Cervejeiro caseiro mais premiado do Brasil é novo cigano de Fortaleza
O cervejeiro caseiro mais premiado do Brasil, ano passado, se tornou, agora, um dos mais novos ciganos do país. Rodrigo Campos pegou duas das suas receitas que mais conquistaram medalhas para usar como cartão de visitas inicial da sua Bold Brewing, com sede em Fortaleza (CE). Para começar essa nova fase da sua história cervejeira, ele lançou a Vermont Juicy, uma NE IPA; e a Psychedelic Weisse, uma Berliner Weisse com pitaya e goiaba. Cerca de um mês depois, ele também colocou no mercado a NODA Imperial Stout e a Dark Neon, uma Sour escura de frutas vermelhas - mas essas duas últimas são outra história.
A Vermont foi medalha de ouro e prata no concurso das AcervAs. A Psychedelic conquistou medalha de ouro tanto no nacional das AcervAs como na Copa Sul-Americana no Chile, onde também foi Best of Show.
De 2013 para cá, Rodrigo produziu 160 cervejas de, pelo menos, 60 estilos diferentes. E ele se denomina um autodidata. Foi naquele ano que o dentista e funcionário público, em Fortaleza, decidiu “assumir” seu hobby de produzir cerveja, iniciado timidamente, dois anos antes. Até então, ele se contentava em escrever sobre a bebida, em um blog que criou. Isso tudo porque, em 2007, por conta de uma viagem a São Paulo, teve a oportunidade de provar várias cervejas diferentes do que estava acostumado.
“Um amigo foi ao Rio fazer um curso da Confraria do Marquês, pioneiro no Brasil a ensinar a fabricar cerveja. Na volta, ele me chamou para fazermos cerveja juntos. Eu topei. Não tenho formação de sommelier, mas o foco do meu blog era degustação. Também fui um dos primeiros a falar sobre turismo cervejeiro”, comenta ele que, atualmente, é professor do Senac Ceará e Science of Beer de Fortaleza.
O "paraquevocerveja.blogspot.com" foi um dos primeiros blogs sobre cerveja artesanal do país. Ainda está no ar, mas deixou de ser atualizado em 2013, “quando o volume de trabalho apertou”.
A primeira medalha conquista por Rodrigo foi em 2015 - um bronze que sua Munich Helles levou no Concurso Nacional de Cervejeiros Caseiros. A Vermont Juicy IPA foi seu primeiro ouro (2016, Concurso de Cervejeiros Caseiros Norte, Nordeste e Centro-Oeste). No ano seguinte, o primeiro ouro que sua Psychedelic Weisse levou foi mais uma vez no Concurso Nacional de Cervejeiros Caseiros.
Por mês, o “paneleiro” Rodrigo produz entre três a quatro cervejas. Em casa, tem sempre, no mínimo, 25 cervejas “estocadas”. Em 2014, a pedidos, ele começou a ensinar a fazer a bebida. Já formou 34 turmas.
“Fazer cerveja não é difícil, é trabalhoso. Para fazer cerveja boa é preciso atenção e conhecimento”, afirma ele que, em 2014 fundou a ACervA Cearense (Associação dos Cervejeiros Artesanais do Estado do Ceará).
Quando a instituição começou, tinha sete associados. Atualmente, são 150. Na opinião de Rodrigo, há um grande interesse do público, em Fortaleza, pela cerveja artesanal. Ele acredita que, por lá, existe possibilidade de crescimento desse mercado. O fator, que segundo Rodrigo, atrapalha o setor é o preço do produto.
“Se não houver mudanças na tributação não existe possibilidade de diminuir o preço da cerveja. Só o ICMS leva 30%. Em relação aos insumos, o acesso, para nós, não é difícil, mas é mais caro do que em outros lugares do país por conta de frete e imposto”, afirma.
Rodrigo foi para São Paulo para produzir suas cervejas. Mais especificamente, seguiu rumo à
Dádida, em Várzea Paulista. É a partir de lá que distribui a bebida para o restante do país. A pitaya usada na fabricação da Psychedelic foi de avião de Fortaleza para São Paulo. Sim, sua cerveja é cara. Sim, sua cerveja não é de “entrada”.
Justamente por conta dessas características dos seus rótulos, ele optou por batizar sua cigana com um nome em inglês. Escolheu “bold” por significar ousado, destemido.
“Quero fazer uma cerveja que traga uma experiência ousada para o público. Fazer uma bebida com teor alcoólico mais alto ou colocar muito lúpulo não deixa o produto melhor. Ousar, para mim, é fazer receitas diferentes. Eu sei o público que quero atingir. E esse público está mais acostumado com a linguagem que busquei para a cervejaria. Não se trata de preconceito, mas de se comunicar melhor com o público que se quer atingir”, explica.
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