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Sônia Apolinário

Bloco Alegria sem Ressaca comemora 15 carnavais "limpo" e sem recaída

Se é verdade que cerveja rima com carnaval, em pelo menos um bloco, no Rio de Janeiro, é muito remota a possibilidade de se encontrar alguém sambando com uma lata da bebida na mão. No Alegria Sem Ressaca, que sai domingo (28), às 9h, em Copacabana, os integrantes são dependentes químicos em recuperação, seus familiares e profissionais da saúde. Em 2018, o bloco comemora 15 carnavais “limpo”.

Foi o psiquiatra Jorge Jaber quem teve a iniciativa de criar o bloco. Especializado em dependência química em Harvard (EUA) e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, ele conta que a ideia surgiu em conversas com profissionais de saúde e pessoas interessadas em mostrar que é possível haver recuperação para o uso abusivo de álcool e drogas.

“O carnaval é um período em que há um certo abuso. Na verdade, é uma festa caracterizada por excessos de uma maneira geral. Nesse período, há um alto índice de acidentes por conta do consumo elevado de álcool e drogas. Há 15 anos, quando tivemos a ideia do bloco, o objetivo era chamar a atenção para o excesso de consumo de substâncias químicas”, conta Jaber, ex-presidente da Associação Brasileira de Alcoolismo e Drogas.

Ano passado, o Alegria sem Ressaca reuniu três mil pessoas. O bloco não desfila, apenas se concentra na Avenida Atlântica, esquina com a Rua República do Peru, onde músicos da velha guarda da escola de samba Unidos de Vila Isabel animam os foliões. Um dos convidados deste ano é Mendonça, ex-jogador do Botafogo, que viveu um período de internação para se livrar do consumo de drogas. Também estarão presentes 17 integrantes da Pelada Rubro-Negra.

Jaber avisa que não se trata de um “bloco flamenguista”. A participação dos rubro-negros deve-se ao fato de existir, no clube da Gávea, um grupo ligado a ações de prevenção a uso de drogas, com atuação social nas comunidades de Manguinhos e Jacaré.

Caberá a Ellen de Lima o posto de madrinha do bloco deste ano. Não, ela não teve problema com drogas, segundo Jaber. Ele explica que o motivo do convite para a eterna rainha do rádio participar do "desfile" é prestar-lhe uma homenagem por conta dos seus 80 anos.

O psiquiatra afirma que os ambulantes costumam respeitar o bloco. Quem fica por lá, oferece água e refrigerante para os foliões. Porém, pessoas com latinhas de cerveja na mão já se chegaram para sambar no Alegria sem Ressaca. Jaber afirma que ninguém é expulso, que o bloco é “democrático”.

“Quem sai na rua nesta época, é impossível não se deparar com pessoas bebendo. No carnaval, há um apelo muito forte para o consumo de bebida alcoólica. No bloco, estão pessoas que fazem tratamento juntas. Há uma equipe de apoio, então, essas pessoas se sentem mais seguras para participar do carnaval”, afirma Jaber.

Em relação à cerveja sem álcool, ele observa que, primeiro, nenhuma delas é completamente sem álcool. Em segundo lugar, quem está em tratamento deve evitar o chamado “hábito da ativa”. Beber cerveja sem álcool, explica o psiquiatra, aproxima a pessoa da bebida, “o que pode provocar uma recaída”.

E por incrível que pareça, o Alegria sem Ressaca já foi procurado por uma cervejaria que se propôs a patrocinar o bloco.

“Nós fazemos um encontro simples, sem grandes produções. Durante duas horas, as pessoas se divertem, se alegram e fazem uma atividade física. E nós levamos a mensagem que o excesso não é bom. Admito que muitas pessoas que consomem álcool não sofrem problema algum. Porém, nesta época, o apelo é muito forte para os que sofrem influências negativas pelo consumo de álcool. As cervejarias poderiam agir com mais responsabilidade social. Poderiam alertar para os riscos do consumo da bebida e oferecer endereço e telefone de grupos do AA (Alcoólicos Anônimos)”, sugere Jaber que, este ano, deixará a tarefa de “animador” do bloco para o jornalista Cadu Freitas.

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