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Sônia Apolinário

Cerveja colaborativa tem entre seus ingredientes baquetas de Fred Castro

Que cerveja artesanal tem como uma de suas características o uso de ingredientes diferentes e inusitados, todos sabemos. Mas o que me dizem de uma receita que tem baquetas entre seus ingredientes? E não são baquetas quaisquer e sim da coleção do

baterista Fred Castro, da formação original do Raimundos. Essa é a história da Drumstick Wood Aged, uma colaborativa entre as cervejarias Aqueles Caras, Surreal e Pontal.

Era uma vez a decisão das cervejarias Aqueles Caras e Surreal de produzir uma Doppelbock#2, na Pontal, marca com fábrica própria em Nova Friburgo (RJ). Christian Luiz (Aqueles Caras) conta que, como a cerveja ia ser envelhecida, estavam pesquisando as madeiras que melhor renderiam com a receita. A primeira definição a que chegaram é que seria utilizada uma barrica de amburana.

Para dar mais complexidade à cerveja, cogitaram também o uso de espirais de madeira de carvalho americano e sugar maple, dentro de alguns barris.

Christian tem um “pé” na música. Costuma tocar guitarra, já era amigo de Fred e se lembrou que sugar maple também costuma ser usada para fazer baquetas. Em uma conversa com o baterista, foi informado por ele que melhor que maple é a hickory para produção de baquetas. Sim, todas as dele eram de hickory e, sim, seria muito interessante usá-las na cerveja. Não, nenhum dos cervejeiros envolvidos no processo achou a ideia estapafúrdia. Muito pelo contrário.

“Fred explicou que a hickory tem uma durabilidade maior, produz melhores baquetas e, portanto, seu uso passaria a informação de algo de melhor qualidade. Nos testes, em termos sensoriais, percebemos que contribuiu de forma similar à amburana, trazendo um caráter torrado e defumado à cerveja”, conta Christian.

Em janeiro, o quarteto fez a brassagem da doppelbock. Uma parte da produção foi envelhecida como planejado inicialmente: na barrica de amburana, com espirais de carvalho americano e sugar maple. Outra parte, foi para outro barril com seis baquetas novas fornecidas pelo Fred, devidamente esterelizadas.

Um blend com as duas partes envelhecidas resultou na Drumstick Wood Aged. Um blend com as três partes criou a Triple Wood, que levou medalha de bronze na Copa Cervezas de America 2019, na categoria Wood-Aged.

O lançamento dos dois rótulos foi no Mondial de la Bière realizado no Rio de Janeiro, em setembro. Em um dos dias do evento, Fred passou uma tarde autografando garrafas no estande coletivo que reuniu as marcas Pontal, Surreal e Mosaico.

Fred cervejeiro

O baterista diz ter achado “genial” a ideia de produzir a cerveja com suas baquetas. Fã de produções artesanais (ele também adora cafés de pequenos produtores), deixa claro que não é um especialista em cervejas, “apenas” um bebedor – e dos bons:

“Esses malucos vieram com essa ideia e eu achei ótima. Só fiquei com medo de colocar meu

nome nessa produção e isso estragar o nome deles”, brinca. “Eles tinham pensado em usar baquetas de maple, mas não é essa que uso porque é muito frágil, é para quem faz som mais leve”.

Fred diz ser um incentivador de toda produção que “sai do usual”. Nada contra as cervejas “convencionais”. Porém, ele gosta da diversidade das artesanais porque permite “ter mais opção de escolha no mercado”.

Ele conta que um amigo alemão visitou o Brasil há cerca de 20 anos e detestou a cerveja do país. Tanto que passou sua temporada por aqui bebendo cachaça. Recentemente, ele voltou e levou um susto:

“Meu amigo ficou apaixonado pelas cervejas que encontrou agora. Ele disse que é como se fossem dois países diferentes, em termos de cerveja. Isso é muito bom”, comenta Fred. "Fazer cerveja é uma alquimia, um processo longo. Parece fácil, mas não é porque não é uma máquina que faz sozinha".

Como “bebedor”, ele afirma ter gostado da Drumstick e que ficou “lisonjeadaço” por ter sido convidado para participar do projeto.

O baterista tem se dedicado à turnê dos 25 anos do primeiro álbum dos Raimundos. No próximo dia 25, o grupo será uma das atrações da programação do Oktoberfest Rio, na Marina da Glória. No palco, duas baterias: a dele e do atual titular da banda, Caio Cunha – um cervejeiro caseiro que tem equipamento completo para brassagem, em casa.

“Coitado do Digão (líder dos Raimundos) que se apresenta com dois bebuns atrás dele”, diz Fred entre risos.

Na opinião de Christian, a experiência foi mais do que positiva:

“O resultado final de todo esse experimentalismo foi a produção de uma doppelbock de 7,5% ABV, envelhecida em Amburana e Hickory, possivelmente uma das primeiras cervejas do mundo envelhecida com baquetas de bateria. Sensorialmente, acredito que usá-las fez diferença”, comenta Christian, atualmente morando na Holanda.

Vem aí uma nova batelada? Uma Doppelbock#3, com certeza, no próximo ano. A questão, segundo Christian, é que a ideia é, fazer experiências diferentes, a cada brassagem. Porém, se decidirem repetir a #2, Fred já avisou que baquetas não vão faltar.

"Se quiserem repetir, vamos repetir", diz o baterista.

Clique na foto e confira Fred Castro em ação

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