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  • Sônia Apolinário

Exposição sobre o Egito Antigo celebra os 30 anos do CCBBRJ

Esculturas, pinturas, portais de tumbas, sarcófagos, pirâmide e até uma múmia humana. Essas são algumas das 140 peças que fazem parte da exposição “Egito Antigo: do cotidiano à eternidade”, que será inaugurada no próximo sábado (12), às 9h, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro. Com essa mostra, o CCBBRJ comemora seus 30 anos de funcionamento. Todos os objetos pertencem ao Museu Egípcio de Turim (Itália). Seu diretor, Christian Greco, fará uma palestra no próprio sábado, às 15h. Tudo grátis.

A exposição é dividida em três seções: vida cotidiana, religião e eternidade. Cada uma delas é caracterizada, respectivamente, pelas cores amarela, verde e azul. Ao longo do percurso, a iluminação dos ambientes muda do brilhante, para o suave até ficar baixa.

“Há tempos existe uma grande curiosidade das pessoas em relação à cultura egípcia. Porém, existe uma ideia de que os egípcios estavam só focados na morte. Isso não é fato. O bom egípcio queria viver bem para também ter uma vida boa depois da morte. Por isso fizemos questão de começar a exposição mostrando os aspectos da vida cotidiana desse povo, caracterizada pelo politeísmo”, explica Pieter Tjabbes, responsável pela curadoria junto com Paolo Marini, este também o curador do Museu Egípcio de Turim (Museo Egizio).

Pieter Tjabbes deu uma entrevista exclusiva para o #Comunic, antes da abertura da exposição.

O Egito Antigo é como se identifica a civilização que se concentrou ao longo do curso inferior do rio Nilo (norte da África), de 4.000 a.C. a 30 a.C. Era um povo que vivia em pequenas unidades políticas (nomos) e eram governados por nomarcas. Reconhecido como berço de umas das primeiras grandes civilizações da Antiguidade, o Egito Antigo se formou a partir da unificação do Alto Egito e Baixo Egito, no reinado de Menés, o primeiro faraó (entre 3.100 a.C. e 3.000 a.C.) e se desenvolveu até 30 a.C., após a derrota de Cleópatra pelo Império Romano, na Batalha de Alexandria. Os egípcios antigos viveram quase 3 mil anos de relativa estabilidade política, prosperidade econômica e florescimento artístico.

Muitas das peças da exposição foram encontradas em escavações do século 19 e início do século 20. Toda são oriundas do Museo Egizio. Fundado em 1824 por Carlo Felice di Savoia, rei da Sardenha, o museu italiano reúne a segunda maior coleção egiptológica do mundo (depois do Museu do Cairo), com cerca de 26.500 artefatos do Egito Antigo. Seu acervo é resultado da junção das peças da Casa Savoia (adquiridas desde o século 17) às da coleção que o monarca comprara das escavações de Bernardino Drovetti, cônsul da França no Egito (1820-1829). Outra parte do acervo foi descoberta pela Missão Arqueológica Italiana (1900-1935), quando ainda era possível a divisão dos achados arqueológicos. Os 140 objetos que vieram da Itália para o Brasil fazem parte da reserva técnica do museu italiano.

Amarelo

Antes de se deparar com os primeiros objetos da exposição, o visitante será apresentado ao cotidiano da civilização do Egito Antigo por meio de vídeos e fotografias – ao longo da exposição, seis filmes estarão em exibição constante.

O amarelo da seção simboliza o Deus Sol, representado em vários artefatos. Também remete ao ouro, que acreditavam ser o material com que a pele dos deuses era feita. Nesse espaço, estão expostos adornos, artigos de higiene, pentes, frascos de cosméticos, sapatos, vestimentas (que, às vezes, deixavam os seios à mostra). Segundo Pieter Tjabbes, será possível entender alguns aspectos da civilização egípcia como trabalho, nutrição, saúde e sexualidade. Como curiosidade, a observação que tanto mulheres quanto homens usavam maquiagem, especialmente o Kohl - uma mistura preta aplicada ao redor dos olhos, que servia a um propósito protetor.

Aqui, Paolo Marini chama a atenção para a sua peça preferida: a pequena estátua de Hatshepsut (XXV Dinastia, 722-655 a.C.). Trata-se da representação da primeira faraó (mulher) da história. Ela governou o Egito por 22 anos. O que torna a peça especial, na opinião do curador, é a modelagem da silhueta, a delicadeza e perfeição nos detalhes.

Verde

Quando se chega nesta seção, será difícil não ser atraído pela temida Sekhmet, a Deusa Leoa. A peça de pedra, com 2,2 m de altura e 450 quilos, por pouco ficou de fora da exposição por conta do peso máximo que o elevador do local suporta: 470 quilos. Ela é a deusa da vingança, da guerra, mas também da cura.

Nessa etapa da exposição, o verde faz uma referência à cor da pele do deus Osíris, rei dos mortos, e à tonalidade do papiro - feito a partir da planta identificada com o rio Nilo, que crescia na água e representava uma nova vida. Aqui, a ideia é fazer o visitante se sentir como se estivesse em um templo.

A religião egípcia era politeísta, marcada por um grande número de divindades maiores e menores. Pieter Tjabbes explica que a forma mais íntima de devoção pessoal era o culto votivo, que envolvia a consagração de objetos representando as divindades. Muitos deuses assumiam a forma animal e espécies associadas a divindades específicas eram adoradas.

