- Sônia Apolinário
CCBB-RJ reabre com exposição de Alphonse Mucha e suas obras ícones da Art Nouveau
Alphonse Mucha. Talvez você não conheça esse nome. Mas é muito provável que, pelo menos, reconheça alguns de seus trabalhos. Nascido na República Tcheca em 1860, foi um pioneiro da arte publicitária e suas obras se tornaram ícones da chamada Belle Époque francesa. A partir de quarta-feira (18), será possível apreciar 100 peças de sua autoria, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro. A exposição “Alphonse Mucha: o legado da Art Nouveau” terá entrada franca, mas será necessário agendar previamente a visita.
“Mucha é um desconhecido com uma obra muito conhecida. As imagens que criou fazem parte da nossa cultura visual e, ainda hoje, inspiram muitos artistas”, comenta a cubana Ania Rodrigues, uma das curadoras da mostra, que fez uma visita guiada virtual da exposição, para jornalistas, na semana passada.
A mostra está dividida em quatro ambientes. O primeiro é “Mulheres: Ícones & Musas”. Aqui, poderão ser vistos cartazes dos espetáculos da atriz Sarah Bernhardt, anúncios de marcas de cerveja, cigarros, lança-perfumes, além de embalagens e até caixas de biscoito.
O encontro com Sarah Bernhardt foi um divisor de águas na carreira do até então anônimo publicitário.
A atriz entrou em contato com a agência em que ele trabalhava para encomendar um pôster. Ela pediu para ser atendida por um profissional que já conhecia, mas ele estava de folga e a solicitação acabou nas mãos de Mucha.
Segundo Ania, o pôster que Sarah Bernhardt recebeu ("Gismonda") quebrou vários padrões, para a época, a começar pelo seu formato vertical – usado por Mucha para valorizar a própria artista.
“Ele usou cores delicadas e criou uma auréola em torno da imagem dela. Essa simbologia ele vai passar a repetir nas suas obras”, informa Ania.
A relação prolífica entre Sarah e Mucha, impulsionou a carreira de ambos. Da parte do artista imigrante, foi graças a ela que ganhou fama nas diferentes camadas da sociedade parisiense. Sarah Bernhardt, por sua vez, foi eternizada pelos traços de Mucha e se consolidou como o símbolo feminino de sua época. Ele se tornou, inclusive, o diretor artístico de suas peças.
Em “O Estilo Mucha - Uma Linguagem Visual” estão reunidas obras que ele criava espontaneamente, ou seja, não eram encomendas. Nesse segmento, é possível perceber o que o artista entendia ser a função da arte: algo belo, que deixasse as pessoas felizes e, portanto, com poder de transformá-las.
Ania explica que, aos poucos, Mucha foi se dando conta que era um artista popular porque seus cartazes publicitários simplesmente eram arrancados dos muros e postes, nas ruas, e levados para casa, sendo transformados em quadros.
“Eu prefiro ser um criador de imagens para as pessoas a ser um criador da arte pela arte”, costumava dizer Mucha sobre sua "aceitação popular".
O terceiro ambiente, “Beleza – O Poder da Inspiração” exibe obras feitas em Praga, depois de 25 anos do artista fora do seu país. Naquela época, a República Tcheca lutava pela sua independência do Império Austro-Húngaro.
“Ele cultivava o desejo da libertação do povo eslavo. Assim, em diversos desenhos é possível observar elementos dessa cultura. Figurinos e artigos decorativos do folclore eslavo, formas geométricas, curvas, adereços e certa ausência de profundidade que remetem à arte bizantina estão presentes nessas peças. Era evidente a intenção do artista em aproveitar sua fama para divulgar a força da civilização eslava”, comenta a curadora.
