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Sônia Apolinário

Bem-vindo ao Caminho Brasileiro de Santiago de Compostela

Um trecho de 21 quilômetros, entre as praias de Canasvieiras e Ingleses, em Florianópolis (SC)

é, oficialmente, o primeiro Caminho de Santiago fora da Europa. A inauguração foi no último dia 29 de junho. Essa história começa em dezembro do ano passado, quando a Catedral de Santiago decidiu rever suas regras. Naquela época, anunciou que iria passar a conferir a Compostela (o certificado de conclusão do Caminho) a quem percorrer os 80 Km entre as cidades de La Coruña e Santiago e fizesse o restante do percurso até completar 100 KM em seu país de origem.

Aqui cabem algumas explicações. O caminho a partir de La Coruña é o menor percurso dentre os vários existentes para chegar a Compostela, na Europa. Na Idade Média, a jornada começava, literalmente, na porta da casa de cada peregrino e é essa “tradição” que as novas regras querem resgatar. Os 100 km é uma convenção, adotada quando as rotas foram oficializadas, a partir dos anos 1980. É exigido para quem faz o caminho a pé. Para quem faz de bicicleta são 200 Km.

O Brasil entrou na rota graças à iniciativa do casal Fábio Tucci Farah e Mariana de Assis Viana Mansur. Peregrinos de longa data, ele integra uma confraria junto à Catedral de Compostela, além de ser especialista em relíquias da Arquidiocese de São Paulo, cidade onde mora. Para reconhecer o caminho, a Catedral exige um percurso mínimo de 20 Km, que passe por quatro igrejas. Ele soube da informação e ela se lembrou de Florianópolis.

Nesse momento, entra em cena a Associação Catarinense dos Amigos do Caminho de Santiago de Compostela, que acabou se tornando a “guardiã” do Caminho Brasileiro. Há 11 anos, a associação realiza, em novembro, uma caminhada em volta da ilha de Florianópolis. O percurso tem 189 Km e passa por várias igrejas. Há quatro anos, Mariana fez essa caminhada.

“Além de ter as igrejas, muito da caminhada é na beira da praia, cenário parecido com La Coruña que é uma cidade portuária”, conta João Élcio Trierveiler, presidente da ACACSC, instituição que existe há 18 anos e conta com 300 associados.

Além de praia, a Caminhada Brasileira conta com dois trechos de travessia de morro, dentro da mata. Por isso, segundo Élcio, o grau de dificuldade da caminhada é “mais ou menos” como na Espanha e, sim, botas e cajados são importantes justamente por conta desses trechos na mata.

“O Caminho Brasileiro exige sete horas de caminhada. É claro que quem o fizer não sentirá as mesmas coisas de quem faz o europeu. Aqui, você coloca na mochila água, um lanche, repelente e vai. Lá, você coloca sua vida nas costas por 30 dias. E cada dia é uma superação diária”, afirma ele que tem 62 anos e percorreu o Caminho na Europa por duas vezes - sendo que a última, em 2013, foram 1.600 Km em 50 dias, o dobro da distância de quando foi pela primeira vez, em 2005.

Coube à Associação sinalizar todo o percurso. Agora, mensalmente, se revezarão para garantir a manutenção das placas. A instituição também se encarrega de fornecer a credencial do peregrino, que deve receber o carimbo de cada uma das quatro igrejas do trajeto. O documento, porém, está em falta. Élcio conta que a Catedral mandou 300 para a inauguração. Mais de 600 pessoas participaram da caminhada inaugural.

Sobre a segurança do Caminho, Élcio afirma que “Florianópolis ainda é teoricamente uma cidade tranquila”. Ele, porém, recomenda que se faça o percurso em grupo. Graças à sinalização, não é necessário contratação de guias. A rota peregrina começa na Igreja Nossa Senhora de Guadalupe, em Canasvieiras; segue pelas igrejas São Pedro (Ponta das Canas) e Nossa Senhora dos Navegantes (Ingleses) e termina no Santuário Sagrado Coração de Jesus, também na praia dos Ingleses.

“A procura está surpreendentemente alta. No verão, esperamos receber muitos argentinos, uruguaios e chilenos que costumam normalmente visitar Florianópolis nesta época do ano. O Caminho Brasileiro não é “O” Caminho, mas vai acender uma luz nas pessoas que têm uma pontinha de sonho de fazer o Caminho Europeu. Pode encorajá-las a terminar o percurso lá. Essa é uma experiência muito forte. O Caminho não conduz à uma religião, mas à espiritualidade. Provoca uma busca interior, um exame de consciência. Sentimos a presença de algo Supremo e percebemos que não somos nada. A barreira da língua, títulos e poder econômico, nada disso importa no Caminho. Somente ser fraterno e ajudar quem precisa, não interessa quem seja. Isso é forte e maravilhoso”, afirma Élcio.judar quem precisa, não interessa quem seja. Isso é forte e maravilhoso”, afirma Élcio.disso importa no Caminho. Somente ser fraterno e ajudar quem precisa, não interessa quem seja. Isso é forte e maravilhoso”, afirma Élcio.Caminho. Somente ser fraterno e ajudar quem precisa, não interessa quem seja. Isso é forte e maravilhoso”, afirma Élcio.

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