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  • Sônia Apolinário

O gosto de se tornar um beer star

Na última edição do Festival Brasileiro da Cerveja, realizado no início do mês, em Blumenau (SC), o jornalista Ivan Tozzi não conseguiu ficar um segundo sozinho. A todo momento, alguém lhe pedia para tirar uma foto ao seu lado ou se aproximava para conversar um pouco. Foi o verdadeiro beer star do evento e saboreou essa “faminha instantânea”, como ele mesmo define, com tranquilidade. Afinal, esse assédio tem sido comum, desde que venceu a primeira edição do Reality Show Eisenbahn Mestre Cervejeiro, no final do ano passado. Sim, sua vida mudou.

“Recebo muitas propostas, mas sou pé no chão. Estou analisando tudo. Este ano, quero focar mais na cerveja como profissão, mas sem largar o jornalismo. Temos um mercado grande para explorar”, afirma ele que trabalha na Comunicação de uma grande empresa, em São Paulo, e começou a fazer cerveja em 2014, por mero hobby.

Seu lado perfeccionista, porém, fez com que ele encarasse o hobby com disciplina. Melhorar sempre é o seu lema, seja nos equipamentos, seja nos conhecimentos para aprimorar receitas e processos. Afinal, se o objetivo é beber a própria cerveja, ele não vê a menor graça em beber cerveja ruim.

Para Ivan, ter feedbacks das suas bebidas é uma parte importante do aprendizado. Assim, ele participa de tudo quanto é concurso. Em 2015 e 2016 se inscreveu no da Eisenbahn e não foi classificado. Há oito anos a cervejaria, que pertence ao grupo Heineken, promove a competição que ano passado, foi realizada, pela primeira vez, na frente das câmeras.

Em 2017, Ivan se inscreveu outra vez, sem saber que também estava em jogo a participação no Reality Show. O estilo do ano era uma APA, que ele particularmente gosta bastante. Ivan já tinha algumas receitas, mas decidiu que faria uma “com a cara da Eisenbahn”.

“Minha visão da cervejaria é que ela é a porta de entrada para quem começa a beber cerveja artesanal. A bebida não é cara nem extrema demais. São cervejas mais levinhas”, observa.

Ele se inscreveu no último dia do prazo. Fez às pressas o vídeo exigido pelo regulamento, no seu próprio quarto, “muito descabelado e com uma barba horrível”. Produziu a cerveja em menos de trinta dias e saiu de férias. Levou o primeiro susto quando foi informado que tinha ficado entre os 30 selecionados, de onde seriam escolhidos os nove participantes do programa. E eis que se tornou um deles.

Sua primeira providência ao saber que iria participar de um programa de TV? Comprar roupas.

“Eu gosto de rock, cultura geek, quadrinhos, vídeo games. Sou meio moleque. Só ando de camiseta com desenhos relacionados a esses temas, jeans e tênis. A produção reprovou todas as minhas camisetas por conta das estampas. Passamos um dia inteiro só fazendo prova de roupa. No final, apesar das roupas novas, conseguimos nos manter fieis aos nossos estilos”, conta ele, divertido.

Para gravar a primeira fase do programa, foram duas semanas com uma rotina que incluía apenas estúdio e o “confinamento” em um hotel próximo. Sem celular, sem contato com a família. As provas eram informadas dentro do estúdio, na hora da gravação.

Segundo Ivan, o nervosismo e a concentração necessária para a execução da prova faz com que todos se esqueçam que estão cercados por câmeras. Cada episódio exigiu um dia inteiro dentro do estúdio, o que torna o trabalho bastante cansativo. Para ele, uma das provas mais difíceis foi a do lúpulo.

“Quando cheguei no estúdio, senti aquele cheio intenso de lúpulo e adivinhei que teria que identificar a planta usada nas bebidas. O problema é que o ambiente todo estava tomado pelo aroma do lúpulo. Para piorar, as cervejas estavam todas com o mesmo gosto e tinham todas a mesma cor âmbar. Foi muito difícil”, conta.