Nos templos, um animal associado a um deus poderia ser considerado sua encarnação e, se morresse, seria mumificado e poderia ser deixado como oferenda. Foram encontradas milhares de múmias, especialmente gatos, para a deusa Bastet; cães para o deus Anúbis; falcões para o deus Hórus; e íbis para o deus Thoth.

No Egito Antigo, uma doença era vista como uma possessão por uma entidade prejudicial que precisava ser derrotada.

Azul

Chegou o momento do visitante se transportar para o interior de uma tumba. Portais, portas falsas (para preservar a alma no lugar), tumbas e sarcófagos estão em exposição, bem como uma múmia humana.

“O egípcio antigo não temia a morte. Para ele, era uma nova etapa da vida. Por isso, levava para a tumba tudo o que achava que iria precisar para ter uma boa vida na morte. Isso incluía empregados, caso fosse convocado por algum Deus para fazer algum trabalho no além”, explica Pieter Tjabbes.

Os “empregados” dão os shabtis, pequenas estatuetas. A mumificação foi um recurso para proteger o corpo para que continuasse “saudável” após a morte. Os órgãos do morto também eram preservados e o coração, considerado a “casa da alma”, era recolocado na múmia. Na exposição, será possível observar a mumificação de um corpo de mulher (700 anos a.C.) acompanhada do seu caixão com hieróglifos e pinturas – “instruções” para a alma daquele corpo.

Interatividade

O visitante vai poder entrar em um sarcófago e “interagir” com uma múmia. Também será possível se “transformar” em Tutancámon (que se tornou um dos faraós mais famosos do Egito Antigo, desde que sua tumba foi encontrada intacta), bem como escrever seu nome em hieróglifo. Em um dos espaços, haverá uma réplica de uma escavação. Na entrada do CCBBRJ, uma pirâmide de seis metros de altura dará as boas-vindas ao público e proporcionará a primeira experiência sensorial da exposição: será possível explorar seu interior, onde truques cenográficos vão proporcionar ilusões de ótica. Inclusive a fará parecer que a peça de madeira e isopor é de pedra, com 140 metros de altura.

“Nas exposições que organizo, procuro criar espaços para selfies espetaculares fora da mostra propriamente dita. Busco, com isso, fazer com que as pessoas se concentrem nos objetos da exposição enquanto estão na visitação. Mas é claro que é permitido fazer selfies durante a exposição e posso apostar que Sekhmet fará bastante sucesso”, comenta Pieter Tjabbes.

Ele conta que, inicialmente, Paolo Marini não gostou da ideia da pirâmide interativa na entrada da exposição. Achou, segundo suas palavras, “muito Disney”. Porém, se rendeu ao cunho lúdico do projeto.

“Queremos possibilitar a um público muito grande e diverso um entendimento qualificado sobre a cultura egípcia”, afirma o curador.

Palestra

Na abertura da exposição, o diretor do Museu Egípcio de Turim, Christian Greco, fará uma palestra para contar a história da instituição e curiosidades sobre as peças que compõem seu acervo. Em 2015, uma reforma transformou o então antiquário em um dos principais museus egípcios do mundo – mais precisamente, o segundo maior.

“Para um museu, realizar pesquisas implica, em primeiro lugar, na obrigação de divulgar ao público os estudos realizados sobre o acervo. No caso de um museu arqueológico, essa comunicação significa principalmente revelar os contextos arqueológicos originais dos artefatos. A pesquisa impede que os objetos morram: investigar sua procedência, seu uso e sua história significa dar-lhes voz e promover o diálogo com pessoas que os observam a uma distância de centenas de anos”, explica Christian Greco que fará sua palestra em italiano, com tradução simultânea para o público.

Da mesma forma que a exposição, a palestra é gratuita. As senhas serão distribuídas às 14h, uma hora antes do seu início.

CCBB(RJ) 30 anos

Inaugurado em 12 de outubro de 1989, o CCBB RJ já recebeu mais de 50 milhões de visitas em 30 anos de atuação. Está instalado em um edifício histórico, projetado pelo arquiteto do Império, Francisco Joaquim Bethencourt da Silva. Foi marco da revitalização do centro histórico do Rio de Janeiro. Já foram oferecidos ao público mais de 3 mil projetos de artes visuais, cinema, teatro, dança, música e pensamento. Desde 2011, o CCBB incluiu o Brasil no ranking do jornal britânico “The Art Newspaper”, projetando o Rio entre as cidades com as mostras de arte mais visitadas do mundo. Agente fomentador da arte e da cultura brasileiras, tem como compromisso a formação de plateias. O CCBB tem filiais em São Paulo, Brasília e Belo Horizonte (MG). Essa rede de espaços culturais é gerida e mantida pelo Banco do Brasil.

Serviço

Exposição: Egito Antigo: do cotidiano à eternidade

Local: CCBB Rio de Janeiro - Rua Primeiro de Março, 66, Centro

Data: de 12 de outubro a 27 de janeiro

Horário: Quarta a Segunda, das 9h às 21 horas - O CCBBRJ não abre às terças-feiras

Grátis

Classificação: Livre

CCBB São Paulo: de 19/02/2020 a 11/05/2020

CCBB Distrito Federal: de 02/06/2020 a 30/08/2020

CCBB Belo Horizonte: de 16/09/2020 a 23/11/2020

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