'Tinder cervejeiro' promove encontro de produtores caseiros com apoiadores
Um “tinder cervejeiro" tem facilitado o encontro entre produções criadas por “panelinhas” e pessoas interessadas não apenas em experimentar novas cervejas, como também em apoiar produções. Em um ano, já rolaram cinco “matchs” no aplicativo Peer2Beer, um acelerador de produções caseiras que sonham em chegar ao mercado.
O “batismo” do aplicativo foi com uma Sour com hibisco, da Borachos Brew, ano passado. Uma Session IPA com lúpulo Lemondrop, da Quatro Olhos, foi a primeira cerveja “acelerada” de 2019.
Para tentar a sorte, o cervejeiro caseiro só precisa se inscrever, gratuitamente, no aplicativo. O próximo passo é cadastrar seu “projeto” e contar um pouco da história da produção que pretende fazer, com a inclusão de informações técnicas. Feito isso, é torcer para conseguir “seduzir” apoiadores.
“Os apoiadores são pessoas comuns, público em geral, apreciadores de cerveja artesanal que também se cadastraram na plataforma”, explica Vitor Cunha, idealizador e criador do “tinder cervejeiro”.
Segundo ele, em um ano, o Peer2Beer já reuniu cinco mil usuários. Desse total, dois mil são cervejeiros caseiros, os panelinhas. O aplicativo conta com uma rede de especialistas, que oscila entre 15 e 25 pessoas, a cada ciclo de aceleração. Eles ajudam na avaliação dos projetos.
Neste momento, a “paquera” corre solta, em busca da segunda cerveja a ser acelerada este ano. Quem consegue os apoiadores (máximo de dez) e obtém a melhor avaliação (as notas vão de 1 a 5) vence. Cada panelinha pode apresentar quantos “projetos” quiser.
É com o dinheiro a ser desembolsado pelo apoiador que a Peer2Beer providencia kits com garrafas e rótulos que serão enviados ao cervejeiro, que “devolve”, via correio, a bebida engarrafada para apoiadores e especialistas. A etapa seguinte é a avaliação a ser recebida pela cerveja. Nesse processo, o custo do panelinha é o de realizar a brassagem de 15 litros da sua receita. No momento, o alcance do aplicativo se restringe ao estado de São Paulo.
O vencedor tem 500 litros da sua cerveja produzida. É tarefa da Peer2Beer sair em busca da fábrica e fazer a distribuição da bebida.
“Somos um facilitador de processo para quem quer se profissionalizar. Minha ideia não era buscar inovação no produto. Os cervejeiros sabem fazer isso muito bem. Meu objetivo foi inovar no modelo de negócio. Tudo gira em torno do que o público quer e não o que as empresas querem. Já aceleramos estilos menos óbvios, o que prova que as pessoas também querem novidade”, comenta Vitor (camiseta preta, na foto) que trabalha com inovação e desenvolvimento de novos negócios.
Designer, sua relação com cerveja artesanal é de “mero” apreciador. Justamente por isso, percebeu a dificuldade que boas cervejas caseiras enfrentam para chegar ao mercado. Ao ter a ideia do aplicativo, buscou uma pessoa do ambiente cervejeiro para propor sociedade. A sommelier Dani Garrido (camiseta branca) encarou o desafio, apesar de ter achado, no início, tudo uma “maluquice”, como o próprio Vitor conta. Completa a sociedade o responsável pela parte tecnológica do negócio, Edmar Gomes.
Com escritório em Pompeia, na capital paulista, a Peer2Beer, segundo Vitor, “está crescendo mais rápido” do que imaginava e caminha para se tornar “quase que uma rede social”. Marketplace, eventos e consultorias são algumas das fontes de renda do aplicativo, neste momento.
Acelerados
Borachos Brew
Leandro Ayarroio Aissum trabalha em uma indústria metalúrgica. Desde 2014, ele faz cerveja na panela com um amigo de infância, o arquiteto Bruno di Paolo. Transformar o hobby em meio de vida era uma possibilidade aventada, de vez em quando, entre eles, que moram na capital paulista.
Em 2016, participaram pela primeira vez de um concurso nacional e faturaram o segundo lugar com uma IPA. Ano passado, quando um amigo comentou sobre a Peer2Beer, se inscreveram. A dupla foi uma das primeiras a cadastrar projeto no aplicativo.
