- Sônia Apolinário
Oito anos depois, 'massacre de Realengo' é tema de livro de ficção
Há oito anos, no dia 7 de abril, um rapaz invadiu uma escola no Rio de Janeiro armado com dois revólveres. Matou 12 estudantes com idades entre 13 e 16 anos e deixou outros 13 feridos. O assassino se matou. O crime causou comoção no país e teve ampla repercussão em noticiários também internacionais. A então presidente do Brasil, Dilma Rousseff, decretou luto nacional de três dias em respeito às mortes. Esse caso, que ficou conhecido como Massacre de Realengo, é o ponto de partida real do romance de ficção “O Pior dia de todos” (editora Tordesilhas), que Daniela Kopsch lança no próximo dia 16, na livraria da Travessa, em Botafogo (RJ).
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Jornalista, ela participou da cobertura do massacre. Amanhã (domingo, 7, dia do "aniversário" da tragédia) volta à escola Tasso da Silveira onde será realizada uma homenagem às vítimas, organizada pela Associação dos Amigos e Familiares dos Anjos de Realengo. A partir das 9h, Daniela ministrará uma oficina de escrita criativa para os jovens que terão a oportunidade de participar, também, de outras atividade ao longo da manhã.
“Precisei me afastar de tudo para mostrar o que eu vi”, comenta a escritora.
Catarinense moradora do Rio de Janeiro, Daniela estava em estado de choque com a notícia da invasão da escola quando foi acionada pela revista Capricho para escrever sobre o assunto. Por conta do perfil do veículo para o qual produziria a reportagem, focou sua atenção nas adolescentes que estavam em sala de aula quando tudo aconteceu.
Ex-estudante de colégio público, ela conta que foi inevitável se lembrar da sua própria infância e adolescência. Sua reportagem já enfocava aspectos relacionados com o crescimento de meninas, uma questão, agora, aprofundada no livro. A história gira em torno de duas primas que crescem juntas.
De acordo com a autora, as personagens não são inspiradas em nenhuma das estudantes da escola Tasso da Silveira. Ela conta que, somente no capítulo que aborda o massacre, usou depoimentos reais também utilizados na sua reportagem.
“Desde que cobri o evento, as meninas não saíam da minha cabeça. A escola é onde a gente cresce; onde surgem os primeiros sonhos e decepções. A idade de 14, 15 anos é um momento muito importante nas nossas vidas, principalmente, das meninas. Todas as violências com as quais nos deparamos como mulher aparecem sutilmente, ao longo da nossa infância e adolescência. É uma experiência, não é algo que surge de repente. Queria falar sobre isso”, explica Daniela.
Essa ideia, que já perpassava na reportagem, fez com que a jornalista tivesse a ideia de escrever um livro sobre o assunto, desde aquela época. Porém, a experiência da cobertura do massacre foi “dura”. Era preciso dar um tempo para que os sentimentos envolvidos no trabalho baixassem a poeira. Houve, porém, uma “urgência” que fez com que Daniela percebesse que havia chegado a hora de falar sobre o assunto: a história estava caindo no esquecimento.
“O Brasil tem esse problema terrível de não lidar com sua memória. Naquela época, o massacre foi, digamos, uma novidade. Agora está acontecendo com alguma frequência. Nossa obrigação é refletir sobre isso. Escrever uma reportagem foi relevante, mas um livro tem mais durabilidade. O grande medo, naquela época, era que algo parecido voltasse a acontecer, e voltou.”, afirma a autora.
Na sua opinião, o momento atual pelo qual passa o país é propício para outras ocorrências do tipo, por conta do “culto à violência e às armas”. No livro, ela também quis “documentar o sentimento” da época em que o massacre aconteceu. 2011, segundo ela, foi um período “otimista”:
“Naquela época, tudo parecia possível. As meninas, no colégio, eram muito estudiosas. Elas sonhavam em abraçar as mais diversas profissões. Muitas me disseram que queriam ser médicas. Não é o mesmo sentimento que vivemos atualmente”.
Serviço
crédito: Géssica Hage
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Lançamento: O Pior dia de todos, de Daniela Kopsch
Local: Livraria da Travessa - Rua Voluntários da Pátria 97, Botafogo, RJ
Data: 16.04 Horário: 19h
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