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  • Sônia Apolinário

Produtos plant based, que imitam carne, começam a disputar o mercado brasileiro

É possível que você já tenha visto essa embalagem no espaço reservado para carnes processadas, nos supermercados. Porém, a embalagem informa: “hambúrger de plantas

com textura e gosto de carne”. Para saber do que se tratava, #Comunic entrou em contato com a Fazenda Futuro, produtora desse Futuro Burger. Trata-se do novo negócio do criador do Suco do Bem, que atualmente pertence à Ambev. A marca “de carne”, porém, ganhará concorrentes em breve. Nada menos do que duas empresas prometem também abastecer o mercado brasileiro com opções plant based – como é chamada a produção de alimentos que imitam o cheiro, a cor, a textura e o gosto da carne tradicional: a norte-americana Beyond Meat e a Behind The Foods, criada por brasileiros, nos Estados Unidos.

Fazenda Futuro

A marca produtora do Futuro Burger, lançado no mercado em abril, se apresenta como “primeira foodtech brasileira” que cria carne de plantas “com a mesma textura, suculência e gosto de carne”.

Em entrevista por e-mail para o #Comunic, Marcos Leta, um dos criadores da empresa, afirma que seu produto “não é uma carne de laboratório”:

“O processo é o mesmo de um hambúrguer de origem animal. A diferença, na linha de produção, é que, ao invés de colocar carne na máquina, colocamos um preparado à base de vegetais”, explica.

Esse preparado seria feito a partir de proteínas de ervilha, soja e de grão-de-bico, além de beterraba (para o efeito de “sangue”). O “seria” deve-se ao fato dele não “abrir tantos detalhes” a respeito da tecnologia utilizada na produção da sua “carne do futuro”. Diz apenas que se trata de um “mix de processos tecnológicos”.

A fábrica da empresa fica em Volta Redonda, município do Rio de Janeiro. Sobre os equipamentos utilizados, informa:

"Como nada igual está sendo produzido no Brasil, em escala para distribuição, máquinas feitas originalmente para processar carne animal foram trazidas da Alemanha, por exemplo”.

Marcos conta que foi em 2016 que ele e seu sócio, Alfredo Strechinsky, vislumbraram um potencial para a carne vegetal no Brasil. Foi nesse mesmo ano que eles venderam para a Ambev, o Suco do Bem, empresa que também criaram juntos, em 2007 – Marco ainda é sócio e faz parte do conselho da marca.

A principal fonte de inspiração da dupla teria sido a norte-americana Impossible Foods, que desde 2011, lança carnes e laticínios feitos à base de vegetais com promessa de sabor, aroma e textura praticamente idênticos às “carnes de verdade”. A empresa já produz cerca de 300 toneladas dessa carne, por mês, para atender a uma demanda de 3 mil restaurantes, nos Estados Unidos.

Segundo Marcos, a Fazenda Futuro começou a ser viabilizada em 2017, após três anos de pesquisas. Por que sua primeira “carne do futuro” foi hambúrger?

ML: Acho que o principal ponto é sobre como a criação do Futuro Burger começa com um grande aprendizado e entendimento da própria carne bovina e seus componentes – aminoácidos que compõe a proteína animal, cadeias lipídicas que proporcionam sensação de gordura, compostos voláteis provenientes do sangue bovino, até a caramelização dos açúcares presentes na carne. Tudo isso só foi possível por um misto de testes sensoriais e inteligência artificial.

Quais os próximos passos da Fazenda Futuro?

ML: Depois do lançamento focado no eixo Rio-São Paulo, o aumento na demanda fez com que a startup acelerasse os planos comerciais, ampliando sua presença em redes no varejo e food services, Brasil a fora. Em dois meses, o número de parcerias com lanchonetes e restaurantes saltou de 2 para 28, mostrando que há demanda para alternativas mais sustentáveis e saudáveis aos produtos de origem animal. No total, já são 92 parceiros comerciais entre food services, e-commerce de congelados, redes varejistas e pontos especializados em diversos estados do sudeste, sul e nordeste.

