- Sônia Apolinário
Última semana para ver O Rei da Vela, no Rio
Uma peça escrita em 1933 e levada ao teatro pela primeira vez há 50 anos nunca esteve tão atual, no Brasil. Trata-se de "O Rei da Vela" cuja temporada no Rio termina no próximo domingo, dia 29, na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca. A encenação tem três horas e meia de duração.
Com ela, nomes como Oswald de Andrade, Zé Celso Martinez Corrêa e Teatro Oficina voltam à cena cultural nacional acompanhadas de expressões como movimento modernista, tropicalismo e luta de classes. Para a temporada, o grupo teatral criou um financiamento coletivo.
Conheça o Be-A-BA dessa história.
O Rei da Vela, texto original: a peça foi escrita em 1933 por Oswald de Andrade, um dos principais nomes do Modernismo brasileiro. É considerada a peça mais célebre do escritor, que só conseguiu publicá-la em 1937. Gira em torno da crise financeira de 1929. Faz uma sátira do capitalismo com seus personagens que retratam as elites rural decadente e burguesa do país, envolvidas em falcatruas, explorações de todos os tipos e falta de moralidade.
O Rei da Vela, montagem original: encenada pela primeira vez em 1967, em São Paulo, pelo
Teatro Oficina, a montagem é considerada um marco do teatro brasileiro. Narrativa não-linear, a linguagem se aproximava do movimento tropicalista. Ao abordar questões sociais e econômicas, se tornou símbolo de de resistência política.
Na direção, José Celso Martinez Corrêa, um dos fundadores do Teatro Oficina, que se tornou um dos nomes mais importantes do teatro brasileiro.
A peça conta a história de Abelardo I, que enriquece ao abrir uma fábrica de velas. Com a crise, passa a ganhar dinheiro como agiota. Na montagem original, o personagem principal foi interpretado por Renato Borghi. Zé Celso também integrou o elenco.
O Rei da Vela, o filme: adaptação da peça para o cinema feita pelo próprio Zé Celso junto com o diretor Noiton Nunes. O filme foi lançado em 1982. Sua estreia foi no Festival de Cinema de Berlin. Depois, foi premiado no Festival de Cinema de Gramado. No elenco, Renato Borghi, Henriqueta Brieba, Estér Goes, Itala Nandi, Maria Alice vergueiro e José Wilker. O filme tem duração de 160 minutos.
Ano passado, para comemorar os 50 anos da montagem, o Oficina levou aos palcos uma
versão bastante fiel à original e recolocou em cena, quase que de forma didática, como as elites brasileiras exploram a miséria e financiam a violência. Na atual temporada, o protagonista é interpretado por Marcelo Drummond. Zé Celso também sobe no palco. Aos 81 anos, ele agora vive Dona Poloca, a matriarca de uma decadente e amoral família da burguesia rural, que defende a tradição, família e a propriedade.
Para trazer a peça de São Paulo para o Rio, o grupo de teatro criou um financiamento coletivo. Inicialmente, a temporada terminaria no domingo, dia 22, mas foi prorrogada até o domingo dia 29. A peça está em cartaz na sala principal da Cidade das Artes, um teatro com 1.022 lugares.
Sinopse
No escritório de usura de Abelardo & Abelardo, o protagonista Abelardo I (Marcelo Drummond), banqueiro, agiota, o Rei da Vela, com seu domador de feras, o empregado socialista Abelardo II (Tulio Starling) subjugam clientes numa jaula - devedores, impontuais, protestados... Burguês, Abelardo faz um negócio para a compra de um brasão: casar com Heloísa de Lesbos (Sylvia Prado) que se negocia como valiosa mercadoria para manutenção da família, falida pela crise do café, no seleto grupo dos 5% da elite. Abelardo I, submisso ao capital estrangeiro do Americano (Ricardo Bittencourt), no terceiro ato leva um golpe de Abelardo II, que o sucede na manutenção da usura do capital. Ainda fazem parte do coro de protagonistas: Camila Mota, Danielle Rosa, Joana Medeiros, Cristina Mutarelli, Ricardo Bittencourt, Roderick Himeros, Tony Reis, Vera Barreto Leite e Zé Celso Martinez Corrêa.
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