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  • Sônia Apolinário

No Uruguai, Expocannabis terá palestra de farmacêutica brasileira sobre uso da planta no tratamento

A sexta edição da Expocannabis será realizada de sexta-feira (6) a domingo, em Montevidéu, capital do Uruguai. O evento promove uma troca de informações sobre os diferentes usos da cannabis, unindo comunidade científica e indústria. A farmacêutica Naielly Rodrigues da Silva é a única brasileira a fazer parte da programação de palestras. No sábado, às 17h, ela fala sobre a pesquisa que desenvolve no Brasil sobre o uso do canabidiol no tratamento da esquizofrenia.

Anvisa

O evento acontece três dias após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovar a liberação da venda em farmácias de produtos à base de cannabis, para uso medicinal, no Brasil. A regulamentação é temporária, com validade de três anos, quando será reavaliada. Porém, o cultivo de maconha, mesmo que para fins medicinais, continua proibido no país. Dessa forma, interessados em fabricar os medicamentos terão que importar o extrato da planta.

“Fiquei feliz com a decisão. Vai favorecer muita gente que já usa medicamentos à base de cannabis, após terem entrado na Justiça. A decisão abre uma possibilidade para fabricação de medicamentos com uma formulação padronizada de compostos canabinóides, uma esperança para quem necessita usar essa medicação. Porém, ainda demora até que se torne possível comprar os medicamentos em uma farmácia porque eles precisam ser registrados por meio da ANVISA primeiro para que, então, tenha início a produção e comercialização. É preciso observar que o uso recreativo continua proibido, no Brasil”, comenta Naielly, por telefone, de Montevidéu.

Graduada em Farmácia pela Universidade Estadual de Maringá (PR), ela é Mestre em Farmacologia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, onde iniciou seus estudos sobre o uso do canabidiol no tratamento da esquizofrenia. Estudos que aprofunda, agora, no Doutorado, também na USP.

Ela conta ter escolhido essa linha de pesquisa por se interessar pelo estudo dos transtornos psiquiátricos. O interesse pela esquizofrenia, ela explica, é o fato de o tratamento convencional ser “difícil”, com prescrição de drogas que causam vários efeitos colaterais como sonolência e ganho de peso.

O que ela vai contar, na sua palestra na Expocannabis, é que existem diversas evidências científicas de que o canabidiol (o segundo principal canabinóide produzido pela Cannabis sativa dos 104 que a planta produz) pode ser eficaz no tratamento da esquizofrenia, ajudando a reverter sintomas cognitivos e afetivos, diferente das drogas antipsicóticas já disponíveis. Além disso, o CBD parece ser melhor tolerado pelos pacientes, ou seja, com menos efeitos adversos, em comparação aos medicamentos utilizados, atualmente, para o tratamento da esquizofrenia. Ela também vai observar que mais estudos são necessários para verificar estes efeitos do CBD e como age no cérebro para gerar esse efeito antipsicótico.

Naielly conta que, atualmente, no Brasil, muitas mães recorrem à Justiça para produzir, em casa, óleo extraído da cannabis para administrar, principalmente, em crianças com epilepsia. Assim, a produção regular, em escala, que a nova decisão da Anvisa pode vir a permitir, promete melhorar a qualidade desses produtos porque será possível “estabelecer uma padronização farmacêutica”.

Dados da própria Anvisa dão conta de que, atualmente, no Brasil, cerca de 800 médicos já prescrevem a maconha medicinal, alcançando aproximadamente 5 mil pacientes - ainda que a liberação do medicamento ocorra, até o momento, apenas por análise caso a caso, de forma excepcional pela agência.

Segundo ela, as pesquisas relacionadas com o uso medicinal da cannabis já permitem afirmar que as combinações de canabinóides parecem ser eficazes para o tratamento de diversas doenças como por exemplo epilepsia, dor crônica, doença de Parkinson, autismo e outras que estão sendo estudadas.

A Expocannabis acontece também 12 dias após a eleição do novo presidente do Uruguai, o conservador Luis Lacalle Pou, que encerra um período de 15 anos de governo de coalizão de esquerda. Em 2013, o então presidente José Mujica aprovou a legalização do consumo de maconha no país. Em julho de 2017, começaram as vendas da erva para uso recreativo, em farmácias. Com a medida, o Uruguai se tornou o primeiro país da América Latina a distribuir a substância legalmente, por meio de rede autorizada. Ano passado, o país sediou a Cannabis Conference.

E agora?

NRS: “Agora, tudo no país está sendo colocado em discussão. Isso inclui a política de uso da cannabis. No evento, várias mesas vão discutir exatamente sobre o futuro das políticas públicas já implantadas. Nos últimos anos, estão atribuindo o aumento da violência, no país, à liberalização da maconha, mas não foram apresentados estudos que comprovem essa relação. Tudo pode ser alterado e, o que se especula, é que pode ser que seja retirada a permissão do uso recreativo da maconha e deixar somente o medicinal, mas isso ainda é especulação”

Sobre o evento, o que mais agrada Naielly é ser “completo”, ou seja, tratar a maconha em seus vários aspectos e usos e isso inclui o cânhamo, a fibra criada a partir da cannabis que movimenta mais uma indústria, a têxtil.

“O evento discute com seriedade o impacto da regularização do uso recreativo e medicinal da cannabis, focando especialmente nos aspectos sociais, econômicos, culturais e de saúde pública que envolvem a planta. Colabora na quebra do tabu relacionado à planta, comumente vista com depreciação. É um grande festival que desmistifica a cannabis”, afirma.

O evento

A Expocannabis tem como objetivos promover uma articulação de todos os que atuam no setor; desmistificar a própria cannabis e a desestigmatização de seus usuários. Evidenciar o potencial medicinal e industrial da planta também faz parte dos planos.

Seu QG será o Centro de Eventos do Laboratório Tecnológico do Uruguai (LATU). Uma das principais atrações promete ser o Expocannabis Medicinal. Será todo um setor dedicado à informação e à indústria da cannabis medicinal.

O espaço é uma ampliação do Consultório de Orientação em Cannabis Medicinal do Uruguai, implantado pelo evento em 2015. Na edição de 2018, foram realizadas mais de 170 consultas, sendo 40% dos pacientes uruguaios e o restante estrangeiros, em sua maioria brasileiros.

No Setor Medicinal também acontecerá a Cannabis Conference com uma programação de palestras, fóruns e workshops.

No jardim, plantas de cannabis, exposições informativas e stands com exposição e venda dos mais variados produtos feitos a partir da planta. Vários workshops serão oferecidos para quem quiser aprender o seu cultivo.

Ano passado, o evento recebeu um público de 12 mil pessoas, sendo 45% brasileiros. De acordo com os organizadores, a Expocannabis, este ano, cresceu 30% em quantidade de palestrantes e marcas, em relação a 2018, quando contou com 80 empresas expositoras.

Faz parte da programação a mostra “Herbarium”, da fotógrafa argentina Lelen Ruete. Durante três anos, ela acompanhou o cultivo de 15 variedades de cannabis. Suas fotos registram as plantas em diferentes estágios.

O evento também sedia o 1º Festival Internacional de Cinema Canábico. Com obras de diretores especializados com a temática da maconha, o Festival tem por objetivo a utilização do audiovisual como ferramenta de informação e reflexão sobre o uso da planta.

A 6ª edição da Expocannabis também será palco do Prêmio Daniel Vidart. A iniciativa, que conta com apoio da prefeitura de Montevidéu, tem por objetivo premiar as melhores propostas que contribuam para as diretrizes estratégicas da política pública de drogas no Uruguai.

Conheça a programação completa

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