Espetáculo teatral reestreia com versão criada para a plataforma Zoom
A peça “As Palavras da Nossa Casa” teve sua temporada interrompida, em São Paulo, por conta da quarentena de combate ao Corona vírus. O Núcleo Teatro de Imersão agiu rápido e adaptou o espetáculo para o ambiente virtual. Agora, a encenação é feita na plataforma Zoom. A nova temporada da peça, em versão online, estreia no próximo sábado, dia 18. Os ingressos custam R$ 20.
Originalmente, a peça estava sendo encenada na Casa das Rosas. Como indica o nome do grupo teatral, tratava-se de um espetáculo imersivo: a ação acontecia com os atores caminhando pelo centro cultural, com o público seguindo seus passos.
A dramaturgia, ambientada nos anos 1960, foi criada a partir de vários filmes do cineasta sueco Ingmar Bergman (1918-2007). A principal referência é “Sonata de Outono”, mas há pitadas também de obras como “Através de um Espelho”, “Gritos e Sussurros”, “Morangos Silvestres” e “Face a Face”. Na Casa das Rosas, o público acompanhava a visita de uma mãe à casa da filha casada, depois de um longo período de ausência. O encontro descambava para um acerto de contas.
No ambiente digital, o mote da peça se manteve. A história, porém, passou para os tempos atuais, com direito à “participação” da pandemia que, como na “vida real”, justifica a nova ação da peça. Agora, mãe, filha e marido participam de um bate-papo via plataforma de teleconferência Zoom. O público é “acomodado” dentro da plataforma onde acompanhará o embate entre mãe e filha.
“Na Casa das Rosas, o público era como se fosse um fantasma, pairando próximo de todos nós. Agora, é a mesma coisa. É como se as pessoas entrassem em uma videoconferência alheia”, comenta Adriana Câmara (foto), autora, diretora e intérprete de Eva, a filha.
Ela conta que o maior desafio da adaptação da peça para o ambiente digital foi “destrinchar” os recursos oferecidos pelo Zoom. Quem compra o ingresso recebe um e-mail com um link de acesso ao “teatro” e explicações de como fazer para ter acesso à plataforma. Uma vez “lá dentro”, o público fica em uma “sala de espera” até receber uma primeira imagem. Nesse momento, receberá instruções para manter sua câmera e microfones desativados – é possível participar via celular ou computador. Glau Gurgel, que interpreta o marido e é co-autor do espetáculo, é quem orienta o público. A peça começa quando todos estão tecnicamente corretos. No final, o público é convidado a liberar som e imagem para participar de um bate-papo com o elenco.
“O primeiro desafio de interpretação foi para onde deveríamos olhar. Porque a posição das telas do Zoom trocam de lugar conforme são apagadas e voltam. Optamos por olhar sempre para as câmeras dos nossos celulares. É importante que a câmera do público fique desligada para que a audiência só veja os atores. Se alguém ligar a câmera, será visto por todos e vai alterar a experiência do espetáculo”, explica Adriana.
Como em um teatro “na vida real”, o elenco tem que estar atento e preparado para os improvisos. No domingo passado, durante o ensaio geral, a tela de Gizelle Menon (no alto, na foto, uma captura de tela), que interpreta a mãe, congelou. Em outro momento, ela ficou sem o áudio. Charlote, a personagem, pediu ajuda para a filha e para o genro para resolver os problemas, dizendo que ainda não sabia dominar bem a tecnologia.
Na peça virtual, a cantora lírica Charlote está na sua casa, em São Paulo. Eva e Victor, que é pastor presbítero, moram no interior de Pernambuco. Ele está isolado em um cômodo da casa por ter tido contato com uma pessoa que pegou Covid. Na vida real, cada ator está na sua própria casa.
Quando a peça era encenada na Casa das Rosas, o grupo usava cheiros para reforçar a experiência do público. Café, biscoito de baunilha e perfumes diferentes para os personagens eram alguns dos recursos utilizados. Se isso se perdeu, a nova encenação ganhou, porém, uma vantagem em relação à antiga: pode ser vista de qualquer lugar do país.
“Essa é uma experiência a ser considerada para outras montagens porque reduz custos e leva a peça para mais longe. Minha família, que mora no nordeste, vai poder me ver pela primeira vez”, comenta a pernambucana Adriana.
Serviço
“As Palavras da Nossa Casa”, peça virtual do Núcleo Teatro de Imersão
Temporada: de 18 de julho a 30 de agosto de 2020
Aos sábados, às 21h, e aos domingos, às 20h
Ingressos: R$ 20
Classificação: 14 anos
Duração: 90 minutos
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