é que tem algum problema.


Como o convite para fazer a Dani chegou a você?

DF: Eu já conhecia a Tati, acompanhava os textos dela e ela já tinha me assistido no teatro. Quando lançou o livro “Depois a Louca Sou Eu”, li e adorei. Me identifiquei e ri bastante. Falei pra ela que, se um dia, o livro virasse filme, eu queria fazer. O tempo passou e, um dia, a Julia (Rezende, diretora), me ligou e fez o convite. Fiquei super feliz porque era a oportunidade de fazer um papel com o qual eu me identificava; compreendia os dramas da personagem que tinha muitas possibilidades. Tudo no filme é levado muito a série, mas ele conta a história de uma mulher que olha com humor para essa situação.


Como foi sua preparação para interpretar a personagem?

DF: Quando você se prepara para fazer um papel, não importa somente a sua personagem, mas as pessoas com quem você vai se relacionar. A Dani tem algumas pessoas cruciais na história como a mãe, feita pela Yara de Novaes, grande amiga e companheira de vida porque temos uma companhia de teatro juntas, há mais de 13 anos. E tem ainda o personagem do Gustavo Vaz ( namorado), que também já é um amigo. Fiz outros trabalhos com ele e fico muito segura e à vontade de ter atores com quem eu tenho um jogo bom ao meu lado. Isso é essencial para a construção de um papel. Fora isso, também ensaiamos as cenas e fomos achando o tom da personagem, além das pesquisas que fiz sobre crise de ansiedade e pânico.


O que tem de importante na relação da Dani com a mãe?

DF: Dani é filha única, cresceu com os pais separados e a mãe muito grudada nela. As duas têm uma relação de amor e de total dependência. Talvez, a mãe seja mais dependente da filha do que o contrário. Essa relação torna-se difícil porque uma não consegue se desvencilhar da outra, mas, ao mesmo tempo, a gente consegue enxergar o desabrochar da Dani, indo atrás dos seus sonhos, apesar de passar o filme todo lutando contra suas ansiedades e com seus medos. Para vencer isso, ela procura vários tipos de ajuda. Acho importante mostrar que, mesmo com todas as dificuldades em que vivemos, a gente vai batalhando e, com perseverança, consegue realizar as coisas.


Como o filme consegue falar de assuntos como ansiedade e pânico com leveza?

DF: A gente não tira sarro do problema. A Dani enxerga graça porque é ela quem conta a história. Assim como no livro, ela tem propriedade para falar do assunto com humor porque passou pelas situações. Quando precisamos falar sério, mostrar o problema dela, fomos até o fim. O humor gera identificação. As pessoas que passaram por isso e riem, talvez comecem a entender que é uma situação normal, que pode acontecer com todo mundo. Lendo o roteiro, me ví várias vezes em alguns dos momentos e comecei a rir. O legal do filme é que a narração da Dani é engraçada porque as situações são engraçadas e absurdas. A gente nunca tentou buscar a graça. A personagem narra o tempo inteiro e isso aproxima quem está assistindo.


Com quais situações se identificou lendo o livro ou o roteiro?

DF: Eu já tive crise de ansiedade, já fui parar em hospital achando que estava passando mal. Tem uma cena em que a Dani está em um engarrafamento, começa a ficar ansiosa e pensa em sair correndo, entre os carros. Quem nunca quis sair correndo quando se vê no meio de um engarrafamento? Eu nunca saí correndo, mas já passei mal dentro de carro. Ao mesmo tempo que Dani fala as coisas com humor, ela é também muito verdadeira, sem filtro. Eu me identifico com isso. Chegou um momento da minha vida que parei de me preocupar com esses filtros e com o que as pessoas estão pensando.


Qual foi o principal desafio desse projeto ?

DF: Tem horas em que você precisa ficar sem o tal do filtro e isso demora um certo tempo para conseguir, em um set. Para esse filme, não tive vergonha de ir pelo absurdo. Toda cena tem dificuldades, mas o set era tão bom, eu estava tão à vontade que, na verdade, não tive problemas. Foi só aproveitar e me divertir também. Além disso, a Julia é um talento. Ela tem muita firmeza e sabe o que quer. Isso passa segurança para todos. Ela dirige de uma forma muito delicada. Dá orgulho ver essa mulher dirigindo o set com tanta serenidade e, ao mesmo tempo, tanta força.


Como foi a experiência da websérie “Diário de uma Quarentena”?

DF: A ideia surgiu de uma forma muito despretensiosa. Acho que todos nós ficamos muito frustrados quando veio a pandemia porque o filme estava para estrear. A gente já tinha começado o lançamento com a participação em festivais. Conversando com a Julia, a gente ficou imaginando como a Dani estaria em plena pandemia e pensamos em fazer um vídeo. Então, a Tati (Bernardi) escreveu o primeiro episódio, depois o próprio roteirista do filme escreveu os outros e fomos fazendo. Eu gravava tudo na minha casa, tive que arrumar uma peruca porque já estava com os cabelos curtos. E foi divertido fazer os capítulos. Percebi que a série gerou uma identificação nas pessoas. A gente fez isso logo no início, ainda não tínhamos muito conteúdo sobre a pandemia. Achei interessante tirar o personagem do cinema e usar esses outros meios de comunicação que são as mídias sociais. Para mim, foi uma experiência linda porque, até hoje, não sei usar muito bem as redes sociais. Eu sempre penso em sair, das redes, inclusive, porque eu não acho que a gente usa da maneira como poderia. Acho que quando você usa para fazer coisas nas quais você acredita e, principalmente, na sua área de trabalho, como foi no meu caso, na dramaturgia, é muito interessante abrir esse canal.



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