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  • Sônia Apolinário

Cartas de amor do casal Mignone se tornam livro romântico

Em uma época em que ninguém mais escreve cartas, ainda mais cartas de amor, a troca de correspondências de um casal vai levar as pessoas de volta ao passado. Nesse novo tempo, será possível acompanhar o romance entre o maestro paulista Francisco Mignone e a pianista paraense Maria Josephina Mignone, tendo o Rio de Janeiro como cenário para essa história romântica. Aos 94 anos, a viúva desse que foi considerado o maior regente das Américas, lançou o livro “Cartas de Amor”, que narra uma parte do que ela e o marido viveram ao longo de mais de 20 anos de união. Morto em 1986, o ano de 2017 marca o 120° de aniversário de Francisco Mignone.

O livro é composto por cerca de 140 cartas trocadas entre eles. Nascida em Belém do Pará, a pianista passou em um concurso e ganhou uma bolsa para estudar no Rio de Janeiro. Na nova cidade, Maria Josephina foi aluna, inclusive, de Liddy Chiaffarelli Mignone, então mulher do maestro. A professora morreu em 1962, em um desastre aéreo. Dois anos depois, aos 66 anos, Francisco Mignone se apaixonou por Maria Josephina, então com 41 anos.

“Quando ele ministrava uma aula inaugural na Academia Lorenzo Fernandez, eu era professora de lá e assisti à sua apresentação, tendo-o encontrado no elevador, ao final. Foi ele quem começou a escrever cartas. Eu sempre respondia correspondendo ao amor que nos uniu. Essas cartas comprovam o amor que nos alimentou em nossas vidas”, conta ela.

Casados, tocavam piano juntos, em casa. Daí para a formação do Duo Mignone foi um passo. O Duo se manteve ativo por 14 anos, até a morte do maestro. Maria Josephina diz que não sofreu qualquer tipo de preconceito por ser artista, nem encontrou dificuldades ao longo da existência do Duo.

“Tocar com Francisco Mignone era sempre falar de amor. Tínhamos entrosamento pessoal e musical”, comenta ela que, ainda hoje, toca quase todos os dias, além de “estudar com disciplina de horário” quando vai participar de alguma gravação ou apresentação em público.

O que a motivou a fazer o livro foi seu desejo que o público conhecesse a “pessoa” Francisco Mignone que existe por trás do “gênio”, “além de deixar registrada para a posteridade”, sua vida romântica e cotidiana com ele.

O trabalho foi realizado em três meses. Segundo ela, o mais desafiador foi “a evocação de todas as memórias e o tempo maravilhoso, mas passado, às quais as cartas se referiam”.

Ela ainda hoje segue se correspondendo com amigos “por escrito”, enviando cartões em datas comemorativas. O fato de praticamente ninguém mais escrever cartas é encarado com certa naturalidade por ela, que acredita que as “facilidades da vida atual” como internet, televisão e suas novelas, absorvem o tempo das pessoas e as impedem de escrever cartas, “menos ainda cartas de amor...”.

SA: A senhora acabou de completar 94 anos. Quais os cuidados que toma com sua saúde?

MJM: Não penso neste assunto porque tenho muita energia e saúde física e mental. Procuro viver naturalmente, sem preocupar-me com a minha idade, afinal, ela é apenas um número. Gosto do contato com a natureza, da leitura, da vida social e dos meus amigos, procurando sempre realizar os concertos no Centro Cultural Francisco Mignone, entidade que criei em Copacabana, com sede própria e de utilidade pública.

Responsável pela preservação da obra do maestro, compositor erudito e ex-adido cultural do Brasil na Itália, ela reuniu 1027 peças, o que não representa toda a produção porque algumas obras estão “tristemente desaparecidas”. Os manuscritos foram doados para a Biblioteca Nacional, enquanto as partituras estão à disposição do público na Academia Brasileira de Música.

Na sua opinião, o maior desafio na preservação desse acervo é a “disponibilização do material para a divulgação aos jovens músicos interessados em tocar a música de Francisco Mignone”.

“Ele foi um gênio. Deixou para a humanidade sua obra que, indubitavelmente, reflete sua alma de compositor e grandiosidade”, afirma.

Agora, Maria Josephina cogita a possibilidade de lançar outro livro. Dessa vez, reunindo correspondências que Francisco Mignone trocou com personalidades da cultura brasileira, como o escritor Mario de Andrade, por exemplo, Além disso, ela que é tida pelos críticos como a intérprete ideal de Francisco Mignone, cuida da continuação da gravação dos CDs que integram a “Coleção Mignone” – já lançou quatro dos 23 que planejou.

“A princípio era apenas simpatia ... E eu fico a pensar até onde essa simpatia chegou. Ela tem um ritmo secreto

que estabelece a comunhão entre dois seres."

Francisco Mignone, verbete

Ouça Maria Josephina Mignone interpretando a

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