As gravuras dessa época são também um ensaio daquilo que geraria a obra-prima de Mucha: a “Epopeia Eslava”. A série de 20 quadros, em grandes dimensões, produzida ao longo de quase duas décadas, que representa o desejo de divulgar seu povo e sua cultura. Esses quadros poderão ser apreciados, na exposição, mas em forma de projeções. Nessa fase, a mulher-musa dos quadros de Mucha passa a ser Jaroslava, sua filha mais velha, nascida em Nova York (EUA), aqui no quadro "Canção da Boêmia", de 1918.
A última seção da mostra, “O Legado do Estilo Mucha”, reúne peças de artistas que se inspiraram no trabalho deste ícone da Art Nouveau. Por um lado, jovens artistas gráficos de Londres e São Francisco utilizaram o traço característico de Mucha, para refletir a cultura emergente do rock psicodélico em cartazes. Por outro lado, na Ásia, a cultura do mangá também revela uma apropriação do estilo Mucha. Do Japão, destaque para Nanase Ohkawa, Mokona, Tsubaki Nekoi e Satsuki Igarashi, fundadoras do grupo CLAMP e autoras de títulos conhecidos mundialmente, como “Cardcaptor Sakura e as Guerreiras Mágicas de Rayearth”. Representando a Coreia do Sul, a mostra traz desenhos de Ko Yasung, ilustrador das HQs Stigmata e The Innocent; Rhim Ju-yeon, conhecido pelos títulos President Dad e Ciel: The Last Autumn Story.
“Mucha morreu de pneumonia, em 1939, aos 79 anos. Depois da sua morte, ele é esquecido e sua obra é quase perdida por conta de guerras. Em 1963, uma exposição, em Londres (UK), resgata sua obra. Seu trabalho tem impacto imediato para o público dos anos 60 e ele se torna um símbolo do rock psicodélico. A partir daí, o estilo Mucha vira inspiração para vários artistas, até hoje”, afirma Ania.
O “estilo Mucha”, segundo a curadora, se caracteriza por ser uma obra ricamente adornada, emoldurada em uma grande letra Q, com a figura da mulher destacada em um círculo. As belas mulheres estão em poses elegantes, dispostas em composições harmoniosas com flores e outros motivos decorativos que remetem à natureza. São recursos que acabaram por se tornar elementos-chave no estilo Art Nouveau.
Pioneiro da arte gráfica, Mucha se lançava de estratégias usadas, ainda hoje, pela publicidade, que dirigiam o olhar do público para o ponto que quer chamar a atenção – no caso dos anúncios, os produtos que estavam sendo apresentados.
“Ele tinha consciência do impacto da psicologia, estava informado sobre as pesquisas relacionadas com o funcionamento da mente humana. É possível que ele buscasse passar, de forma consciente, mensagem subliminar, principalmente, em relação à libertação do seu país”, observa Ania.
O uso da imagem da mulher para vender produtos, segundo a curadora, também foi uma opção consciente do publicitário Mucha. Começou quando ele teve que "vender" a própria Sarah Bernhardt nos cartazes das suas peças. De acordo com Ania, a mulher, para ele, representava o Belo.
As obras da exposição “Alphonse Mucha: o legado da Art Nouveau” pertencem à Fundação Mucha, localizada em Praga (República Tcheca), e é administrada pelos herdeiros do artista. Ao longo dos últimos anos, essas obras foram temas de mais de 40 exibições pelo mundo, atraindo mais de 4 milhões de visitantes.
Com essa mostra, o CCBB RJ reabre suas portas para o público após seis meses fechado, em função da pandemia do Coronavírus.
Serviço
Alphonse Mucha: o legado da Art Nouveau
De 18 de novembro a 28 de fevereiro 2021
Local: Centro Cultural Banco do Brasil RJ: Rua Primeiro de Março, 66, Centro.
Horários: todos os dias, exceto terças; das 9h às 17h
Grátis
O acesso ao prédio será permitido apenas mediante agendamento prévio. Agende aqui
A permanência no CCBB será por uma hora e meia, a partir do horário de agendamento que constar no ingresso.
O número de pessoas que podem agendar, em cada horário, é limitado.
O uso de máscara dentro do CCBB é obrigatório
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