“Ficamos apreensivos no início, mas resolvemos confiar e arriscar. Não tínhamos nada a perder. O que mais nos empolgou foi a possibilidade de ter nossa cerveja avaliada por especialistas, pessoas que não conhecemos, que não são nossos amigos”, conta Leandro.
A dupla da Borachos Brew gosta de produzir cervejas baseadas em bebidas típicas de
diferentes países. A Sour com hibisco foi inspirada em um refresco africano, o Jus de Bissap, uma das bebidas mais consumidas no Senegal. É feita com flor de hibisco, hortelã, água de flor de laranjeira, baunilha, suco de laranja e suco de limão – tudo é misturado em um copo com gelo, sendo consumida a qualquer hora do dia.
O projeto conseguiu os apoiadores em 20 dias. A cerveja recebeu somente nota cinco. Leandro conta que Vitor e Dani adaptaram a receita para a produção de 500 litros da cerveja na BR Brew, em Sertãozinho (SP). Também aprimoraram o rótulo da marca.
“Depois da cerveja pronta, não fizemos mais nada. Soubemos que a cerveja vendeu mais rápido do que o esperado. O dinheiro da venda não reverte para nós. Achei que foi muito positivo todo esse processo. Tivemos muita visibilidade. Eles dão o pontapé inicial. Seguir com a profissionalização da marca, só depende de nós”, comenta Leandro
Ele e o amigo estudam se irão, realmente, entrar no mercado. Já sabem que precisam ter, pelo menos, R$ 7 mil para produzir 500 litros de cerveja. Já sabem também que uma das etapas mais difíceis para uma marca é sua distribuição. Antes da decisão, farão outro teste de aceitação da Borachos Brew no aplicativo, ainda este ano.
Quatro Olhos
O analista de sistemas Everton Donizete da Silva admite que, quando conheceu o aplicativo, não achou nada vantajoso. Há quatro anos, ele faz cerveja em casa, na cidade de São Caetano do Sul. Nunca se interessou em participar de concursos.
Apreciador de cervejas artesanais há um bom tempo, arriscou a fazer suas produções depois de ver vídeos na Internet. Ano passado, porém, fez logo dois cursos seguidos: técnica de produção e sommelier, no ICB (Instituto da Cerveja Brasil).
Começou a achar o Peer2Beer interessante quando vislumbrou que poderia ter “feedbacks imparciais” da sua produção. Até então, ele tinha (e ainda tem) três amigos que atuam como fieis provadores – o nome Quatro Olhos vem daí, da “atenção” dos quatro amigos na hora da degustação.
Everton optou por inscrever uma Session IPA por ser um estilo que já tinha brassado várias vezes. A novidade na receita apresentada foi o uso do lúpulo Lemondrop para obter para sua cerveja um aroma cítrico e notas de menta e limão siciliano.
“Logo que me inscrevi, fiz campanha entre meus amigos para eles me apoiarem. Dois toparam, mas me surpreendi quando pessoas que eu não conhecia também quiseram apoiar. Há tempos, tenho planos para entrar no mercado, mas para colocar a cerveja apenas na minha região”, conta Everton que, depois ter uma receita acelerada, ficou ainda mais empolgado com a ideia de se profissionalizar.
Na sua opinião, lançar uma marca “ainda é um pouco caro” e produzir a cerveja é apenas um ponto do processo. Questões como logística, armazenamento, tributação e vendas é que o fazem “estudar mais” o assunto. Dessa vez, a Peer2Beer fez tudo para ele.
No começo do próximo ano, ele vai apresentar outro projeto, no aplicativo, para testar a aceitação da sua marca. O que Everton já decidiu é que, se for mesmo entrar no mercado, seu foco será produzir “cervejas de entrada” para o universo das artesanais.
“Escuto muito as pessoas dizendo que não gostam de cerveja artesanal porque são muito amargas ou fortes. Minha esposa, mesmo, adora cerveja, mas não bebe artesanal. Tenho criado receitas tendo em mente que preciso agradar o paladar dela e tenho conseguido. Sei que tem muita coisa nova surgindo no mercado, a todo momento, mas acredito que esse segmento ainda tem muito para crescer”, comenta Everton que admite ficar muito satisfeito cada vez que Gabriela aprova uma produção sua.
Australian Sparklin Ale: 2 ciclo de 2018
Outros acelerados:
Volavicius (English Pale Ale)
Easy Mode (American IPA)
Conheça o aplicativo
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