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  • Sônia Apolinário

Peça de Maria Clara Machado investiga a morte do leão Mussolini

Peça pouco encenada de Maria Clara Machado, “Quem matou o leão?” estreia no sábado (27), no site do Teatro Unimed. A atração celebra os 100 anos de nascimento da autora, que dedicou sua vida ao teatro infantil, e também os 70 anos de fundação da sua escola de teatro, o Tablado, ainda em funcionamento, no Rio de Janeiro.



“Quem matou o leão?” é um thriller-comédia. O Circo Italiano de Carlo Estupore (Júlio Mello) inicia mais uma sessão, quando tudo vira de cabeça para baixo ao se constatar a morte da maior atração do dia, o leão Mussolini. O detetive Enrico Bulcone (Rodrigo Nasser) e sua assistente Canetone (Lara Prado), que estavam na plateia, sobem ao picadeiro e começam as investigações, na companhia das palhaças Soluço, Tampinha e Sapoti (respectivamente Amanda Massaro, Fernanda Jannuzzelli e Maria Silvia do Nascimento).


A direção coube a Susana Ribeiro e Sérgio Dias Maciel. Ambos são crias do Tablado; Sérgio encenou o clássico “Pluft, o fantasminha” duas vezes e Susana viu “Quem matou o leão?” e, segundo ela, essa encenação nunca saiu da sua cabeça.


Ambos sonhavam em levar o trabalho de Maria Clara Machado para São Paulo, cidade onde suas peças foram pouco vistas, ao contrário do Rio de Janeiro. Na opinião de Sérgio, “Quem matou o leão?” é uma das peças mais bem escritas da autora.


“É um texto atualíssimo, modernérrimo”, disse ele em entrevista coletiva virtual que reuniu grande parte do elenco.


Foi também de forma virtual que a peça foi “montada”, com direito às primeiras orientações para os atores sendo feitas via Zoom. O elenco é formado, na sua maioria, por artistas oriundos do circo. A trupe ensaiou, presencialmente, no palco do teatro, apenas por dois dias. A gravação foi feita ao longo de 12 horas de trabalho.



O palhaço Alexandre Malhone contou que não tem a menor intimidade com câmeras. Porém, aceitou participar dessa encenação porque seria uma peça gravada, ou seja, ele iria se preocupar em atuar e não com a câmera.


“Eu sou exagerado, eu grito. Nesse caso, houve um mescla de linguagens. Foi divertido. Bem melhor do que um longa que eu participei e que foi meio traumático para mim”, observou ele que interpreta dois personagens: o palhaço Bostoni e o veterinário Giovani Paura.


Debora Lamm, que por anos trabalhou no Tablado, também faz dois personagens: a mulher cobra e Frederica Burrone, que chega no final para resolver a história.


Marcelo Ferrari (Felipo Leonino Brabo) também tem no currículo participação em uma montagem de “Pluft, o fantasminha”. Ele disse ter ficado emocionado com o trabalho feito de forma presencial, o seu primeiro, “depois que as coisas ficaram mais flexíveis por conta da pandemia”.


Felipo é o par romântico da bailarina Violeta Dulcora, interpretada por Julieta Ribeiro. Foi a estreia da atriz no teatro:


“A Maria Clara Machado trabalha com os arquétipos, mas há liberdade para construir o personagem. A Violeta é forte. Ela foi desafiadora para mim”.


De acordo com Susana, o texto da peça foi seguido à risca. Houve, porém, uma alteração. Originalmente, Canetone era um personagem masculino que, dessa vez, coube à atriz Lara Prado.


Um detalhe: o leão chama-se Mussolini. Por que será que Maria Clara Machado deu esse nome para o animal morto?


“A Clara não dava ponto sem nó. O circo é italiano e todos os nomes têm significados. A peça foi escrita em 1976. Eu não sei porque ela deu esse nome para o leão, mas tenho minhas desconfianças”, disse Sérgio.