Avaliar a própria cerveja em uma degustação às cegas também foi um desafio e tanto. Nessa prova, Ivan classificou sua APA em terceiro lugar. Ele acredita que até identificou a sua produção, na análise sensorial. Porém, achou que outra cerveja estava melhor:

“Resolvi partir para a sinceridade e isso não me prejudicou. O jogo existe, mas tem que jogar limpo. No meio cervejeiro, todos se ajudam”.

Ivan admite que, de cara, detectou no engenheiro mecânico Fernando Azevedo o vencedor em potencial do programa. E torcia para que ele fosse eliminado, para aumentar suas chances. Ele mesmo só passou a acreditar que poderia vencer quando ficou entre os quatro finalistas. Foi justamente contra Fernando que Ivan disputou a prova decisiva: coube ao público da Oktoberfest de Blumenau (SC) indicar qual a bebida preferida, em uma degustação às cegas. Ivan venceu com 53,3% dos votos.

“No início, não tinha expectativa de vencer. Já me sentia um campeão por ter ficado entre os nove participantes do programa. Todos os dias, achava que iria dançar. Sempre ganhei as provas por muito pouco, estava sempre batendo na trave. Quando me vi com apenas mais três concorrentes, acho que decidi entrar no jogo para valer”, afirma.

Até chegar no estúdio, ele não conhecia nenhum dos participantes. Conta que, agora, todos são amigos. Sempre que podem, saem juntos para beber. Foram juntos para o Festival Brasileiro da Cerveja e ficaram todos na mesma casa que alugaram, em Pomerode, cidade distante 30 quilômetros de Blumenau .

Quando seu nome foi anunciado como vencedor, Ivan deu um berro e soltou um tremendo palavrão – devidamente retirado, na edição.

Como prêmio, viu sua cerveja chegar às prateleiras de lojas e supermercados com o nome

que ele mesmo batizou a bebida, no rótulo da Eisenbahn. Three Hills é uma APA com 5,5% de teor alcoólico e 42 IBU. A receita leva predominante malte Pale e os lúpulos americanos Amarillo, Cascade, Citra, e Columbus, com dry hopping. O nome, explica Ivan, é uma homenagem à cidade paulista de Franca, onde morou por muitos anos. Foi lá que conheceu sua esposa Michele e onde nasceu seu filho Lucas, atualmente, com 7 anos.

Até julho, ele está sob contrato com a cervejaria e a Endemol, a produtora do reality show. Ivan conta que não é obrigado a somente beber cerveja da Eisenbahn, mas é claro que não pode fazer propaganda de marcas concorrentes. Também pode continuar a participar de concursos, desde que não tenha vínculo com marcas de cerveja. E ele diz que continuará a participar de todos que puder.

Está prevista a realização de uma segunda edição do reality, com inscrições a partir de julho. Competir outra vez, está fora de cogitação, segundo Ivan. Mas ele admite que adoraria “mudar de lado” e participar como avaliador das cervejas, na nova temporada da atração.

Aos 43 anos, o jornalista pretende partir em busca da sua própria marca da bebida. Atualmente, trabalha para reativar seu blog. O novo Blog do Tozzi deve estar no ar em abril. Ele conta que a principal mudança será de enfoque. Os assuntos muito técnicos deixarão de ser prioridade. O jornalista, agora, quer falar sobre cerveja “para o público em geral”.

Voltar a estudar também está nos planos. E beber muita cerveja, é claro. Até porque, agora, o que ele mais ganha é cerveja – quase sempre de alguém que lhe pede para avaliar a bebida.

“Quem sou eu para rejeitar cerveja. Quem quiser mandar, será muito bem-vindo. Só aviso que sou sincero no feedback”, comenta.

Sobre o momento “beer star”, ele prefere encarar não como tendo ficado famoso, mas como uma pessoa que ganhou “um monte de amigos”.

“A gente não bebe cerveja sozinho. A cerveja é uma forma de reunir amigos. Tenho conhecido muita gente legal. Esse é o espírito da cerveja”.

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