100 Dias em Lisboa é um guia em forma de crônica para turistas e quem sonha em morar na Terrinha
Depois de Portugal, chegou a vez do lançamento brasileiro de “100 Dias em Lisboa” (Ímã Editorial), da jornalista e escritora Tania Carvalho. Será na quarta-feira (4), a partir das 18h30, na livraria Blooks, em Botafogo (RJ). Trata-se de um guia escrito em forma de crônicas entre bem-humoradas e nostálgicas, voltado não apenas para turistas, mas também para moradores - ou a aspirantes a moradores.
Em 2013, a autora lançou “100 Dias em Paris”. Daquela vez, ela partiu para a França com o objetivo de criar um blog sobre uma cidade que conhece bem. Agora, o livro é fruto de uma certa união de fome com vontade de comer.
A “fome” veio com a notícia de que a filha acompanharia o marido em temporada de estudos, em Portugal. A “vontade de comer” veio da editora que lhe deu o empurrãozinho que faltava para ela passar uma temporada com a família na “Terrinha”.
“Quando soube da viagem da minha filha, a primeira coisa que pensei é que não ficaria meses sem ver meu neto de três anos. Sem hipótese para isso. Eu só tinha ido a Portugal uma vez, na década de 70 do século passado. Minha lembrança era de uma cidade carrancuda, triste e velha. O país era apenas uma porta de entrada para a Europa e, muitas vezes, nem parecia que fazia parte da Europa. Quanta diferença”, comenta Tania, que tem mais de 20 livros publicados.
Ela conta ter se deparado com uma Lisboa cosmopolita, repleta de imigrantes e turistas. Na sua opinião, “a cidade está feliz”. E ela acredita que essa felicidade é fruto de anos de um governo de coalizão de esquerda que passou a oferecer saúde pública e educação para a população, além de um eficiente sistema de transportes. Em resumo, tudo “funciona” por lá.
Foi batendo perna, sem grandes planejamentos, mas com muita curiosidade para conhecer ruazinhas e praças que os roteiros foram sendo traçados. Por falar em praças, Tania conta que elas estão por todos os lados, repleta de brinquedos criativos para as crianças – sim, ela levou o neto a várias praças. E, não por acaso, o livro tem muitas dicas de programação para se fazer com crianças.
Outra coisa que chamou a atenção da autora foi a quantidade de museus: 65. Tem para todos os gostos, de arte contemporânea a fado, passando por marionetes e arquitetura e tecnologia.
“Lisboa sempre parece familiar para o brasileiro. Alguns cantos da cidade lembram Salvador, na Bahia. Somos familiarizados com a comida e, claro, com a língua. A única coisa que quase nos enlouquece, por lá, é que eles adoram explicar tudo. Tudo é ao pé da letra, exatamente como é falado ou foi escrito. Nós não estamos acostumados com isso e se você chegar em um restaurante e falar ‘me vê um copo de água’, isso não fará o menor sentido para eles”, conta Tania, entre risos.
Segundo a autora, a comida, em Lisboa, e Portugal como um todo, continua barata. Já os aluguéis, nem tanto, por conta do grande número de turistas. Tem muita gente deixando suas residências, em lugares, mais centrais para alugar e se mudando para endereços mais distantes. A “sorte” é que nada é assim tão distante em Lisboa.
Dessa forma, a primeira dica de Tania é evitar se hospedar no badalado bairro do Chiado, “onde todo mundo vai fazer compras”, e ficar, por exemplo, em Arroios (na foto, à direita), onde ainda moram muitos lisboetas. O bairro, aliás, liderou uma recente lista dos 50 que mais agradam aos editores da badalada revista inglesa “Time Out”.
Outra observação feita pela autora é a lembrança de que a cidade tem uma geografia peculiar – fica em meio a sete colinas. Ou seja, são ladeiras e mais ladeiras, como no Bairro Alto (na foto, à esquerda). Portanto, a escolha do calçado correto para “bater perna” é fundamental.
O top 5 de Tania, em termos de programação, começa com a observação do céu, “o mais lindo do mundo, muito azul”. Em quarto lugar, sentar-se à beira do Tejo e simplesmente observar o rio que deságua no oceano Atlântico. “Não tem como não se sentir nostálgico pensando nos grandes navegadores que se lançaram no mar e fizeram história”, comenta.
Em terceiro lugar, uma visita ao moderno Centro Cultural Belém. Em segundo, um passeio pela popular Feira da Ladra, de objetos usados, que existe desde o século 13, e acontece aos sábados. Fica no bairro da Sé, nos arredores do bairro da Graça, que, por sinal, é o top 1 da lista de Tania. “É como se fosse uma Santa Teresa, no Rio de Janeiro, com dois mirantes lindos. É onde fica também um dos meus restaurantes preferidos, O Pitéu. Adoro a Pataniscas de Bacalhau com arroz de feijão. O arroz, em Portugal, é diferente do nosso. Tem sempre um molho, que lembra um caldo”.
“Lisboa é como uma gostosa casa de avô, mas também a casa descolada de um primo. É acolhedora. O que eu registro no livro são minhas impressões pessoais sobre a cidade. No final, me dei conta de que, com esse livro e também o de Paris, eu estou escrevendo minha biografia. É minha história sendo contada com humor e um pouco de nostalgia também”, afirma Tania.
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