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  • Sônia Apolinário

Charme celebra seus 40 anos de bailes com festa em Madureira

Em 2020, o Charme completa 40 anos de baile. Mais precisamente, no dia 8 de março. No Rio, é claro que vai ter festa no bairro referência do ritmo: Madureira. Porém, será no Parque e não no viaduto, o tradicional reduto do charme carioca. Como a data comemora também o Dia Internacional da Mulher, Comunic conversou com uma charmeira para saber como está a participação das mulheres nesse cenário. Leda Kerth está nesse “baile” há 30 anos. Sobre a festa, terá a participação do DJ Corello, considerado o “inventor” do Charme.

Reza a lenda que há 40 anos, no comando de um baile, Corello avisou para o público: “Chegou a hora do Charminho, transe seu corpo bem devagarinho”. O que ele chamou de charminho era um tipo de música mais ritmada, swingada, menos acelerada do que o funk, que começava a circular dentro do repertório da black music.

Naquela época, Leda era frequentadora de bailes funks, de preferência, do Furacão 2.000, em Jacarepaguá, bairro onde ainda mora. Ela lembra que era comum misturar músicas conhecidas com umas que não tinham uma denominação específica.

“Descobri que era esse o ritmo ainda sem nome que eu gostava de dançar. O primeiro baile Charme que fui foi no clube Vera Cruz, na Abolição. Me apaixonei. Vi que era onde eu gostaria de estar, tanto que estou até hoje”, conta ela.

Aos 53 anos, casada, três filhos, ela é uma das integrantes do grupo de dança Essência Black, que criou junto com o marido, Marcelo Kerth, também um dos bailarinos. Além disso, ela dá aulas de charme e produz bailes. Será que precisa dizer que Leda (top branco na foto) conheceu Marcelo (camisa verde) na pista de dança? O casal está junto há 20 anos.

Os outros integrantes do grupo, da direita para esquerda: Marcos Olympio, Michele Luise, Jadir Inácio, Vania Ibraim e Luis Marques.

Voltando no tempo, o charme deriva dos chamados bailes de black music, nos anos 1970, onde se tocava soul e funk, que teve o DJ Big Boy como um dos seus principais propagadores. Esse movimento começou a perder público com a chegada acachapante da moda da Disco Music. Foi justamente para tentar atrair a atenção das pessoas para o baile “tradicional” que o DJ Corello começou a experimentar músicas novas, um soul meio diferente, originário da cidade de Filadélfia (EUA). Foi em um baile no Mackenzie, no bairro do Méier, que ele falou, pela primeira vez, que havia chegado a “hora do Charminho”, um momento que começava a fazer sucesso, nas festas.

Leda conta que durante um bom período, o Charme esteve presente em todos os bairros do Rio de Janeiro e não apenas no subúrbio. Na Zona Sul, os bailes do Scala (Leblon), segundo ela, eram os mais famosos. No Centro, os realizados às quintas-feiras na antiga sede do Bola Preta eram “imperdíveis”. Aliás, foi no Bola Preta que ela e Marcelo se conheceram.

Na gangorra da moda, a Disco Music desce, o Funk sobe, mas o Charme continua correndo por fora, atraindo, “silenciosamente”, cada vez mais adeptos. Foi pela falta de um local que pudesse abrigar um público entre duas e três mil pessoas que o viaduto Negrão de Lima, em Madureira, entra nessa história. O local, até então, era usado para ensaios e apresentações do bloco carnavalesco Pagodão de Madureira. Desde 1990, o viaduto de Madureira abriga o Espaço Cultural Rio Charme onde, todos os sábados, bailes são realizados (foto), dentre outras atividades culturais e esportivas.

Segundo Leila, o número de bailes vem aumentando, em toda a cidade. Ela não tem dúvidas que esse, digamos, redescobrimento do Charme começou com a novela “Avenida Brasil” (2012) que colocou o baile em cena, onde vários personagens dançavam.

Ela admite que, “lá no passado”, os homens é que dominavam o ritmo. Praticamente, só eles ocupavam a disputada primeira fila. Foi em uma primeira fila dessas que Marcelo atraiu a atenção de Leda.

“Lá no passado” também, era preciso usar roupa social para ir a um baile Charme. Homens de terno, mulheres de vestido longo. Jeans e tênis eram impensáveis. Leda conta que ia para os bailes com sapatos salto 15. Agora, “graças à juventude que usa roupa mais despojada”, essas regras de vestuário caíram. Bem como a primeira fila formada somente por homens.

“A mulher vem conquistando seu espaço em vários lugares, inclusive, na dança. Atualmente, a primeira fila é mista. Ninguém convida ninguém para a primeira fila. As coisas vão se arrumando. Quem está aprendendo, o mais comum é ficar nas filas mais atrás. Alguns têm essa vaidade de ficar na primeira fila. Eu não ligo. Dizem que eu danço bem, mas nem sempre fico na frente. O baile é, antes de tudo, encontro de amigos. Estou lá para me divertir e não competir”, afirma Leda.

Ela jura que qualquer pessoa consegue dançar Charme porque existem passos para todos os níveis de habilidade. Por acreditar nisso que, há um ano e oito meses, ela dá aula, aos domingos, no Galpão do Engenhão, no Engenho de Dentro. Atualmente, ela tem reunido cerca de 50 alunos, a cada semana, com idades entre 10 e 76 anos.

Como no passado, ainda são os DJs que fazem a diferença entre os bailes e as mulheres também começam a se fazer mais presentes nessa atividade. Na festa do próximo dia 8, porém, são duas contra sete. O time, encabeçado por Corello, é formado por Cacau, Evelyn, Loopy, Fernandinho, Arthur, Orlando, Guto e Tones.

Cada DJ tem seu estilo, que vai determinar a música do baile: Charme, Hip Hop, Funk Melody, Soul, New Jack, Flasback, música lenta ou misto. Leda conta que é muito fã dos bailes Flasback, que tocam hits dos anos 1970-1980. E sim, vale treinar em casa as músicas que você tem certeza que serão tocadas no baile.

Na festa do dia 8, ela subirá no palco para uma apresentação do Essência Black. O evento contará ainda com outros dois grupos de dança: Crespinhos SA e Cia Mova-se.

No próximo dia 15 de março, na Praça Seca, é ela quem comanda a festa, ou melhor o Essência Black. Será a oitava edição do baile para comemorar o primeiro ano da festa produzida e protagonizado pelo grupo.

“A dança não tem idade nem limite. São momentos para esquecer os problemas e ser feliz. O Charme tem uma sensualidade com glamour. Dançamos todos juntos, os mesmo passos e isso é que é legal. Nos bailes, todos se conhecem. Somos uma grande família”, afirma Leda.

Serviço

Dia do Charme 40 Anos

Local: Palco Principal do Parque Madureira, Rua Soares Caldeira 115 (Praça do Samba)

Data: 08 de março

Horário: das 14h às 21h45

Grátis

Organização: Instituto AVES

Aula de Charme

Galpão do Engenhão - Rua José dos Reis S/N, Engenho de Dentro, RJ

Todos os domingos, das 10h às 11h

Valor: R$ 10,00 por aula

Não é necessário inscrição, é só chegar

Veja como é uma aula, aqui

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