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  • Sônia Apolinário

Uma família unida em torno da cerveja

Junte um químico, responsável pela tinta do dinheiro que circula no país, e uma professora de Geografia e, é claro,o resultado só poderia ser uma cervejaria, não é mesmo? E no caso dela, cerveja estava longe de ser sua bebida favorita. A história da Cervejaria Caseira de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, é formada por ingredientes típicos de um romance: tem sorte, coincidências, oportunidade, união, amor e brigas, muita brigas porque ninguém é de ferro.

Wallace Pereira Leite e Fabiana Ruas foram contaminados pelo “vírus cervejeiro” graças a um casal amigo. Há cinco anos, viajaram para Petrópolis para comemorar os 20 anos de casamento. Lá encontraram com esses amigos. Ele, também químico; ela, mestre cervejeira, e ambos funcionários de grandes cervejarias. Na Bauernfest – uma das principais festas germânica do Brasil – Wallace viu o amigo fazendo uma cerveja. Na mesma hora, rolou aquela química. Foram horas de conversa desvendando as relações entre a profissão de ambos e a arte de produzir cerveja.

“Até aquele momento, eu costumava beber cervejas diferentes para tentar descobrir as diferenças entre elas. A Fabiana nem isso. Ela só gostava de caipirinha e Coca-Cola. Fiquei encantado com a ideia de produzir cerveja. Até porque, ser químico ajuda muito. Saimos comprando o kit completo de cervejeiro caseiro. Gastamos uns R$ 3 mil. Veio coisa que nunca usamos até hoje”, conta Wallace, 44 anos, fã de carteirinha das Lagers.

Na primeira brassagem, ele já começou inventando moda. Optou por fazer uma Cream Ale, uma variação de Pilsner, feita em alta temperatura com utilização de levedura Lager. Detalhe, ele não tinha o aplicativo BeerSmith que facilita a vida dos cervejeiros na hora de criar e equilibrar a receita. Levou mais de 10 horas para fazer 40 litros. Segundo Wallace, o resultado foi uma “tipo Heineken”. E isso não é propriamente um elogio. E veio a primeira briga.

“Depois dessa primeira brassagem, eu disse que nunca mais faria outra lá em casa. Onde o mosto cai, forma uma lama no chão. É muita sujeira”, observa Fabiana, 41 anos, amante de Trippel e seu elevado teor alcoólico e uma das líderes da confraria Mulheres do Malte.

Ela mesma não levou sua reclamação muito a sério. Ao contrário. Praticamente na mesma época dessa primeira experiência, largou a sala de aula e passou a se dedicar à cerveja. Três anos depois, em 20015, a Cervejaria Caseira de Santa Cruz foi criada, a partir de uma reforma feita na própria residência do casal.

O local é um verdadeiro polo cervejeiro. Além de brassar para outros “paneleiros”, eles promovem cursos e workshops. No verão, a produção chega a mais de mil litros por mês, para atender as encomendas de cerveja feitas especialmente para festas particulares.

Foi na época da inauguração da cervejaria que Fabiana começou a beber cerveja. Até então, ela conta que seu prazer era fazer a bebida e ver a felicidade com que as pessoas a consumiam. Foi também nessa época que ganharam de presente o tal BeerSmith. Mais ainda.

Foram campeões do Cervejantes, um reality show cervejeiro, com uma Witbier de pitanga.

E a filha do casal? Tayná Ruas, de 22 anos, até agosto do ano passado não dava a menor bola para essa produção de cerveja e muito menos gostava da bebida. Porém, acabou se aproximando. Começou a ajudar os pais e, atualmente, brassa sozinha os mais variados estilos de cerveja. Se tornou rata de cursos, apaixonada por IPAs e integrante da confraria Cervejeiras Cariocas.

Ao longo dos anos, as receitas de Wallace foram ganhando fama. Porém, a sua maior fama é mesmo a der ser o Rei da Gambiarra. Essa habilidade de improvisar utilizando o material que estiver por perto ele diz que tem desde criança.

“Não existe equipamento caseiro perfeito. Sem gambiarra, o investimento seria muito mais alto”, afirma ele que se orgulha, particularmente, do sprinkler de incêndio que transformou em instrumento para fazer recirculação ou a clarificação do mosto.

Apesar de todo esse sucesso e crescimento, Wallace ainda mantém seu emprego na Casa da Moeda. Ter o próprio rótulo? Quem sabe. Ele diz não fazer planos porque, seu objetivo com a produção de cerveja é se divertir.

“Se eu começar a me aborrecer, pulo fora”, afirma ele que faz parte da C4G, Confraria Cervejeiros Caseiros de Campo Grande, ao lado da mulher e da filha.

“Fazer cerveja não tem glamour. É um trabalho braçal, pesado. Quem faz é porque gosta”, comenta Fabiana que prefere conduzir suas brassagens sozinha. “Se fizermos juntos, brigamos, porque cada um vai querer fazer de uma maneira diferente”.

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