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  • Sônia Apolinário

Tarsila do Amaral e Lina Bo Bardi juntas no Masp

Duas artistas que deixaram suas marcas na história da arte do Brasil e do mundo chegam juntas, amanhã, quinta-feira (4) ao Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand. Uma delas, inclusive, é a autora do projeto do próprio museu. “Tarsila popular” e “Lina Bo Bardi: Habitat” integram o eixo temático “Histórias das mulheres, histórias feministas” que orientará as exposições do Masp, este ano.

Quando Lina nasceu, em 1914, em Roma, na Itália, a brasileira Tarsila do Amaral ainda não era a artista que consagraria o movimento modernista no país. Nessa época, tentava se desvencilhar da vida que estava prevista para ela.

Nascida em uma fazenda em Capivari, no interior paulista, em 1886, Tarsila fez parte da aristocracia brasileira e como tal, concluiu seus estudos na Europa. Precisou separar-se do primeiro marido para deslanchar nas artes. Vários maridos fizeram parte da sua vida.

Entre idas para o exterior e vindas para o Brasil, estudou as técnicas acadêmicas tradicionais no velho continente, onde conviveu com pintores como André Lhote (1885-1962) e Fernand Léger (1881-1955). Em “Tarsila popular”, os curadores Adriano Pedrosa e Fernando Oliva reuniram 120 obras da artista, entre pinturas e desenhos. Cada vez mais, Tarsila (Autorretrato com vestido laranja) voltou-se para personagens, temas e narrativas ligados ao popular no Brasil, como o carnaval, as favelas e feiras livres, além de lendas populares e religiosas.

“A exposição e o catálogo que a acompanha pretendem promover reflexões mais abrangentes sobre Tarsila, articulando sua vida e obra no contexto de uma visão política, social e racial da cultura brasileira e do modernismo, um movimento que, no Brasil, raramente é abordado sob esses prismas”, afirma o curador Fernando Oliva.

A Tarsila vanguardista entrou em cena em 1922 quando, ao voltar mais uma vez ao Brasil, foi apresentada por Anita Malfatti (1889-1964) ao escritor Mário de Andrade (1893-1945), ao futuro marido Oswald de Andrade (1890-1954) e ao poeta e pintor Menotti del Picchia (1892-1988), formando com eles o Grupo dos Cinco, que perseguiu a ideia de uma arte "verdadeiramente nacional".

A exposição apresenta exemplos das três principais fases da pintora. A “Pau-Brasil” é marcada por telas de cores e temas acentuadamente tropicais como “Estrada de Ferro Central do Brasil” (1924), “Vendedor de frutas” (1925) e “Um pescador” (1925), pintura que faz parte do acervo do museu Hermitage, na Rússia, e será exposta pela primeira vez no Brasil.

Em 1926, Tarsila casou-se com Oswald e apresentou sua primeira individual, em Paris. Dois anos depois, pintou “Abaporu”, cujo nome de origem indígena significa “homem que come carne humana", ritual praticado por algumas tribos brasileiras, especialmente os tupinambás. A obra inspirou o Manifesto Antropófago, de Oswald, que propunha a apropriação e deglutição, pela cultura nacional, do legado cultural europeu, para devolvê-lo ao mundo sob a forma de uma produção cultural própria, brasileira. Trabalhos como “Urutu” (1928) e “Antropofagia” (1929) são representativos desse período.

A chamada fase “Social” evidencia a aproximação de Tarsila com as questões políticas e sociais. No início da década de 1930, a artista, empobrecida pela perda da fortuna da família na crise de 1929, teve de se desfazer de obras de sua coleção particular. Assim, reuniu recursos para viajar à União Soviética, acompanhada pelo então marido, o psiquiatra Osório César. De volta ao Brasil, foi presa, considerada suspeita de “atividades subversivas” Esse momento é representado por obras como “Segunda classe” e “Operários”, ambas de 1933.

Paralítica por conta de um erro médico, Tarsila morreu, sozinha, aos 87 anos, em São Paulo.

