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  • Sônia Apolinário

Em livro, jornalista brasileiro conta a história do maior delator da Cosa Nostra italiana

No momento em que o Brasil começa a conhecer as entranhas do poder graças a uma série de delações premiadas, um livro recentemente lançado mostra como uma delação foi capaz de abalar as estruturas de uma das instituições mais poderosa do mundo: a máfia italiana. Engana-se, porém, quem pensa que o assunto só diz respeito à Itália.

Em “Cosa Nostra no Brasil: A História do Mafioso que Derrubou um Império”, o jornalista brasileiro Leandro Demori foca na biografia de Tommaso Buscetta (1928-2000), grande delator da Cosa Nostra, que acabou por condenar centenas de mafiosos à prisão. Ele foi também um dos responsáveis por incluir o Brasil na rota internacional do crime. Foi preso duas vezes em território nacional e torturado pela ditadura militar.

Demori, de 35 anos, natural de Santa Catarina, formado em jornalismo pela PUC-RS, morou por três anos na Itália, onde “conheceu” seu personagem. Já a apuração para escrever o livro lhe ocupou durante cinco anos. "O que me motivou a investigar a vida de Tommaso Buscetta foi o fato de ele ser o maior delator da Cosa Nostra até agora, ter vivido no Brasil e nunca ter tido uma biografia à altura de sua vida”, contou Demori .

Ele disse que tanto a Itália quanto os italianos em geral o ajudaram no seu trabalho de investigação sobre Tommaso Buscetta, “sobretudo jornalistas e o Centro Internazionale di Documentazione sulla Mafia e del Movimento anti Mafia da cidade de Corleone”. O mesmo vale para o Brasil quando, em 2013, teve acesso a arquivos da ditadura militar, até então inéditos. “Os arquivos brasileiros mostraram que Tommaso era, sim, parte de um grupo de tráfico internacional de drogas, ao contrário do que ele sempre declarou”, afirmou Demori.

SA: O Brasil vive paralisado por conta de delações, principalmente, as feitas pela cúpula da construtora Odebrecht. É possível traçar algum paralelo entre essas duas delações?

LD: Em certa medida sim. Tanto Tommaso quanto os delatores da Odebrecht são a chave para um mundo que se conhecia de ouvir falar. A partir do momento em que eles começam a dar detalhes do funcionamento, as pessoas conhecem a real podridão por trás.

Apesar do estrago feito por Tommaso Buscetta na Cosa Nostra, ninguém deve se enganar. Segundo Demori, a máfia italiana não está morta, mas bem viva e atuante, inclusive no Brasil. Ele lembrou que, frequentemente, mafiosos são presos aqui no país. O último caso foi o de Pasquale Scotti, preso em Recife (PE).

“A máfia atua, em geral, na economia informal, que se mistura com a formal em uma espécie de economia cinza. Por isso, fica impossível de separar legalidade de ilegalidade”, explicou o jornalista que, recentemente, obteve a segunda colocação na Categoria Especial do 33º Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, promovido pela OAB/RS, em parceria com o Movimento de Justiça e Direitos Humanos; a Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio Grande do Sul (ARFOC/RS); e a Regional Latino-americana da União Internacional dos Trabalhadores na Alimentação (UITA).

O trabalho que lhe rendeu a premiação foi a reportagem "Bem-vindo ao inferno do presídio Central", feita por um grupo de jornalistas chamado Bang, que publica no idioma inglês na plataforma Medium e financiada por um fundo do jornal inglês The Guardian. Em português, a reportagem foi publicada pelo jornal digital Risca Faca.

“A reportagem premiada é de long form. A Bang só trabalha com esse formato: meses de apuração para contar histórias que se mostram mais complexas do que as notícias publicadas no dia-a –dia”, explicou Demori. “Para mim, esse prêmio representa um incentivo. Mostra que os prêmios sérios de jornalismo estão olhando para os trabalhos independentes. No Brasil, ainda se premia muito o trabalho feito em redações tradicionais”.

SA: Com avalia o atual momento do jornalismo brasileiro?

LD: Por um lado, de uma pobreza de espírito atroz, caindo na briga, na lama das redes sociais, se colocando como agente espalhador de boatos e jornalismo mal feito. Por outro, em um momento de iniciativas interessantes e que mostram que temos grandes profissionais.

Para 2017, o plano de Demori não poderia ser outro: produzir mais reportagens. Pista: ele não usou todas as informações a que teve acesso quando vasculhou documentos da época da ditadura militar! Com 274 páginas, “Cosa Nostra no Brasil: A História do Mafioso que Derrubou um Império” foi lançado em novembro de 2016 pela editora @Companhia das Letras.

Outras dicas de leitura de Leandro Demori:

- Os Sertões, de Euclides da Cunha

- Gomorra, de Roberto Saviano

- Honra Teu Pai (publicado originalmente no Brasil como "Honrados mafiosos"), de Gay Talese

Links:

Saiba mais sobre Leandro Demori

Tommaso Buscetta, verbete

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