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  • Sônia Apolinário

Conheça a atual melhor fazenda de lúpulos do Brasil, a Brava Terra

A Copa Brasileira de Lúpulo, realizada em fevereiro passado, elegeu como melhor fazenda a Brava Terra. Localizada em Fartura, no interior de São Paulo, a produção também levou todas as medalhas no quesito “lúpulos experimentais”. Antes da premiação, a Masterpiece já tinha acertado o fornecimento de lúpulos da fazenda para a cervejaria de Niterói (RJ). Em breve,

chega no mercado, uma Hop Lager da marca com lúpulos frescos nacionais.


À frente da produção da Brava Terra está o médico cirurgião Daniel Pedroso Palma. Até plantar umas mudinhas de lúpulo em um vaso, na sua casa, em 2016, ele nunca tinha imaginado que se tornaria produtor rural. Foi uma reportagem feita com o pioneiro Rodrigo Veraldi, principal responsável pelas pesquisas com o lúpulo Mantiqueira, a variedade aceita como a única brasileira, que aguçou sua curiosidade para a planta que diziam ser impossível cultivar no Brasil.


Sair do vaso para o solo foi facilitado pelo fato da família, moradora de Sorocaba (SP), já ter uma fazenda. Distante 250 Km, a Barra Grande, com uma área de 600 hectares, até então, só tinha como atividade a criação de gado de corte pelo pai de Daniel.


Em 2017, 1 mil metros quadrados da fazenda foi destinado para a plantação das primeiras mudas. Agora, até 2025, serão 106 mil metros quadrados para a produção de lúpulo - pouco mais de 1% da área total da fazenda. No momento, a Brava Terra rende duas safras, por ano, de cerca de 500 quilos da planta, por safra. A atividade já consumiu R$ 1,1 milhão em investimentos.


“Quando comecei, todos diziam que eu era louco. Falavam para eu comprar cerveja ao invés de plantar cerveja”, conta Daniel.


Ele lembra que, naquela época, não havia controle de origem dos lúpulos. Assim, ninguém tinha a garantia que estava plantando, de fato, a variedade adquirida. Daniel conta que, ao mesmo tempo em que começou a estudar a planta, contratou um agrônomo para lhe orientar.


Em 2018, ele mais que dobrou a aposta e ampliou a produção para mais 5 mil metros quadrados de área. Daniel conta que, naquele momento, as safras já estavam sendo colhidas, mas a qualidade do lúpulo ainda deixava a desejar.


Segundo ele, iluminar a plantação com lâmpadas de led foi um “divisor de águas” da produção. A luz artificial “engana” a planta e aumenta sua produtividade. O segundo divisor de águas foi quando passou a beneficiar o lúpulo:



“Inicialmente, vendíamos a flor de lúpulo seca, mas, dessa forma, a planta não tem aceitação por parte do cervejeiro. Só com a peletização a comercialização deslanchou. Nossa última safra foi vendida em um mês e meio”.


Atualmente, ele produz quatro variedades de lúpulos: Comet e os ainda experimentais (e premiados) Zeus, Sorachi Ace e Magnun. Este ano, começou a plantar Saaz e faz os primeiros testes como Cascade, Pacific Gem e Amarillo.


Conseguir beneficiar o lúpulo foi uma saga à parte. Não havia maquinário no país e importar era uma ação para mais de milhão de dólares. A carência do mercado nacional, porém, se tornou uma oportunidade de negócio e máquinas foram desenvolvidas pela Forte Lúpulo, de Curitiba (PR). Mais baratas que as importadas, mas ainda assim, caras. Alguns protótipos foram, inclusive, financiados pela Brava Terra. Foi há dois anos que chegou a primeira peletizadora, na fazenda que, agora, tem uma grande unidade de beneficiamento.


“Nem todos os produtores terão condições de ter esses equipamentos, principalmente os menores que atuam em esquema de agricultura familiar. Estou pensando se começo a comprar toda a produção deles para beneficiar ou passo a beneficiar para eles”, comenta Daniel.


Até o momento, 20 cervejarias já usaram o lúpulo Brava Terra. A fazenda vende com regularidade tanto para cervejeiros quanto para brew shops. O lúpulo nacional ainda é mais caro do que o importando. Porém, segundo Daniel, tem atraído cada vez mais o interesse dos cervejeiros que podem utilizar plantas frescas – os importados que chegam geralmente são de safra de dois anos antes.


Cirurgião com especialização em aparelho digestivo, Daniel atualmente dedica três dias da semana para atuar como médico. Em outros dois, é produtor de lúpulo. Ele, porém, acredita que, em breve, essa divisão pode se inverter.


A parceria com a Masterpiece “atiçou” o lado sustentável da própria fazenda que mantém um programa de reflorestamento nas suas nascentes, usa defensivos biológicos e esterco do gado para “alimentar” o solo.


Ouro verde


Atualmente, existem cerca de 50 hectares de áreas cultivadas com lúpulo, no Brasil (a fazenda Brava Terra tem 600 hectares de área total). Os principais produtores estão em São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. No momento, a Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (Aprolupulo), com sede em Lages (SC), conta com 180 associados. Estima-se que, no total, o país tenha cerca de 300 produtores.


Apesar do sucesso das plantações de lúpulo, a quantidade produzida no país está longe de conseguir abastecer o mercado interno - mal chega a 1% da demanda. Em 2021, o Brasil importou 1.700 toneladas de lúpulo.


“Muita gente entra nesse negócio achando que é simples, que é barato produzir lúpulo e acaba tendo um choque de realidade depois. É uma cultura que exige muito trabalho, tecnologia e investimento. O lúpulo não é ouro verde. É preciso ter pé no chão e cautela na hora de iniciar uma produção”, afirma Duan Ceola que vem se firmando como uma das principais autoridades no assunto, no país.


Professor da Escola Superior de Cerveja e Malte, licenciado em Química pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), pesquisador e mestrando em Química Analítica na UDESC com projetos de pesquisa relacionados aos lúpulos nacionais, ele foi o organizador e coordenador da Copa Brasileira de Lúpulo que fez parte da programação do 2 º Festival Nacional da Colheita do Lúpulo.


Segundo ele, o lúpulo brasileiro apresenta robustez elevada em níveis de alfa ácido, a fonte de amargor da planta. No momento, Comet (cítrico, resinoso, maracujá, manga) e Cascade (frutas vermelhas, pitanga, amora, acerola) são as variedades que estão se destacando no país.


“O cultivador foca na variedade que se mostra mais resistente nas suas terras”, explica Duan.


Ele informa que o alto valor agregado do lúpulo é o que tem motivado produtores a investir na planta. E muitos estão trocando a produção de fumo e batata pela do lúpulo. De acordo com ele, 80% das características sensoriais do lúpulo são da própria planta. O restante vem do local onde é cultivado.


“O lúpulo brasileiro atende a demanda de amargor e aroma exigido pelo mercado e já vem despertando a atenção dos argentinos e norte-americanos. Apresenta um diferencial na qualidade, mas o preço ainda não é competitivo. A Copa mostrou essa qualidade, mas ainda precisamos melhorar a certificação para se ter certeza do cultivar que está sendo plantado, além da profissionalização do mercado”, observa Duan.






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