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  • Sônia Apolinário

Jornalista usa referências reais do Rio para escrever seu primeiro thriller de ficção

Um thriller urbano ficcional, mas cheio de referências reais ao Rio de Janeiro e ao jornalismo, de uma maneira geral. Assim é “Primeira página – conflito na Baiana”, livro que marca a estreia como escritor de José Maurício Costa, não por acaso, um jornalista que nos últimos 25 anos trabalhou nas redações dos principais jornais diários da cidade.

A história começa quando uma repórter atende um telefonema na redação do jornal onde trabalha. Do outro lado da linha, uma criança pede socorro. Conta que sua mãe acabou de ser baleada na rua, que tem 9 anos, está sozinha em casa e mora no morro da Baiana. Protagonista da história, a jornalista se chama Clara Gabo. O sobrenome é uma homenagem ao célebre escritor e jornalista colombiano Gabriel García Márquez cujo apelido era Gabo. Morro da Baiana é uma das favelas do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Tudo isso é ficção, mas absolutamente factível. Sim, as pessoas ligam para redações de jornais, rádio e televisão, sim, também pedem por socorro.

Para chamar a atenção para o seu projeto, ainda na fase inicial, o autor - que assina o livro como JM Costa - criou um “book trailer” com uma encenação realista do telefonema, protagonizada pela sua filha e uma sobrinha. Estava para ir ao ar, no ano passado, quando aconteceu um fato praticamente idêntico ao narrado de forma ficcional. Ele adiou o lançamento.

“Achei que as pessoas iriam confundir tudo e ainda iriam pensar que eu estava me aproveitando de uma tragédia para promover meu livro. Achei melhor esperar. Fiz o trailer com o objetivo, mesmo, que as pessoas achassem que era real, que ficassem com dúvidas. Foi bem recebido, mas, agora, com o lançamento do livro, com mais visibilidade, tenho que ficar atento para não deixar dúvidas que se trata de uma peça de ficção”, comenta Costa que, nos últimos sete anos, foi chefe de reportagem do jornal Extra.

Apesar de constar do título do livro, o morro da Baiana na história é totalmente ficcional. O mesmo acontece com várias outras referências reais a equipamentos urbanos do Rio de Janeiro. E o jornal onde a protagonista trabalha, Diário Carioca, é outra homenagem ao jornalismo. Fundado em 1928, foi pioneiro ao modernizar a forma de se produzir notícia. De oposição ao Governo, o diário não sobreviveu ao regime militar instalado em 1964. Um então jovem Cartola foi contínuo do jornal.

Há anos, Costa acalentava a vontade de escrever suas próprias histórias. O primeiro passo, deu em 2014, quando se inscreveu em um curso de autopublicação para “conhecer o mercado de livros”. Pesquisou várias plataformas digitais e optou pela Wattpad “por conta da interatividade que permite com o leitor”. Lá, ano passado, publicou seu “Primeira página” em capítulos.

“Optei direto pela autopublicação porque entendi que é muito difícil um autor desconhecido ser, de cara, lançado por uma editora. E quando acontece de se interessarem, eles têm uma programação. Um livro pode levar até um ano e meio para ser publicado. Não estava disposto a passar por isso. Como iniciante, eu tinha que conquistar o leitor e a plataforma me ajudou muito por conta dos retornos que tive”, explica.

Ele conta que, quando começou a publicar na Wattpad, 90% da sua história já estava pronta. A plataforma permite que os leitores deem “likes” e comentem trechos específicos da trama. Costa publicou um capítulo por dia. Conquistou 7 mil leitores e 200 seguidores. Com esse resultado, sentiu “confiança na história”. Acrescentou dois capítulos “para encorpar” o projeto, respirou fundo e partiu para o próximo passo: o livro impresso.

E lá foi ele para outra plataforma digital. Dessa vez, a Kickante, de financiamento coletivo. Sua campanha, que ficou no ar por dois meses e meio, não bateu a meta de R$ 8 mil, mas chegou bem perto: arrecadou R$ 7,1 mil e garantiu uma venda antecipada de 130 exemplares dos mil que planejara imprimir.

Com o livro físico na mão, o digital saiu do ar, certo? Errado. “Primeira página” continua disponível gratuitamente na Wattpad, sem os “pequenos detalhes de acabamento” da versão impressa.

“Nesse momento, o mais importante para mim é conquistar leitores. Estamos sendo engolidos pelo meio digital, mas o livro físico ainda é importante. Na ficção, principalmente entre os jovens, é comum experimentar a história no digital e, quando gostam, compram o livro impresso”, afirma Costa, de 44 anos, atualmente, produtor na TV Record e que já começou a escrever sua segunda história.

Com o livro físico na mão, a missão do autor está encerrada, certo? Errado outra vez. Agora, Costa vai pegar seus livros, colocar debaixo do braço e apresentá-lo em feiras literárias, faculdades de jornalismo, eventos em geral. O único local onde seu livro dificilmente vai ser encontrado será em uma livraria, pelo menos, nessa fase inicial. Segundo explicou, um autor iniciante e independente não consegue visibilidade em uma livraria, “onde as editoras pagam para ter seus títulos em destaque”. Assim, as vendas começam amanhã, dia 24, diretamente pelo site do autor.

SA: Como se sentiu quando os livros foram entregues na sua casa?

JMC: É um sonho materializado, mas apenas a conclusão de uma primeira etapa. Digamos que agora tenho meu cartão de visitas. O grande trabalho começa agora, no relacionamento com o público. Deve ser ótimo se ocupar apenas de escrever com toda uma equipe cuidando do background. Porém, isso é para alguns, não para quem está iniciando.

SA: Acredita que sua história vai agradar quem não é jornalista?

JMC: A história diverte, prende e faz pensar. Acredito que o livro vai ser lido de uma forma pelos jornalistas e de outra forma pelas outras pessoas. Nós jornalistas sabemos os filtros pelos quais um acontecimento passa até a sua publicação. O título é uma homenagem também aos jornalistas que, na sede de contar boas histórias, sonham com um espaço na primeira página. Clara é uma heroína porque é ética, tem senso de justiça aguçado. Nós jornalistas estamos bem representados.

SA: Por que optou por uma jovem repórter como protagonista?

JMC: Sempre gostei da forma como as boas repórteres apuram casos difíceis, usando seu senso de observação aguçado, sua capacidade de conciliar várias informações e tarefas simultâneas. Quis conciliar essas qualidades com a impetuosidade de uma jovem repórter, em início de carreira, que tem aquela sensação de que pode mudar o que está errado no mundo com o seu trabalho. A Clara é isso. Um furacão, com um enorme senso de Justiça e vontade de fazer o bem. A mídia é tantas vezes massacrada. Quis mostrar ao leitor que o jornalista que está lá na ponta é, de um modo geral, uma pessoa bem intencionada que se incomoda com o que está errado, que se sacrifica para tentar melhorar a sociedade.

Ouça o book trailer

Leia o livro no Wattpad

Gabriel García Márquez, verbete

Diário Carioca, verbete

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