Partido da Cerveja tem chances de eleger representantes no parlamento da Áustria
Um auxílio batizado de Bolsa-Cerveja; abolição de impostos sobre a bebida e a construção de uma fonte de cerveja pública. Esses foram alguns pontos do programa de governo do Partida da Cerveja que, em 2022, foi o terceiro mais votado nas eleições presidenciais da Áustria. A fonte em questão ficaria em Viena, capital do país europeu.
Agora em 2024, o Bier Partei está de volta à cena política austríaca, disputando espaço nas eleições parlamentares, a serem realizadas no segundo semestre. Pesquisas indicam que, até o momento, o partido tem 7% das intenções de votos. Com essa performance, pode até atrapalhar um pouco os planos do FPO, partido de extrema-direita atualmente favorito no pleito, disputado por dezenas de legendas.
Em 2022, os 8,4% dos votos recebidos pelo Partido da Cerveja não valeram de nada porque a legenda ainda não tinha obtido o registro oficial. Agora já tem.
Sátira
O Partido da Cerveja foi criado em 2015 pelo médico e cantor de punk rock Marco Pogo, nome artístico de Dominik Wlazny (foto). Na época, era apenas um projeto satírico, na verdade, uma peça promocional de uma música do disco de estreia de Wlazny. Ele dizia que o partido era de centro porque torneiras de cerveja costumam ficar no centro dos bares. O sucesso da iniciativa fez o músico, ferrenho opositor da extrema-direita, seguir em frente testando cada vez mais a popularidade do partido, no país.
Polônia
A ideia de Wlazny não foi original. Nos anos 1990, existiram Partido da Cerveja na Checoslováquia, Rússia, Ucrânia, Bielorrúsia e Polônia. Este último foi o único que, até agora, conquistou assentos no parlamento. Foi em 1991, quando o Partido Polonês dos Amigos da Cerveja (Polska Partia Przyjaciól Piwa) participou das primeiras eleições livres do país, após a queda do comunismo. Obteve 2,97% dos votos.
A legenda foi criada, inicialmente, para incrementar o roteiro de uma série cômica de TV da Polônia, “Os Escoteiros da Cerveja”. A piada foi ganhando vulto graças ao desânimo da população com os rumos políticos do país.
O partido tinha como principal “opositor” a vodca, então, a bebida mais consumida da Polônia. Para se registrar, obteve o que a lei pedia: 5 mil assinaturas de apoio. A “cara” do partido era um comediante bonachão, Janusz Rewinski. O programa de governo previa aumento de imposto para todas as bebidas que não fossem cerveja, simplificação da burocracia para se abrir uma cervejaria e defesa do meio ambiente “porque não se pode fazer cerveja de verdade sem água limpa”, como diziam os panfletos.
Uma vez no parlamento e tendo virado algo sério, os integrantes do Partido Polonês dos Amigos da Cerveja começaram a divergir sobre que rumo dar para a legenda e se dividiram. A maior parte (13) se agrupou na facção apelidada de Cerveja Grande que se alinhou aos grupos de centro-direita. Os 3 parlamentares do partido que sobraram criaram a facção que foi chamada Cerveja Pequena, mais identificada com a esquerda. Em jogo, a política econômica a ser estabelecida para a Polônia.
Esse parlamento durou menos de dois anos. Por conta da instabilidade política do país, foi dissolvido pelo então presidente, Lech Walesa, que convocou novas eleições. Já sem muita graça e bastante fragmentado, o Partido Polonês dos Amigos da Cerveja não conseguiu se eleger e logo perdeu o registro.
Rússia
Em 1990, afogando suas mágoas bebendo cerveja na mesa de um bar, o estrategista político Konstantin Kalatchev (que já tinha disputado uma cadeira do parlamento sem sucesso) teve a ideia de fundar na Rússia o Partido dos Amantes da Cerveja (Partia Liubitelei Piva), registrado oficialmente três anos depois.
O país vivia um momento conturbado. Os partidos políticos estavam desacreditados e o país vivia um período de extremo combate ao alcoolismo conduzido por Mikhail Gorbatchov.
Entre piadas que pregavam o direito de se beber cerveja e não vodca, o Partido dos Amantes da Cerveja defendia, no seu programa, liberdade política e condenava “todas as formas de autoritarismo”.
Nas eleições de 1995, o partido obteve 430 mil votos, que representavam 0,62% dos eleitores. Ou seja, seus candidatos não se elegeram.
Três anos depois, Kalatchev acabou com o partido e voltou para a “política séria” trabalhando em legendas alinhadas a Vladímir Putin, que comanda o país desde 1999 até os dias atuais - ora como primeiro-ministro, ora como presidente, seu cargo atual.
De volta à Áustria
Entre uma piada e outra (como a que prevê a implantação de uma “cervejocracia”), o Partido da Cerveja austríaco defendeu, nas eleições presidenciais de 2022, a introdução de testes de aptidão obrigatórios para políticos; a implementação de ajudas estatais para salvar o panorama cultural austríaco (então devastado pela pandemia de Covid-19); o acolhimento de refugiados ucranianos e o incentivo à participação eleitoral da população para permitir que os eleitores "restaurem a seriedade política que a Áustria merece".
Analistas políticos austríacos acreditam que o partido pode vir a conquistar alguns assentos no parlamento, este ano. Porém, de forma pequena. Assim, a tendência é vir a integrar a frente ampla de oposição ao lado do partido verde, os sociais-democratas e até do atual governo de centro-direita, como forma de diminuir a força da extrema-direita.
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Fontes:
Exame, site
"A História da Europa em 24 cervejas", livro
Russia Beyond, site
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