Sites ajudam pessoas a darem match em ações de voluntariado
Participar de ações sociais e ganhar, em troca, ingressos para shows, teatro ou cinema é a forma como a nova plataforma Causei quer estimular ações de voluntariado. Já a veterana Atados busca aprimorar o match entre pessoas e causas e aposta na realização de eventos fora do mundo virtual para chamar a atenção para o tema. No próximo dia 29 de março, por exemplo, o site vai promover o Dia das Boas Ações.
O Causei foi lançado há oito meses. Além das recompensas, a plataforma aposta na gameficação para engajar as pessoas. Na avaliação de um dos seus fundadores, Rodrigo Medeiros, apenas apresentar projetos que precisam de voluntários, em um site, seria pouco para despertar o interesse do público para as questões sociais.
“A primeira barreira que é preciso quebrar para uma pessoa se tornar voluntária é a desconfiança. É preciso ajudar para que haja a identificação com uma determinada causa. Nos tempos atuais, o fator tempo pode ser outro impedimento. Imaginei que uma recompensa poderia ser um bom estímulo para tirar a pessoa de casa e fazer a primeira aproximação com uma instituição ou ação”, comenta Rodrigo, biólogo de formação que se tornou um empreendedor do terceiro setor.
Na prática, ao entrar no site Causei e escolher uma ação social para participar, o interessado terá que cumprir uma série de desafios digitais. No final, quem obtiver mais “curtidas” nas suas mídias sociais ganha o direito de atuar como voluntário na causa que escolheu e, depois, usufruir a respectiva recompensa. É parceiro do Causei a Easy Live, plataforma digital do Grupo Artplan, especializada no segmento de fidelidade.
Na opinião de Rodrigo, a gameficação não afasta o interessado da causa. Ele acredita na “força da diversão” e no prazer que as pessoas têm, atualmente, em “compartilhar suas experiências” nas suas redes sociais. A ideia, explica, é que cada um se torne um influenciador digital que vai ajudar a divulgar a causa do voluntariado.
No Causei, qualquer pessoa pode participar do processo. Na outra ponta, qualquer projeto social também pode se cadastrar no site. Quando isso acontece, porém, um dos atuais cinco integrantes da plataforma vai ao local da ação para conhecer de perto os envolvidos naquela causa. Ele também irá acompanhar o voluntário no dia de colocar a mão na massa. Assim, por enquanto, o projeto tem área de atuação apenas no Rio de Janeiro, com 200 projetos cadastrados. Porém, há planos de chegar em São Paulo e Minas Gerais, no segundo semestre.
Mangueira, Complexo do Alemão, Cantagalo, Maré e Jardim Gramacho foram alguns dos locais onde voluntários já participaram de ações por intermédio da plataforma.
Atualmente, três projetos estão disponíveis para adesões no Causei: Pipa Social (ministrar oficina nesse polo de criação sediado em Botafogo que tem como objetivo capacitar pessoas de baixa renda nas áreas de artesanato e moda. A recompensa é 1 par de ingressos para a rede Cinemark); Rio Eco Pets (triagem de tampinhas. Recompensa: 1 par de ingressos para o AquaRio) e Projeto Voar (Ajudar a servir café da manhã para quem vive em situação de rua. Recompensa: 1 assinatura de 6 meses do ChefsClub, plataforma que dá descontos em restaurantes em todo o Brasil).
Um levantamento baseado nos dois últimos meses de funcionamento do Causei identificou que seus usuários têm entre 18 a 35 anos; 80% nunca tinham feito voluntariado e 75% retornaram para fazer uma segunda ação.
Membro da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável para as Nações Unidas no Brasil (SDSN Brasil) e professor da Pós-graduação em Práticas em Desenvolvimento Sustentável da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Rodrigo espera que, em breve, o Causei tenha marcas patrocinando ações de voluntariado. As empresas, segundo ele, ajudarão a dar sustentabilidade para o negócio e permitirão ampliar a atuação de impacto social da plataforma.
“Os voluntários também são consumidores que já terão se mostrado com alto nível de engajamento social. São pessoas que vão valorizar marcas que tenham responsabilidade social, um comportamento que tem se tornado uma tendência cada vez maior”, afirma Rodrigo, também criador do Clube Orgânico, foodtech carioca que investe na melhoria de produção e ampliação de canais de venda de alimentos orgânicos.