Lina Bo Bardi

Em 1973, quando a pintora modernista morreu, Lina estava em plena produção, também em São Paulo. Ex-integrante do Partido Comunista Italiano, a arquiteta deixou a Europa por conta da Segunda Guerra. Veio para o Brasil com o marido, o jornalista italiano Pietro Maria Bardi e nunca mais deixou o país, tendo se naturalizado brasileira em 1951.

Lina foi uma arquiteta múltipla. Atuou em frentes diversas como produção de revistas, a

educação, os museus e o que ela chamava de “arquitetura ambiental”: uma arquitetura que buscava se relacionar com o entorno tropical do Brasil. A amplitude de sua produção e de seu pensamento é o cerne de “Lina Bo Bardi: Habitat”.

Acompanha a exposição um catálogo sobre a obra e o legado da arquiteta. O livro, como a mostra, tem versões em português, espanhol e inglês e a co-organização do Museo Jumex, na Cidade do México, e do Museum of Contemporary Art (MCA) de Chicago. As instituições estrangeiras receberão a exposição brasileira, em janeiro e junho de 2020, respectivamente.

A mostra exibe exemplares da revista de arquitetura “Habitat”, produzida por Lina enquanto dirigia o MASP ao lado do marido, também marchand e crítico, além de diretor-fundador do museu. O habitat do título da exposição diz respeito também ao mergulho empreendido pela arquiteta no contexto brasileiro, que procurou entender antes de aplicar aqui as ideias modernistas trazidas da Itália.

“Não se trata de uma exposição somente sobre o trabalho de Lina Bo Bardi como arquiteta, mas, sobretudo, de uma oportunidade de mostrá-la como uma pensadora que atuou tanto na arquitetura e no design quanto no campo editorial, na pedagogia, na crítica e na curadoria”, explica Tomás Toledo, curador-chefe do MASP e um dos três curadores da exposição, ao lado de Julieta González (Museo Jumex) e José Esparza Chong Cuy (MCA Chicago).

A exposição mostra o envolvimento da arquiteta com o MASP e ressalta sua proposta didática e de uma função social para o museu, com a organização de exposições que dessacralizavam obras. O período em que a arquiteta viveu na Bahia não foi esquecido. Lá, criou o Museu de Arte Moderna (MAM-BA) nos escombros de um incendiado Teatro Castro Alves, e o Museu de Arte Popular do Solar do Unhão - edifício cuja escada, feita à maneira dos encaixes de carros de boi, se imortalizou na história da arquitetura brasileira. A arquiteta morreu aos 78 anos, ainda em atividade, em São Paulo.

No MASP, “Lina Bo Bardi: Habitat” ocupará o primeiro subsolo. “Tarsila Popular” ficará no primeiro andar. Ambas poderão ser visitadas até 28 de julho. Até 19 de maio, porém, Tarsila terá a companhia de “Djanira: a memória de seu povo”, que abriu em 1º de março. “Lina Bo Bardi: Habitat” marca também os 50 anos da abertura do MASP ao público. Inaugurado em 7 de novembro de 1968 com a presença da rainha Elizabeth II, o prédio só abriria a sua primeira exposição temporária em 7 de abril de 1969: “A mão do povo brasileiro”, organizada por Lina Bo Bardi, com colaboração de Glauber Rocha, Martim Gonçalves e Pietro Maria Bardi.

Serviço

Tarsila popular

Lina Bo Bardi: Habitat

Abertura para convidados: 4 de abril, às 20h

De 5 de abril a 28 de julho

Masp

Endereço: Avenida Paulista, 1578, São Paulo, SP Horários: quarta a domingo: das 10h às 18h (bilheteria aberta até as 17h30); terça-feira: das 10h às 20h (bilheteria até 19h30) Ingressos: R$ 40 (entrada); R$ 20 (meia-entrada) - menores de 11 anos de idade não pagam ingresso.

O museu tem entrada gratuita às terças-feiras, durante o dia todo.

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