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  • Sônia Apolinário

Primeiro livro de jovem brasileira é duplamente premiado nos EUA

A mensagem comunicando que “O Grande Assaltante” tinha sido duplamente premiado no International Latino Book Awards 2017, realizado em Los Angeles (EUA), entrou na caixa de e-mail de Alice Dias em um sábado de madrugada, quando ela estava dormindo. Somente no domingo, ao acordar, ela leu a notícia.

Alice já tinha sido informada pela organização do evento que seu livro estava “no páreo”, na categoria infanto-juvenil. Inclusive, foi orientada a participar da cerimônia de premiação para, caso viesse a vencer, pudesse receber seu prêmio. Às suas próprias custas, comprou a passagem aérea, mas a “temporada” de furacões a impediu de voar até os EUA.

Quando escreveu “O Grande Assaltante”, Alice tinha 16 anos. Estimulada por uma amiga, ela procurou várias editoras, sem sucesso. Arriscou mandar para a Chiado, em Portugal e, dez dias depois, recebeu a proposta comercial da editora portuguesa. Seis meses depois, o livro estava lançado e a editora deixou por conta de Alice a divulgação. Foi ela também quem tomou a iniciativa de inscrever seu livro na premiação.

“Fiquei muito surpresa quando fui para a final. Os concorrentes eram de vários países diferentes, todos com muito mais apoio, inclusive de seus governos. Já que estava na final, achei que poderia ganhar na categoria infanto-juvenil. Vencer também na categoria de ficção, concorrendo com outros livros já inscritos somente nessa categoria foi muita surpresa”, afirma ela que mora em Taguatinga Norte, cidade satélite de Brasília.

Alice conta que sua mãe lhe contava que, antes mesmo de aprender a escrever, ela, pequenina, era uma excelente contadora de histórias. Assim que aprendeu a escrever, começou a contar as histórias nos seus cadernos. Quando as folhas acabavam, o caderno ia para o lixo. Até que ganhou um computador e suas histórias começaram a ficar arquivadas.

Uma delas foi parar em um pen drive que acabou sendo emprestado para uma amiga do colégio, Paloma. A amiga se deparou com “O Grande Assaltante” e leu toda a história. E não sossegou enquanto Alice não começou a fazer contatos com as editoras.

“Nasci com um chamado para vários tipos de arte. Também desenho e canto. Mas não ligo, são hobbies. As histórias, escrevia, mostrava e jogava fora. Não dava valor. Quando minha amiga insistiu que eu devia publicar, de imediato, tive medo de mandar para as editoras. Se eles não gostassem, eu ia ficar triste”, conta Alice que, além do seu português impecável, fala inglês, espanhol e “um pouco” de francês.

Sim, ela também nasceu “com um chamado” que lhe permite aprender línguas com facilidade. Nasceu também com uma professora particular em casa, que não suporta erros de gramática. Sua mãe Luzia é professora de Português e Inglês.

Filha única, Alice foi criada com dois primos, Rafael e Luna, que considera como irmãos. Durante um bom tempo, todos moravam juntos. Agora, mora apenas com a mãe. E foi na sua casa, com ela e os primos-irmãos que rolou a festa da premiação.

Quando a editora Chiado enviou a proposta de publicação, mãe e filha correram atrás de um advogado. Afinal, nunca tinham assinado um contrato editorial antes. Alice escreveu “O Grande Assaltante” aos 16 anos e sempre o encarou como uma obra voltada ao público infanto-juvenil. Quando o livro foi publicado, em dezembro de 2015, ela já tinha 18 anos.

Seu primeiro contato com o público foi na Bienal do Livro de Brasília. O problema é que, quando seus leitores chegavam no estande para pegar autógrafos, não acreditavam que ela era a autora. E tome-lhe explicações.

Alice conta que seu livro recebeu críticas positivas. Porém, não vendeu muitos exemplares. A Chiado publicou, mas deixou a divulgação por conta da jovem que, admite, não soube o que fazer a respeito. No momento, seu livro é vendido apenas pela internet. E como não vendeu muito, as livrarias não o querem nas suas lojas.

Atualmente, Alice cursa Relações Internacionais na Universidade Católica de Brasília. Sua nota no ENEM lhe garantiu uma bolsa que permitiu o ingresso na instituição de ensino particular. Porém, seu sonho, mesmo, é viver de suas histórias, ser escritora profissional.

Ela conta que muitas pessoas lhe dizem que é impossível viver de livros no Brasil. Alice afirma que, se conseguir ser escritora profissional, terá como hobby ensinar. Sim, ela também tem “um chamado” para lecionar.

- Afinal, de onde você tira tantas histórias?

- Não sei. Eu fico pensando em coisas e sai. Uma pessoa fala alguma coisa comigo, eu reparo em uma palavra e fico pensando sobre ela. Quando vi, já fiz um livro inteiro. A história de “O Grande Assaltante” saiu a partir de uma conversa com meu primo. Ele falou “até onde as pessoas podem ir por amor?” e eu fiquei pensando nisso. Escrevi para colocar ordem nos meus pensamentos.

A trama de “O Grande Assaltante” gira em torno de uma série de sequestros de moças que abala a rotina de uma pacata cidade “no meio do nada” que tem a jovem Amanda como prefeita. Antes de sonhar com a premiação, Alice já tinha escrito sua continuação. Na verdade, a continuação e sua continuação também. Por enquanto, sem previsão de serem publicados.

“A premiação está mudando um pouco as coisas. O próprio concurso está me dando algumas orientações e já vejo algumas possibilidades. O prêmio foi um reconhecimento porque, no Brasil, a gente não é valorizado”, comenta ela.

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