Atados
Criada em 2012 por cinco amigos, em São Paulo, o Atados surgiu a partir de uma ideia “simples”: conectar pessoas a trabalhos voluntários, de acordo com a aptidão pessoal de cada um. Como um Tinder do terceiro setor, as pessoas teriam disponível um “cardápio” de “vagas” oferecidas por instituições a espera de um "match".
Oito anos depois, a plataforma tem 200 mil voluntários e duas mil organizações sociais cadastrados. Desde 2015, atua no Rio de Janeiro. Atualmente, oferece "vagas" também em Brasília e Florianópolis (SC).
“O que motivou a criação do site foi um percepção de que havia interesse por parte das pessoas em se tornarem voluntárias. Porém, não sabiam aonde ir ou a quem ajudar. Do outro lado, havia uma certa má fama em relação às ONGs. Assim, no início, a equipe visitou várias instituições para entender como funcionavam. O que se constatou é que, nesses lugares, eram feitos trabalhos de todos os tipos por pessoas de grande potência, mas que também tinham dificuldade para expor seus projetos, suas necessidades. Daí a ideia de facilitar os encontros entre quem queria ajudar com quem precisava de ajuda”, explica Gabriel de Faro, responsável pela parte comercial e de parcerias do Atados no Rio de Janeiro.
Dos cinco criadores do site, somente um continua trabalhando na plataforma: Daniel Assunção, atual Diretor Geral do Atados. Ele fica em São Paulo onde uma equipe de 30 pessoas trabalha na sede da plataforma, no bairro de Pinheiros. No Rio de Janeiro, a equipe de seis pessoas trabalha no escritório do site, na Tijuca.
O Atados nasceu a partir de um investimento inicial de R$ 20 mil. Gabriel conta que, no dia de lançamento do site, o número de acessos o “derrubou”. Espontaneamente, pessoas de diversas formações passaram a colaborar com a construção e melhoria da própria plataforma que, em 2014, foi acelerada pela Fundação Fenômeno, do jogador Ronaldo.
Foi a partir daí que o Atados passou a remunerar as pessoas que se dedicavam ao site, até então, de forma voluntária. Foi a partir daí também que a plataforma passou a atuar com voluntariado corporativo.
Da fase inicial para os tempos atuais, o principal ajuste de rota, segundo Gabriel, foi em relação à intermediação da equipe nos cadastros:
“A ideia é que as ONGs se cadastrassem e atuassem de forma independente no relacionamento com o voluntário. Porém, muitas não respondiam nem e-mails, por falta de estrutura. Entendemos que era preciso fazer um trabalho de capacitação com elas porque é importante que as próprias instituições se apresentem. Queremos unir as pessoas, mas é preciso que deixem de enxergar as instituições como coitadas. O que as instituições precisam é de ser admiradas. Atualmente, acompanhamos os processos por e-mail. Se percebemos algum problema, entramos em contato. Isso significa que temos um controle, mas não fazemos triagens nem checagens”, comenta.
De acordo com Gabriel, o problema mais comum com o qual se deparam é uma eventual falta de comprometimento por parte do voluntário que, às vezes, vai uma única vez a uma ação e não volta mais.
Até o momento, o perfil de usuários do Atados indica uma predominância de mulheres entre 18 e 45 anos, de diferentes regiões tanto do Rio de Janeiro quanto de São Paulo.
Atrair pessoas mais jovens é, na visão de Gabriel, consequência por atuarem em uma plataforma online. Por isso, no momento, as equipes estão desenvolvendo formatos para atrair pessoas de mais idade para o Atados.
Promover ações no “mundo real” faz parte dessa estratégia. No próximo dia 29, a equipe do site estará na Praça da República, em São Paulo, para promover o Dia das Boas Ações - uma tradição anual que une pessoas de 108 países para colocar em prática a ideia de que cada um pode fazer algo de bom, seja grande ou pequeno, para melhorar a vida de outras pessoas e mudar positivamente o mundo. No evento, o público será convidado a criar diferentes ações a serem realizadas em vários lugares da cidade, que serão executadas ao longo das semanas seguintes.
No Rio, será dada sequência a ações já planejadas como, por exemplo, levar idosos para andar de pedalinho na Lagoa Rodrigo de Freitas, levar crianças para tomar banho de mar, promover limpeza de praias e grafitagem na Rocinha.
No Atados, no momento, há 799 vagas abertas em busca de voluntários que sejam instrutor de mecânica industrial, fisioterapeuta da terceira idade, professor de dança, motorista, assistente social e gestor e marketing, por exemplo.
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