“Ela arrumou um jeito de matar um ditador. Acho que foi uma forma de reparação histórica”, afirmou Suzana. “Clara fala com humor de desejos complexos. Ela não ensina odiar; ela ensina a aproximar porque desloca arquétipos. O circo dos anos 50 tinham animais. Ela juntou essa referência com o momento em que o Brasil estava vivendo. Ela não é boba, não”.


“Com Mussolini morto, ela mostra a fragilidade do leão fascista”, observa Marcelo.


Nessa versão online, a peça foi dividida em quatro episódios, que estreiam aos sábados e domingos, sempre às 16h. O espetáculo completo poderá ser visto até o dia 16 de janeiro de 2022.


Episódio I (27/11) - Respeitável Público! O grande Circo Italiano vai começar com suas maravilhosas atrações: a extraordinária Mulher Barbada (Laíza Dantas), o halterofilista (Hércules Soares), a mulher serpente (Mariá Guedes), o incrível domador (Marcelo Ferrari), a linda bailarina (Julieta Ribeiro) e o trio de palhaças mais engraçado do Brasil. De repente, tudo vira de cabeça para baixo quando o inesperado acontece. Agora, o detetive Enrico Bulcone e sua assistente Canetone precisarão da sua ajuda para desvendar esse mistério!


Episódio II (28/11) - Quem matou o leão? Essa é a pergunta que todos do circo se fazem. O picadeiro se transforma no palco dos interrogatórios. Todos são suspeitos! Enquanto isso, as palhaças Sapoti, Soluço e Tampinha armam e desarmam confusões e uma história de amor é ameaçada com a chegada de uma carta.

Episódio III (04/12) - Filipo Brabo, domador do querido leão, torna-se um grande suspeito e seu romance com Violeta Dulcora está por um fio. Carlo Estupore, dono do circo e sua esposa Maria Draculina sussurram no camarim. Coisas muito estranhas estão acontecendo. Felipo traça um plano com a ajuda das palhaças. Quando tudo parece perdido, chega uma visita surpreendente, mudando o rumo dos acontecimentos.

Episódio IV (05/12) - Felipo Brabo revela fatos que ninguém sabia e Dr. Paura, o veterinário (Alexandre Malhone), revela informações importantes. O mistério é desvendado e o picadeiro vira festa e alegria! Viva o circo!

“Quem Matou o Leão?” fecha a programação 2021 do Teatro Unimed, como parte do projeto Teatro Unimed Em Casa, que estreou no ano passado. Com o espetáculo, o público será convidado a apoiar a organização humanitária I Know My Rights , que atua em parceria com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, em defesa dos direitos das crianças refugiadas no Brasil, por meio de programas de desenvolvimento em arte-educação, saúde e integração social. O Teatro Unimed volta às atividades presenciais no dia 25 de janeiro de 2022.



Maria Clara Machado


Maria Clara Machado é a grande idealizadora d’O Tablado, à frente do qual esteve por cinco décadas. Professora, diretora, atriz e dramaturga, escreveu e encenou dezenas de peças infantis de sucesso, deixando um legado precioso para as artes cênicas do país. Para ela, nascida em Belo Horizonte, em 1921, a família era a base para a realização de seus sonhos. Uma nova família foi formada quando, em 1951, fundou com alguns amigos o Grupo de Teatro Amador O Tablado. Seu reconhecimento nacional e internacional veio como dramaturga infantil.


Crianças do mundo inteiro conhecem o fantasminha Pluft, aquele que tinha medo de gente, e a bruxinha Angela, aquela que era boa. Entre dezenas de peças de sua autoria, destacam-se também “O Cavalinho Azul”, “A Menina e o Vento”, “O Rapto das Cebolinhas”, “Tribobó City”, entre outras. Sua última peça, escrita em parceria com sua sobrinha, Cacá Mourthé, foi “Jonas e a Baleia”, na qual reconta o episódio bíblico.


Considerado Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro, O Tablado se firmou, sobretudo, como uma escola de teatro, berço de inúmeros e imensos talentos, como Hamilton Vaz Pereira, Louise Cardoso, Malu Mader, Mauricio Mattar, Marcelo Serrado, Marcello Novaes, Drica Moraes, Claudia Abreu, Enrique Diaz, entre muitos outros.

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