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Sônia Apolinário

Mulheres cervejeiras se encontrarão no centro do mundo

Uma rede de mulheres cervejeiras latino-americanas está sendo criada. Em julho, grande parte desse grupo se reunirá no Primeiro Encontro Internacional de Mulheres Cervejeiras no Centro do Mundo. O evento faz parte da Copa Cervecera Mitad del Mundo 2019, que acontece em Quito, no Equador, entre os dias 20 e 27.

Na linha de frente dessa movimentação está a mestre-cervejeira e dona de fábrica Dora Durán. Em entrevista por WhatsApp para Lupulinário, ela explica que tudo começou a partir da ideia de fazer um pequeno encontro de mulheres cervejeiras do Equador, durante a Copa Mitad del Mundo. Não imaginava a repercussão e o interesse que a ideia despertaria em mulheres de vários lugares. O resultado é que representantes de diversos países participarão do Encontro.

“Comecei conversando com algumas cervejeiras que conhecia de outros países,

principalmente, do Peru. Percebemos que existe não apenas interesse, mas necessidade de criação de uma rede de mulheres cervejeiras latino-americanas. Queremos unir mulheres que trabalham nos mais diversos elos da cadeia produtiva da cerveja. Temos que nos conhecer, trocar experiências, nos ajudar. A adesão está sendo muito rápida. Uma foi chamando a outra. Mulheres que não conheço pessoalmente estão se chegando. Tem uma energia muito grande rolando”, conta ela que produz a premiada MUt lager.

O Primeiro Encontro Internacional de Mulheres Cervejeiras no Centro do Mundo será realizado nos dias 22 e 23 de julho, na Universidade São Francisco de Quito. O primeiro dia será reservado para uma apresentação de cada país, a partir de palestra de uma representante. Também serão definidos os temas que nortearão as quatro mesas de trabalho que ocuparão as cervejeiras na manhã do segundo dia do Encontro. À tarde, todas se juntam para a realização de um “painel aberto”, com direito a fazerem muitas perguntas entre elas.

O espaço para as mulheres cervejeiras latino-americanas não é a única novidade da Copa Cervecera Mitad del Mundo deste ano. Nesta quarta edição, o concurso será a atração principal da Semana Cervejeira do Equador, que começa no dia 20 e levará a disputa também para o público em geral, com as cervejas do evento “espalhadas” por diversos bares e restaurantes de Quito.

O concurso propriamente dito, acontece nos dias 23 e 24. É aberto à participação de cervejas artesanais latino-americanas e espanholas. No dia 26, acontece o Festival Cervejeiro, na Praça das Américas, onde, no dia seguinte, também será realizada a premiação do concurso. Ainda no dia 26, como parte da programação da Copa, será realizado um seminário técnico, na Universidade São Francisco de Quito. A organização do evento é da Associação de Cervejarias do Equador, que conta, atualmente, com 44 filiadas.

MUt lager

Mut, em alemão, significa “coragem”. Na mitologia egípcia, é a Deusa-Mãe Universal, a mãe de todas as coisas.

Foi com a cara e com a coragem que Dora entrou para o mundo da cerveja artesanal. No Equador, o “boom” das crafts beers começou por volta de 2013, segundo ela. Foi em 2014, por gostar de beber cerveja e de cozinhar, que decidiu se aventurar na panela de brassagem.

A amiga Melanie Wright virou sócia e, quando viram, já estavam com equipamentos comprados e uma fábrica montada.

“Nos aproximamos desse universo sem ter ideia do que queríamos fazer. Pesquisamos durante um ano. Quando nos decidimos, partimos para fazer nossa cerveja e era a segunda vez que eu brassava, na minha vida. Já fizemos direto na fábrica onde atualmente funciona a MUt Lager. Não sabíamos que tínhamos entrado em um outro universo. Nunca imaginei que iria me apaixonar tanto pela cerveja. Nem sempre é fácil, mas todos os dias acordo com a certeza que quero estar onde estou, fazendo o que faço”, comenta.

A MUt lager é uma Kellerbier, tipo de cerveja alemã que normalmente não é clarificada nem

pasteurizada. É gaseificada naturalmente porque sua segunda fermentação acontece na garrafa, após adição de parte do mosto, na maturação. Depois de engarrafada, fica pelo menos mais três semanas maturando uma segunda vez.

O rótulo, que ganhou o mesmo nome da cervejaria, chegou ao mercado em 2016. No mesmo ano, ganhou medalhas de ouro e prata em concursos no Equador, Chile e México.

Em 2017, Dora passou a fazer parte da Associação das Cervejas Artesanais Independentes do Equador. No ano seguinte, participou da organização do Primeiro Encontro de Associações de Cervejas Artesanais da América Latina, realizado no Equador. Foi nessa época que vislumbrou a possibilidade de fazer algo semelhante, só com mulheres cervejeiras. Agora, faz parte da organização da Copa e, desde o início do ano, articula a Rede Latino-Americana de Mulheres Cervejeiras.

Ela aproveitou que 7 de maio é o Dia Internacional da Brassagem e estimulou as cervejeiras a se juntarem para fazer a primeira produção de cerveja latino-americana simultânea. Oito países, além do Equador, participaram: Argentina, Colômbia, Costa Rica, Panamá, México, Peru, Chile e Brasil. Ao todo, foram produzidos 9.754 litros de cerveja, de oito estilos diferentes, por 145 mulheres.

Atualmente, a rede está composta da seguinte forma:

Brasil

Por aqui, quem esteve à frente dessa ação foi Julia Reis. Ela reuniu seis homebrewers, na sua cervejaria-escola, em São Paulo, e produziram 30 litros de uma Saison. A degustação está prevista para julho, em um evento a ser criado especialmente para isso.

“É importante as mulheres cervejeiras se unirem em grupos ou redes para, não apenas

discutir, como também fomentar o empoderamento e o empreendedorismo. Vivemos em um ambiente patriarcal e a cerveja ainda é uma área masculinizada. No trabalho, ainda escutamos questionamentos em relação à nossa capacidade. As redes ajudam o networking e isso é importante. Os países da América Latina são machistas e a rede é uma iniciativa muito válida para se debater os nossos desafios”, comenta Julia, uma das criadoras e sócia da Sinnatrah Cervejaria Escola, fundada em 2009. Na foto, é a primeira à esquerda abaixada.

Por lá, quando o curso é de técnica de produção, 30% das vagas são ocupadas por mulheres. Já quando se trata de sommelieria, a turma fica equilibrada em meio a meio de presença feminina e masculina. Uma situação, porém, chamou a atenção de Julia para um “interesse latente” de mulheres em busca de conhecimento mais técnico: por conta de uma parceria com a confraria feminina Goose Island Sisterhood, que patrocinou uma turma, as 30 vagas oferecidas se esgotaram em um único dia.

Foi por conta da sua presença em vários grupos de cervejeiras, no Brasil, que Julia chegou à rede latino-americana que está sendo criada. Por uma questão de agenda, ela não poderá participar do Encontro, em Quito. Ainda está sendo definida a participação de cervejeiras brasileiras.

Na sua opinião, essa união entre produtoras da América Latina é importante também por uma “simples” questão: no continente, pouco se sabe o que os países estão fazendo, em termos de cerveja artesanal. Essa troca de informação, acredita, pode ajudar no surgimento de novos negócios.

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