Atualmente, a Fazenda Futuro tem capacidade produtiva para 150 toneladas por mês. Em breve, porém, esse número vai aumentar. A empresa acabou de receber um investimento de US$ 8,5 milhões do fundo brasileiro com atuação global Monashees, que já alavancou negócios como o aplicativo de transporte 99.

Behind The Foods

Está prevista para final de agosto ou início de setembro a chegada, para o consumidor final, de dois produtos da empresa, no mercado brasileiro: uma “carne de modelar” (para produção de polpetoni, almôndega e kafta) e uma carne moída.

A Behind The Foods se define como “a primeira foodtech do Brasil com tecnologia internacional”. Os donos do negócio, os primos Leandro e Malu Mendes, são brasileiros, mas pesquisaram a tecnologia para a criação da marca nos Estados Unidos, onde moraram.

A empresa não atendeu à solicitação de entrevista feita pelo #Comunic. De acordo com informações enviadas ao site, os estudos para a criação das plant based incluíram anatomia veterinária (para entender a composição bio e fisioquímica da carne) e engenharia alimentar (para estruturação do produto final), além de patentes. A Behind The Foods registrou a PT3® ("matriz tridimensional de textura"), criada a partir de uma “fórmula secreta, exclusiva e inédita”

De acordo com a empresa, entender a carne pela sua composição – água, aminoácidos, lipídios, carboidratos e minerais – foi o “grande diferencial”. Assim, a Behind The Foods apostou em “tecnologia proprietária de textura”, capaz de replicar os três principais tecidos da carne: muscular (fibra), lipídico (gordura) e conjuntivo (nervos), como informado pela empresa.

Beyond Meat

Em maio, a empresa norte-americana participou de uma tradicional feira de alimentos em São Paulo. Foi o bastante para gerar especulações sobre sua possível chegada ao Brasil, talvez pelas mãos de um importador.

Se por aqui, a marca criada em 2013 ainda é uma incógnita, lá fora, agita o mercado. Também em maio, a Beyond Meat surpreendeu a começar a negociar suas ações no Nasdaq. A avaliação inicial de US$ 1,460 bilhão.

Desde 2016, a empresa vende no mercado norte-americano um hambúrguer feito com proteínas de ervilha, arroz e feijão, óleo de canola, óleo de coco, manteiga de cacau, amido de batata, suco de limão e beterraba. Logo no começo da sua produção, atraiu como investidores o ator Leonardo DiCaprio e o magnata Bill Gates, fundador da Microsoft.

O Beyond Burger é seu produto mais famoso, mas a marca também comercializa salsichas e preparações para imitar carne moída. Há estudos para criar produtos que imitem, também, as carnes de frango e de porco.

Negócios

Quem está no negócio de plant based não mira apenas o consumidor vegetariano, mas o público em geral. Existem estimativas de analistas de mercado que projetam um futuro mais do que promissor para o comércio desse tipo de alimento: em dez anos, o faturamento corresponderia a 10% do que a atual indústria de carne tradicional arrecada, algo em torno dos US$ 140 bilhões.

Outras estimativas indicam que, até 2040, 60% de toda a carne consumida no mundo será de origem vegetal. Atualmente, cerca de 30 empresas, em todo o mundo, desenvolvem pesquisas relacionadas com esse tipo de alimento.

Esse nicho de mercado foi percebido por empreendedores e investidores por conta de mudanças no comportamento do consumidor, cada vez mais atento aos problemas ambientais acarretados pela indústria da carne. Os principais estão relacionados à grande superfície ocupada pelas áreas de pastagens; a água consumida (tanto por parte dos animais como no processo de produção); os gases de efeito estufa produzidos pela flatulência das reses (14,5% dos emitidos na atmosfera, segundo a Organização de Agricultura e Alimentos da ONU) e a energia necessária durante o processo.

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